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Second Chance – 1×06 Palimpsest

Por: em 23 de fevereiro de 2016

Second Chance – 1×06 Palimpsest

Por: em

Palimpsesto. Esse talvez seja o melhor nome de episódio em uma série. Palimpsesto é um pergaminho que sofreu raspagem da tinta, para que se possa escrever uma coisa nova nele. Não é algo simples de se ver por aí, o uso dessa palavra. Mesmo nos meios acadêmicos, você não encontrará com facilidade. E é um nome realmente apropriado para se abordar uma questão traumática como a que acontece no episódio. Após um trauma, você muda de tal forma que passa a ver a vida e as situações cotidianas de uma forma completamente diferente. O trauma é o ato de raspagem do si para a inscrição de um indivíduo bastante diferente.

O que temos como essência do episódio é um ato de violência contra a mulher, realizado por um cirurgião plástico com alguns problemas de sociabilidade (sendo bondoso com o cara). É bem importante notar que não é só a questão da violência física, não é só dopá-la e a prender numa cadeira pra fazer dessas Body Modifications sem o consentimento dela. É uma violência emocional, e das bem planejadas. Ganhar a confiança e pedir uma acompanhante de luxo em casamento, pra depois violenta-la, é vil. Não só pelo fato em si, mas por todo o histórico de problemas psicopatológicos que esse tipo de profissão gera. O vilão do episódio ainda resolve fazer tudo o que faz.

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Isso para não falar da maneira que Otto age quando percebe que Pritchard está com uma desconhecida em roupas de corrida em sua casa. Talvez se formos pelo lado da mentalidade socialmente infantil, e, portanto, egoísta, do nosso amigo gênio, possamos explicar que ele não se sente confortável com mulheres, que ele, apesar do ciúme que sente de sua irmã com o Xerife, não aprova o relacionamento do Herói com outra mulher. Teríamos que ir longe ao tratamento da questão, e talvez até seja possível encontrar um embasamento nesse termo. No entanto, não me agrada essa visão, uma vez que Otto fala de sexo naturalmente, ao explicar que sua irmã está dormindo com Connor, o dono de outra poderosa empresa. É mais uma questão de rivalidade com Pritchard, pelo que parece. Ao ponto de se negar a ajudar a investigação utilizando “Arthur”. Voltando ao ponto, ainda há destrato e uma leve discussão no qual você é o ponto em questão, após um evento traumático. Definitivamente, a moça tem muito azar.

E isso tudo não é exatamente a constante raspagem da mulher que Jilly era? A Jilly do início do episódio se altera de forma bastante visível, de modo que, ao final, ela já aparenta ser um tanto mais agressiva e isolada. Da mesma forma, vemos um James Pritchard jovem como um Palimpsesto do que era o velho. Um pai mais presente, menos cínico com o mundo, para não falar da própria questão física. Jilly seria usada pelo Cirurgião como um palimpsesto físico, Real. Ele a desejava como um monstro, ele desejava que ela fosse igual. Porém, o simbólico, com toda a certeza, a modificou muito mais profundamente. No final das contas, a mudança ocorreu, mas não como era o desejado.

O que achou do episódio? Deixe seu comentário!


Vinicius Scoralick

Historiador, cinéfilo e psicanalista de séries. Duelista profissional de Yu-gi-oh!. O nerd que você jamais imaginou. Uma mistura de Zizek com Schopenhauer.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Black Mirror

Não assiste de jeito nenhum: Shonda Rhimes

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