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Roots

Por: em 1 de junho de 2016

Roots

Por: em

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Remakes são uma tendência de Hollywood. Basta olhar os Upfronts deste ano para notar que os canais não estão perdendo chances de trazer clássicos de volta à vida, e é difícil não discutir se essas adaptações são realmente necessárias e se essas produções devem ser mexidas. No entanto, algumas histórias merecem ser contadas novamente e a de Kunta Kinte é uma delas.

A primeira adaptação do romance “Roots: The Saga of an American Family” de Alex Haley foi exibida pela ABC em 1977 e sua importância para a história da televisão americana ainda é lembrada. De acordo com o medidor Nielsen, 51,1% das casas americanas (cerca de 135 milhões de pessoas) ligaram suas televisões para assistir ao episódio final da série. Poucas séries ou minisséries conseguiram bater ou ultrapassar essa impressionante audiência, e hoje as séries mais assistidas não atingem 10% das famílias americanas.

40 anos depois, Roots trilha um novo caminho na televisão. Exibido pela History, Lifetime e A&E, o primeiro episódio do drama é um retrato cruel da escravidão americana, mas também uma narrativa emotiva da transformação de um indivíduo em escravo.

A primeira vez que vemos Kunta Kinte (Malachi Kirby), ele já é escravo, mas ainda não tem total consciência do que isso significa. Vemos seu corpo deitado no que parece ser espaço dentro de um navio e entre tanto outros corpos, ele é o único que se rebate. Assim, nos deparemos com a condição imposta para que o narrador (voz de Laurence Fishburne como o autor da obra) nos conte que nem sempre foi assim.

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Diferente de muitas histórias sobre escravidão, Roots nos lembra que essas pessoas vendidas e tratadas como animais têm vidas que precedem a violência e humilhação. Por isso, a série se preocupa em estabalecer a história de Kunta como um guerreiro Mandinka em Juffure, cidade da África Ocidental; e em apresentar todas as faces (política, educação, religião) desse primeiro cenário. Kunta tem família, paixões, sonhos e responsabilidades que são ignorados quando é sequestrado para ser vendido como escravo.

Outra preocupação é que a história contada seja a visão de Kunta sobre o mundo que habita. Em diversas cenas, a série privilegia o movimento e as sensações através da câmera sempre se movendo e da imagem desfocada. Mas é ao se concentrar em seu protagonista ao focar em seu olhar ou ao deixar o seu ponto de vista evidente que a série ganha qualidade.

O primeiro episódio pode ser dividido em três partes (a vida de Kunta em Juffure, no navio e em Virgínia, Estados Unidos), mas em todos os momentos a identidade do protagonista é o tema central. “Você não pode comprar um escravo, você tem fazer um escravo”, diz um capataz para Kunta depois da sua primeira tentativa de fuga. E para isso acontecer, muita violência é usada.

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Mas outro elemento importante para tornar alguém escravo é entender como o sistema escravocrata funciona e é interessante perceber que Kunta não compreende as regras a que é submetido e sempre acha que pode superar o que é imposto a ele. Kunta não reconhece o medo aos mestres, já que a sua suposta superioridade não é verdade para o guerreiro, mas teme as suas armas. É claro que, eventualmente, suas pequenas batalhas são vencidas, mas Kunta resiste mesmo quando aparentemente não existe mais esperança.

Logo, o primeiro episódio é também sobre resistência. Parte da transformação de Kunta está na aceitação do seu nome de escravo, Toby. Quando nasce, o pai de Kunta afirma: “O seu nome é seu espírito, o seu nome é seu escudo”, por isso Kunta resiste tanto para aceitar essa mudança e só assente depois de diversas chicotadas na cena mais forte e violenta do episódio. “Não importa como os mestres te chamam, você é Kunta Kinte por dentro”, consola Fiddler (Forest Whitaker).

No entanto, a série peca quando o assunto é ritmo. Mesmo com diversas cenas de ação, os 97 minutos são facilmente sentidos, a história não cresce e os momentos de clímax se perdem na duração do episódio.

De qualquer forma, é fácil imaginar que a produção sofra um pouco com o tempo (a minissérie tem dois episódios a menos que a adaptação de 1977) para acomodar todas as nuances dessa história, afinal Roots é uma experiência extremamente subjetiva de uma parte da história americana que pode parecer batida, mas ainda precisa ser lembrada a todo momento.

Os outros três episódios da minissérie serão exibidos pela History, A&E e Lifetime nesta semana (e terão reviews no Apaixonados por Séries) em noites seguidas até o dia 02. Conhecia a história de Kunta? Já conferiu ou pretende conferir o primeiro episódio? Deixe seu comentário!


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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