Será que é possível fazer história sem quebrar as regras?
A resposta talvez se torne mais clara quanto mais nos aproximarmos do capítulo responsável por eleger qual será a grande vencedora da segunda edição de RuPaul’s Drag Race All Stars. Já que com a desistência de Adore e a eliminação “precoce” de Tatiana o jogo se afunila, ganhando velocidade e reacendendo a disputa entre as as setes queens restantes! E se muita gente havia se maravilhado com a apresentação de um dos mais memoráveis Snatch Game, na semana passada. O episódio desta semana vem apenas reforçar o que já podíamos esperar das produções sob o comando de MammaRu: superação.
A busca constante pelo aperfeiçoamento da maneira de se contar boas histórias, atrelada a ares cada vez mais próximos de super apresentações – como o uso de singles divertidos e cheios de duplo sentido, coreografias e o bom e velho lip sync – fizeram de HERstory of The World um dos mais bem executados episódios da atual temporada da Drag Race.
Não por acaso o episódio inspirado nas grandes figuras femininas da humanidade, faz renascer o brilho e a grandeza de uma das participantes mais carísmaticas a passar pelo reality, Alyssa Edwards. E se desde o controverso resultado da semana passada – sim, achei injusto ela não ter ficado entre as duas melhores – vimos que era preciso reconhecer – de alguma forma – todo esforço que Edwards tem feito até aqui.
A oportunidade de permitir que ela demonstrasse novas facetas, ajuda a recriar sua própria imagem. Apresentando um lado muito mais divertido daquela que um dia teve sua trajetória marcada e por vezes restringida, pelo episódio à Miss Colômbia com sua “nêmesis” Coco Montrees. Confirmando que os anos e a fama só fizeram bem à Alyssa.
Disposta a de fato reescrever seu nome na história do reality, a trajetória de Edwards contrasta diretamente à tentativa um tanto falha de outra queen em busca de um propósito um pouco diferente, redenção. Não que PhiPhi não tenha demonstrado um crescimento tão ou melhor que Edwards, se compararmos o trabalho artístico criado por O’Hara em seu instagram, por exemplo. O fato é que boas histórias exigem a construção de conflitos, disputas, mocinhas e vilãs. Cabendo mais uma vez à edição, qual a melhor forma de se produzir isto.
A grande questão aqui é que parte do discurso inicial de Phi Phi tem perdido espaço para os constantes jogos mentais e estratégias indiretas usadas pela queen para derrubar suas oponentes. No entanto, mais uma vez coube à edição do programa, aproveitar da situação criada ali para expor algo um pouco mais complexo e cada vez mais forte socialmente falando, a onda de ódio muitas vezes propagada através das redes sociais. Desmistificando a ideia de que tudo são flores na vida das apadrinhadas de RuPaul.
Mas se em partes a mesma edição vem recriando PhiPhi como vilã da temporada. A atitude de Edwards de salvar Katya muda as regras do jogo. Não tivesse Alyssa desbancado Detox – que diga-se de passagem tem arrasado cada dia mais nos montações pra runway, desde seu look preto e branco na final da sua season de estreia – tudo trancorreria bem, em um espécie de jogo O’Hara contra todas.
O ponto agora é que a frágil política da boa vizinhança foi derrubada. E se antes parecia ser este o parâmetro a ser seguido para eliminar as participantes. Deixo aqui uma única certeza, a de que Edwards pode e será cobrada.
E mesmo que eu ainda acredite no favoritismo de Alaska para esta edição – pelo menos ela parece ser a menina dos olhos de MammaRu. O bom reality sabe aproveitar suas oportunidades. E é justamente este o maior dos acertos de RuPaul’s Drag Race. Ajudando a aumentar diretamente o tom novelesco da prometida proposta de revenge, personificada esta semana por uma fierce Ginger.
Verdade seja dita, a qualidade das apresentações e os trabalhos entregues têm sido algo maravilhoso de assistir, me fazendo esquecer do erro que foi a primeira edição de All Stars.
A boa notícia é que daqui a pouco já tem review nova saindo por aqui, então não deixa de contar pra gente o que está achando desta temporada de All Stars! Ah, e RuPaul Charles finalmente teve seu mérito reconhecido ao vencer, no último dia 11, uma das categorias do Emmy com a Drag Race.
