Spoiler Alert!
Este texto contém spoilers leves,
nada que estrague a série ou a sua experiência.
Quando entrei para a escola comecei a reparar nas famílias dos meus amigos, sabe aquela coisa de criança? Então, os pais das minhas amigas sempre eram os melhores, as avós sempre faziam a melhor comida e o irmão mais novo era sempre o pior, não importava a justificativa. Assim, os defeitos da minha própria família foram ficando cada vez mais evidentes e fui esquecendo que nada poderia mudar aquilo.
O meu pai não me levava nos lugares que eu queria como o pai da Maria. Minha mãe não me dava tanta atenção como a mãe da Joana. E até minha cachorra não era tão brincalhona como a cachorra da Ana. Cansada de todos esses “problemas” que ficavam na cabeça, liguei a televisão em um canal qualquer e comecei a assistir, justamente, The O.C., uma série em que, basicamente, a premissa é sobre a relação familiar.
Assim como algumas das minhas colegas, a série transmitia o quanto o dinheiro tem poder nas relações. A família Cooper é o maior símbolo de que “tudo está bem, não importa o que”. O pai de Marissa, já no começo da primeira temporada, entra na falência e com isso, Julie, sua mulher, acaba tendo que mostrar para a sociedade que mesmo não tendo onde cair morta, sua família ainda estava por cima, ou melhor, ela ainda estava por cima. Com isso, a que mais sofre, com certeza, foi a Marissa. Com o possível divórcio dos pais somado ao fato de que sua vida poderia mudar dali em diante, a loira tenta um cometer suicídio, um desesperado grito de socorro.
Mas não é só The O.C. que consegue mostrar isso. Gossip Girl é uma das séries adolescentes que evidencia que ter tudo na vida pode acabar influenciando na relação com a família. Alguém já viu o pai do Chuck sendo um verdadeiro pai com ele? Ou a mãe da Serena deixando o dinheiro para trás para poder ficar com os filhos? E como sempre, são os filhos que sofrem com isso tudo. Eles acabam encontrando afeto nas drogas, bebidas e sexo.
Mas e aquela família que na frente dos outros é de um jeito e sozinhos são tão diferentes? Não se encaixam e ficam forçando um relacionamento que deveria existir porém não acaba acontecendo. Bloodline é um grande exemplo disso. Não adianta, a família Rayburn nunca mais voltou a ser a mesma depois da morte da pequena Sarah, que afetou a todos, principalmente Danny, o filho mais velho. Por viverem à mercê dos pais, os filhos Rayburn escondem todos os sentimentos que possuem e um grande buraco é formado na estrutura familiar.
Viver com as decisões tomadas pelos pais é um dos maiores equívocos que um filho pode realizar. Além de não poder ser quem realmente é, a “prisão” que é imposta pela mãe ou pai, acaba afetando os mesmos. Six Feet Under é um dos meus xodózinhos na questão de retratar a realidade, não só através da morte, mas da vida corriqueira que todo mundo tem. Ruth Fisher, a matriarca da família, viveu sua vida inteira para alegrar seu marido e os seus filhos, esse era seu papel e ela era boa nisso, pelo menos era o que pensava. Mas quando o marido morreu, o mínimo que ela esperava era ter os filhos perto dela, principalmente Nate, que havia saído de casa na adolescência. O que Ruth não imaginava era que isso acabou transformando a vida de todos. Ela percebeu que David, o filho que sempre esteve com ela, era gay e não tinha coragem para contar a verdade; Claire começava se distanciar cada vez mais e Nate, bem, este tinha uma vida própria, que não dividia com ninguém.
Por último, sempre fui mais próxima da minha mãe, não por opção, mas foi ela que sempre me compreendeu. Ela fez/faz tudo o que pode para me ajudar em qualquer situação. É realmente interessante como, não só minha mãe mas todas as outras, conseguem saber quando estamos com raiva, tristes ou felizes. Não tem como disfarçar e negar. Se ela perguntar o que aconteceu, você vai ter que contar!
Bates Motel consegue exemplificar a relação entre mãe e filho de uma forma fenomenal. Não estou falando daquela relação bonitinha da Lorelai/Rory em Gilmore Girls. Estou falando de uma relação muito mais complexa, na qual um depende do outro para tudo. Norma criou seu filho exclusivamente para ela, não deixou-o explorar o mundo e viver como um adolescente normal. Já Norman, tendo sido negado a “normalidade”, passa a ver Norma como não só uma mãe, como também uma deusa, a que sempre deve obedecer e proteger. O nome parecido dos dois já revela a influência que a mãe tem e não preciso nem contar que Norman acaba virando sua mãe.
Enfim, com o passar do tempo fui aprendendo que, assim como as séries, minha família não poderia ser perfeita. Meus pais não poderiam me levar a todos os lugares e adivinhem só? Eu comecei a pegar o ônibus para sair ou viajar. Eu também não poderia ter a família mais rica para comprar tudo o que eu queria, então foi aí que eu comecei a trabalhar e ganhar meu próprio dinheiro.
A grama do vizinho sempre vai parecer mais verde que a minha, mas parar de observa-la é o primeiro passo para perceber que eu não tenho a síndrome da família perfeita e não tento esconde-la por qualquer motivo!
E você, já sentiu que seus pais não eram os melhores do mundo? Conte pra mim!!!