“A verdadeira violência, a violência que eu percebi ser imperdoável, é a que fazemos com nós mesmos quando estamos com medo de ser quem somos de verdade.“
As vezes a gente começa uma série assim, no escuro, sem saber muito o que esperar. Muitas vezes a decepção é grande. Outras, é amor a primeira vista; assim foi comigo e a série Sense8, do Netflix, mais nova obra prima dos irmãos Andy e Lana Wachowski (trilogia Matrix).
Imagine que um dia você acorda e não é mais só você. Começa a ouvir músicas que não estão tocando por perto; sente sabor de café mesmo sem este tocar a língua; sente a chuva molhando o rosto enquanto o dia está ensolarado. Essa é a premissa da série, quando oito pessoas em diferentes partes do mundo passam a compartilhar sentidos e pensamentos.
A trama principal é de ficção científica e conspiração, contendo aspectos comuns do gênero responsáveis por gerar o clima de mistério que envolve a produção. Estão lá as habilidades sobrehumanas, o vilão macabro e inescrupuloso, os aliados duvidosos, e o mais importante: as perguntas. Afinal, o que está acontecendo? O roteiro se diferencia pois vai muito além dos aspectos genéricos, englobando romance, comédia e ação de maneira surpreendentemente equilibrada.
Mas o que mais escorre por todas as cenas é um tema ainda maior, e muito pertinente em nossa sociedade ainda intolerante: a diversidade humana. Seja nas histórias das personagens principais, seja na incrível ambientação – que te transporta para outro país no espaço de um segundo – a marca da série é a celebração das diferenças.
A diversidade marca presença, inclusive, entre os oito principais. São eles: Kala Dandekar (Tina Desai), uma farmacêutica em Mumbai; Capheous (Aml Ameen), um motorista de van em Nairobi; Nomi Marks (Jamie Clayton), uma hacker transexual de São Francisco; Wolfgang (Max Riemelt), um arrombador de cofres em Berlim; Will Gorsky (Brian J. Smith), um policial de Chicago; Lito Rodriguez (Miguel Ángel), um ator de cinema na Cidade do México; Sub-Bak (Donna Bae), uma empresária de Seoul que também é lutadora underground no tempo livre e Riley (Tuppence Middleton), uma DJ islandesa residente em Londres.
São perfis a primeira vista inconciliáveis, mas que se percebem unidos como um, aprendendo lentamente a lidar com isso (cada um através da explicação mais plausível a sua realidade). Logo passam a compartilhar conselhos, habilidades, amizade e sentimentos, complementando-se em suas fraquezas. O que era diferença, passa a ser no outro aquilo que faltava.
Completam o elenco Naveen Andrews (Lost), Freema Agyeman (Doctor Who), Alfonso Herrera (Ex RBD) e Daryl Hannah (Kill Bill).
A cinematografia da série também impressiona, com uma fotografia de tirar o fôlego – é difícil não ficar com vontade de conhecer o mundo – sempre abusando de cenas ousadas e memoráveis, que ecoam na cabeça muito após o fim do último episódio.
A trilha sonora varia bastante, indo desde 4 Non Blondes até Beethoven, passando por The Who e Avicii, mas sempre combinando com o momento ( nada parece descaracterizado ou fora de contexto).
A primeira temporada possui doze episódios e um clima bem introdutório, construindo gradualmente os personagens, o que é bom considerando que são muitos. Inicialmente o ritmo pode parecer lento, mas logo a trama emplaca! O que fica após o finale é a sensação de ter experimentado algo realmente belo e original, além do gostinho de quero mais. Até lá, vale cada minuto!