“É hora de separar as real queens das basic bitches“.
Na minha última colaboração aqui no mundo de RuPaul, substituindo a real queen Lais Rangel, terei a honra e a tarefa de destrinchar o famigeradíssimo Snatch Game. Foi um episódio bastante bom, com um Snatch Game um pouco acima da média, e cheio de bons momentos. A passarela, a ressurreição do flop da Noite das 1000 Madonnas do ano passado, também foi um ponto positivo (mesmo com dois pares de looks repetidos, isso serve pro drama). Mais uma vez, não vou conseguir fugir da reclamação da edição: a apresentação do desafio e algumas conversas de RuPaul com as queens na workroom (das poucas que não foram cortadas da exibição na TV) foram mais corridas que o Usain Bolt nas Olimpíadas. E, como geralmente acontece nos episódios de Snatch, não tivemos minichallenge, então engole em seco e segue em frente.
Com as perucas preparadas, fomos para o Snatch Game. E, surpreendentemente, tivemos três grupos muito claros em termos de nível de performance; os hits, os flops, e os just okay. Entre os hits, tivemos Alexis arrasando quarteirões com sua interpretação impecável de Liza Minelli, cheia das nuances na expressão vocal, o look no ponto e as piadas também. Assim também esteve a menina Sasha, que conseguiu adaptar Marlene Dietrich para o contexto de entretenimento barato que é o Snatch Game. Importante também dizer que ambas arrasaram o look da Madonna, escolhendo a faceta da carreira da rainha do pop que mais combinava com sua drag. Pegando a rabeira dos hits, temos Nina, que totalmente arrasou com Jasmine Masters. A questão é que o desafio não foi tão grande, já que elas são fisicamente parecidas, tem a voz parecida, e Jasmine é uma queen, o que a coloca totalmente dentro do contexto do desafio. Sabe aquela história de que pra ganhar o Oscar de atuação, seu papel precisa ser desfiador, totalmente diferente do que você é? Aqui vale também. Imaginem que a Jasmine de Nina é o DiCaprio nos filmes do Scorsese e RuPaul e Michelle Visage são os velhinhos da Academia. Sem contar que a tentativa de “Ninificar” Madonna falhou, não só porque o look de Trinity estava melhor, mas porque faltou um corte mais polido.
As performances just okay foram boas, aliás, provando que foi um bom Snatch Game. A Alyssa de Aja não foi nada superinovador, mas as piadas e a caracterização do look estavam boas e coerentes, ainda que a maquiagem tenha passado um pouco longe. A Amanda Lepore de Trinity foi menos uma Amanda Lepore e mais uma versão extremamente caricata e autocomplacente dela própria, o que não foi nenhum problema, já que as piadas foram engraçadas. Quem também arrasou com piadas super coerentes foi Shea e sua Naomi. O look e a make estavam bons também, a expressão corporal foi sutil e no ponto; era só uma caracterização mais significativa na expressão oral, e ela estaria junto com Nina nos hits. Quem me desapontou foi a menina Valentina, que escolheu uma personagem absolutamente unidimensional e passou quase esquecida no episódio. Entendo a ideia de que a ex-futura Miss Universo seja uma personalidade latina de peso, mas ela só tem um tópico: o cartão errado. Valentina soltou três piadas, todas parecendo uma releitura da anterior. Uma pena, porque Valentina poderia ter consolidado seu lugar de frontrunner com uma personagem mais cheia de camadas, como, não sei, Sofia Vergara?
Por fim, os flops. Cinthya, conforme o mundo previu, fez alguma versão dela mesma e disse que era uma interpretação. A gongada de Ru na workroom – “ok but when you’re gonna start doing Sophia” – foi a maneira mais bela de colocar esse problema dentro do tempo do programa. O problema das outras duas queens flop, Farrah e Peppermint, foi uma atitude fria no set e uma certa distância das piadas que virariam com a respectiva celebridade. Peppermint me decepcionou bastante, porque Nene Leakes é uma versão polida – e mais desafiadora – de Jasmine e, mesmo que Pepper não seja imitadora, ela poderia apostar no “fazer eu mesmo só que diferente” que Nina emplacou, por exemplo.
