Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Second Chance – 1×10 Geworfenheit

Por: em 26 de março de 2016

Second Chance – 1×10 Geworfenheit

Por: em

Traição. Traição por todos os lados. E não é pouca. Esse episódio explica melhor o porquê de Alexa ser a pilantra que é, solidifica a relação de Pritchard com Mary e, mas não menos importante, mostra quão perigoso pode ser Connor Graff. Se antes achei que Alexa teria que jogar contra seu amor, terminei me enganando redondamente. O senhor mostra que tem uma coragem de poucos, pra eliminar o problema pela raiz. E isso termina por fazer com que a jovem senhora (me perdoem) mude de lado bem mais rápido do que se pensava.

Um dos melhores pontos pra se compreender um episódio é procurar o sentido de seu título. Second Chance tem surpreendido com os seus. Geworfenheit é um termo do Dasein, isto é, a Ontologia Heideggeriana. Como tudo em Heidegger, é mais complicado do que parece. Tentando explicar rapidamente, Ontologia é a área da filosofia que estuda o ser. Assim, o Dasein é o “do ser” Heideggeriano, que se trabalha de inúmeras formas através da metafísica e da fenomenologia, sendo ambas bem complicadas no pensamento desse polêmico alemão. O Geworfenheit significa, basicamente, numa tradução “porca”, porém facilitadora, “ser lançado”. O que é “Ser lançado”?

Bem, é estar consciente de que a vida é simplesmente “existir” e caminhar em direção ao fim, isto é, a morte. É perceber que não há um sentido, um “fim em si” na existência. Você simplesmente é uma sequencia de acontecimentos caóticos, sem uma predestinação ou coisa do gênero. É a alienação do sentido romantizado de vida. Lembrando o clássico “Clube da Luta”, de Chuck Palahniuk, para trazer um pouco mais para a contemporaneidade, você não é um floco de neve, você não é especial. Sim, o mundo é vil; não, você não tem culpa de estar onde está. Você foi lançado neste momento por um passado no qual não tinha poder sobre. E, lembrando, isso é uma questão metafísica, não materialista.

Trazendo isso para o seriado, elimina-se um pouco do romantismo da galera que vê o renascimento de Pritchard e a cura de Mary como um símbolo da predestinação do relacionamento desses. Um, já velho, rejuvenescido, sendo o único com o gene compatível; o outro, com o capital para financiar esse tipo de tecnologia. O Geworfenheit é um “calem-se, tolos” para esses. Ele simboliza bem esse renascimento, não só de Pritchard, mas de Alexa e de Albert Lin. O de Alexa mais ainda, visto que foi um corpo jogado fora por Otto e reutilizado por Connor. Ela é, verdadeiramente, o lixo que, por uma série de fatos desordenados, foi reutilizado por Connor e voltou a ser “funcional”. Assim, a ligação de Alexa e seu marido é ainda mais simplória. Ele completou sua caminhada em direção ao fim, e o seu não-sentido de existir se completou de uma maneira muito mais simples de se compreender. George compreendeu o que é  “ser” e completou seu estado de “ser levado”, fazendo com que Alexa desenvolve-se a percepção de que sua “empreitada de amor” realmente não possuía sentido, ou, se o possuía, não ia além de satisfazer a sua própria retomada do processo de “ser”, após ser esvaziado do seu próprio caminho.

E isso cria o questionamento: qual será o resultado da empreitada de Jimmy? Após a justificativa de sua volta dos mortos ter se realizado, a cura do câncer de Mary, como irá ele preencher o “não sentido” de existir após o esvaziamento de seu próprio ser? Opinem!


Vinicius Scoralick

Historiador, cinéfilo e psicanalista de séries. Duelista profissional de Yu-gi-oh!. O nerd que você jamais imaginou. Uma mistura de Zizek com Schopenhauer.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Black Mirror

Não assiste de jeito nenhum: Shonda Rhimes

×