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In The Flesh – 1×02

Por: em 28 de março de 2013

In The Flesh – 1×02

Por: em

As pessoas se convencem de qualquer coisa, querida. Enxergam somente aquilo que querem acreditar.”

Comecei a curtir séries há alguns anos atrás como forma de entretenimento. As redes de televisão aberta continham uma programação que cada vez me interessava menos e a possibilidade de assistir um episódio atrás do outro, fugindo de propagandas, me conquistou de vez. Experimentei de tudo um pouco até que precisei selecionar preferências por falta de tempo. Enquanto em algumas tudo que procuro são alguns minutos de diversão desconexa com o mundo real, consigo vibrar quando um roteiro retrata de forma tão singular as mazelas da nossa sociedade. Numa safra de séries novas que variam de fracas a medíocres, a britânica In The Flesh dá um show que merece aplausos de pé.

Apesar de muitas perguntas ainda não terem sido respondidas, como o renascimento apenas dos mortos em 2009 como zumbis, novos personagens foram introduzidos e renovaram a dinâmica da série tornando o episódio tão rico em metáforas que uma review não poderá transcrever todas. O que mais me impressiona é a capacidade que as pessoas têm de ignorar problemas, enxergando a existência dos mesmos apenas na vida alheia e continuando a sua como se nada tivesse acontecido. A série mostra essa dinâmica de duas formas diferentes através das famílias de Rick e Kieren. 

Quando Bill esteve na cerimônia e anunciou a volta do filho eu tive a impressão de que ele carregaria a bandeira da causa dos parcialmente mortos e possivelmente seria apedrejado por todos que o seguem. Mas a série fez melhor que isso, mostrando o quão fortes sentimentos de intolerância podem ser, mesmo que as pessoas vivam uma situação em que necessitem praticar a tolerância dentro de seu lar.

Com todos no bar tratando Rick com tanto amor e simpatia, restou claro que ninguém se importava com quem ele realmente era, mas com seu pai. Não estou dizendo que as pessoas não devem ter orgulho de suas famílias, mesmo porque eu tenho muito orgulho da minha, tanto do lado materno quanto paterno. A questão aqui é tratar de maneira diferente pessoas de condições iguais, levando-se em conta o berço em que nasceram.

Bill é um homem machista e ignorante. Será que ele vai aceitar seu filho parcialmente morto e provavelmente gay por quem ele é ao invés da figura de macho alfa com habilidade no manuseio de armas e consumidor de bebidas através da qual Rick está se escondendo? O jovem parece lutar constantemente na tentativa de conciliar a pessoa que ele com a imagem projetada por seu pai orgulhoso. Sinto que toda essa calma no ceio familiar não durante até o final da temporada, que acontece no próximo episódio.

Os pais do Kieren também tentam desesperadamente agir como se nada tivesse acontecido. É impressionante como o pai desvia do assunto desde o começo do dia quando o garoto comenta de forma geral sobre a noite anterior, onde a senhora vizinha foi morta brutalmente no meio da rua por ser portadora da “Síndrome do Falecimento Parcial”, e se limita a falar do clima. E as cenas de almoço em família com Kieven simulando ingerir comida?

Tive medo de que toda aquela falta de jeito do pai pra aplicar o remédio resultasse numa crise zumbi do Kieren, provando que todos devem temer e, por fim, exterminar os portadores da SFP, mesmo que estejam se tratando. Esconder o garoto no armário poderia ser, além de um fator que desencadeia um flashback macabro no Kieren, uma metáfora no sentido de ignorar sua opção sexual?

De onde surgiu tanto ódio em Jem? Sabemos que ela não perdoou o irmão por cometer suicídio sem deixar sequer um bilhete, mas será que vai além disso? Por que a família não cremou o garoto? Esse website com mensagens me intriga, quero muito saber a origem e real intenção de quem criou essas pílulas azuis. Foi isso que o colega de quarto de Kieren na clínica tomou antes de cuspir sangue?