Alexis venceu, Cinthya no Bottom, ok, nada de surpreendente. A disputa da outra vaga no Bottom ficou entre Farrah e Peppermint. Com o look da menina Moan arrasando nos mínimos detalhes, e o look da menina Mint com pouca polidez e parecendo uma releitura das últimas duas passarelas, a decisão pareceu justa. E foi aí que Peppermint inventou a atitude e o entretenimento arrasando cada segundo da performance de Music. Nem lembrei que Cinthya tava dublando também, tamanho foi o grito com a performance de sua concorrente. Slay! E aí ficou difícil pra menina Cinthya, que já tinha perdido semana passada e tava só cumprindo tabela mesmo.
Depois de falar de performances e looks, é importante falar de alguns processos de “construção de personagem” que rolaram nas conversas da workroom, nos desafios e no Untucked. Primeiro, a sutil construção de Alexis como uma espécie diferenciada de “vilã” da temporada. Com um clima super amigável entre as queens, presenças grandes e barulhentas como a de Alexis (e da saudosa Eureka) se tornam alvo imediato de críticas. E foi o que Farrah, Aja e Peppermint fizeram no Untucked, aumentando uma história começada lá na distribuição de papeis no desafio das Kardashian. Outro “personagem” desenvolvido foi o de Nina. Com um desafio bem sucedido, era hora de realmente virar o jogo e deixar a negatividade de lado. Ela ensaiou fazer esse processo, mas quem realmente fez alguma coisa para mudar essa situação foi Shea, com seu esporro definitivo e magnânimo, e a produção, que trouxe a mensagem da mãe numa clara tentativa de fazer miss Bo’nina acordar pra vida. Os efeitos disso tudo só veremos nos próximos episódios. Fica também o adendo do momento de vulnerabilidade do episódio, que Peppermint revelou sua transsexualidade para as colegas, o que acrescentou muito à dinâmica de fraternidade que vem se desenvolvendo na workroom.
Agora, finalmente, vamos ao ranking da semana?
9º – Farrah Moan: histórico ruim, não costura, lipsync apenas ok. Rostinho bonito nunca fez ninguém ganhar Drag Race não.
8º – Peppermint: tá naquele momento em que ou o jogo vira ou desaba tudo na cabeça dela. Torço pro primeiro, mas não confio.
7º – Aja: a evolução dos looks e da maquiagem, OH MY GOD, mas o histórico não está traduzindo essa evolução ainda. Continua aqui na parte de baixo.
6º – Nina Bo’nina Brown: conseguiu uma posição alta essa semana e tem uma vitória na manga. Mas vai precisar deixar a narrativa da negatividade de lado de uma vez por todas se quiser sobreviver com força pela competição. As outras bichas tão sedentas e não vai dar pra ficar fazendo a dramática não.
5º – Trinity Taylor: histórico irregular, mas parece que o momento dela na competição ainda não chegou. Sinto uma vitória chegando.
4º – Alexis Michelle: com essa vitória, garante um histórico impecável até agora, conseguindo se destacar não mais só pela língua grande, e por duas semanas consecutivas. Sem contar a traminha vilanesca plantada nos últimos episódios que pode dar o que falar.
3ª – Sasha Velour: histórico, personalidade, talento. Ainda não teve um grande momento mas nenhum grande motivo para temer por ora.
2ª – Valentina: não hitou essa semana, mas está consolidadíssima no papel de boa moça carismática que lhe foi designado. Quer mais finalista que isso?
1ª – Shea Couleé: parece então que os rumores estavam certos…
Semana que vem, Laís está de volta para a cobertura de RuPaul’s aqui no Apx, gente. Foi um prazer e may the best woman win!