A melhor adição no elenco da série é, sem dúvidas, Amy Dyer. Despojada e destemida, ela não se intimida de forma alguma com os habitantes da cidade e enfrenta sem medo quem a olha com críticas. As cenas do parque de diversão trouxeram um pouco de leveza à vida dos dois e foram o motivo da saber sobre a volta de Kieren. Aliás, é estimulante como a garota leva tudo numa boa e, considerando que morreu sem querer, a condição de portadora da SFP lhe trouxe uma segunda chance na vida. Quero saber mais sobre a história de Amy além do fato de ter falecido de leucemia. Será que seus pais morreram atacados pelos zumbis?

Quando Kieren e Rick estavam juntos em cena, era fácil de ignorar o estado “parcialmente morto” de ambos, tamanho meu encantamento com a história dos dois. Apesar de não demonstrarem explicitamente um relacionamento que vai além da amizade, tudo nos leva a crer que é um amor recíproco, mesmo que não declarado pra todo vilarejo de Roarton. No começo do episódio vemos Kieren com um postal enviado por Rick e os dizeres finais  “Esse problema com meu pai, eu resolverei, prometo.” Todas as cenas envolvendo os dois foram trabalhadas de uma maneira tão singela e natural que fiquei assustada com o número e a intensidade dos comentários negativos.

Pessoas com os mesmos pensamentos dos habitantes de Roarton estão mais presentes no meu dia-a-dia do que eu imaginava. Se In The Flesh fosse protagonizada por uma garota pobre que se suicidou porque amava um garoto rico de família rígida que foi pra guerra e morreu, ou se fosse uma garota negra apaixonada por um branco de pai racista, todos estariam comovidos e satisfeitos com o roteiro? Se a sua resposta é sim, essa é mais uma prova do motivo porque as discussões propostas por In The Flesh merecem ser tratadas com mais frequência.

Afinal de contas, ambos tratam de situações parecidas: relacionamentos discriminados pela sociedade. Talvez seja mais fácil aceitar uma pobre com um rico ou vice-versa e no mesmo sentido um branco com uma negra ou vice-versa porque, de certa, isso vem sendo trabalhado aos nossos olhos durante muito tempo. O racismo ainda existe, embora de forma menos acentuada (bem, talvez de forma silenciosa e isso seja mais perigoso, mas enfim, não vou render pra não me desviar muito de In The Flesh). Seguindo esse raciocínio, fica minha esperança de que a homossexualidade, num futuro não muito distante, seja visto com olhares e críticas menos ferozes e invasivas.

Lembro de ter lido um texto da cronista Danuza Leão certa vez no qual ela dizia que “a capacidade de sentir é um bem precioso”. Ninguém é obrigado a pensar e sentir como a maioria e pra assegurar isso temos o tom divino dos pensamentos silenciosos e intocáveis, onde podemos e devemos guardar tudo aquilo que possa ofender diretamente outro ser humano se dito em voz alta ou escrito publicamente. E se guardar na mente não for suficiente, existe sempre a possibilidade – e necessidade – de se manifestar com educação.

Estou ansiosa para ver o outro lado do vigário com todo o seu discurso inflado sobre revelações. Acima de tudo, porém, me preocupa o que está realmente acontecendo dentro da cabeça de Bill Macy. Os zumbis “in natura” encontrados na floresta são um bom mistério a ser desvendado. Foi impressão minha ou havia uma certa doçura na criança? Seriam eles a prova de que, mesmo sem tratamento, os parcialmente mortos não são um grande perigo à raça humana e só querem sobreviver? Teremos alguma surpresa sobre a humana que deixa Kieren transtornado em seus flashbacks? Como tudo isso vai ser resolvido em um único episódio que eu não posso imaginar. Tudo o que me resta a fazer é observar e desfrutar. Não conhecia nada de Dominic Mitchell e com uma produção já sou uma grande fã.


Andrezza

Mineira apaixonada por séries policiais, dramas jurídicos e séries teen de qualidade (Saudades, Greek!).

Belo Horizonte - MG

Série Favorita: Grey´s Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: House

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