O que The Affair continua proporcionando é a oportunidade de perceber acontecimentos não como isolados, mas desencadeadores, desde os micro, como a simples ingestão de uma pílula vermelha aos macro, como as cenas do tribunal. Recheado de um humor debochado, que beira o pastelão sem nunca perder a classe, Episode 4 afunda seus personagens com mais força no olho do furacão começado lá no verão passado.
De volta os olhares de Noah e Helen, vemos acompanhar como eles lidaram com o processo de divórcio. Na primeira parte, de Helen, o clima é de total desconforto: com seu advogado gritando cada vez mais e usando a expressão “paramour” um nome chique para amante, o tom da discussão é caricato demais, gerando uma tensão desnecessária entre ela e Noah.
O que Helen não espera é que o juiz não seja muito fã de pessoas ricas e proponha a divisão dos bens, para que o escritor possa comprar uma casa e dividir a custódia dos filhos. Exaurida, ela sai do tribunal e vai direto pra casa. Depois de descobrir que o próprio pai deixou sua mãe em uma condição bastante parecida com a que ela está vivendo e de receber a visita inconveniente de Max (e finalmente) terminar seu relacionamento com ele, Helen usa a pílula do ex-amante, gerando o ponto alto do episódio. Chapada, ela vai até sua loja, beija a cabeleireira e, aos buscar os filhos (atrasada, por sinal) bate o carro, sendo apreendida. Nessa hora que Noah chega para resolver a situação.
Ao fim da sessão conturbada, o juiz decide emitir um mandato que proíba a convivência entre Alisson e as crianças Solloway, dificultando ainda mais a tentativa de casamento dos dois. Sem ter para onde levar os filhos após o incidente de trânsito da ex-esposa, Noah resolve fazer uma visita familiar. E se os personagens de The Affair são treteiros, podemos dizer exatamente o mesmo de suas respectivas famílias. O vovô Salloway é um senhor rancoroso (o amado Hector Salamanca, de Breaking Bad). Mas a atração principal é a irmã de Noah, Nina, numa sequência arrebatadora: depois de o irmão perceber que pode tomar a guarda total dos filhos graças ao último incidente da esposa, num ato de puro egoísmo, ouve da irmã: “Eu também sou apaixonada pelo Brad Pitt e nem por isso estou morando com ele!”.
Episode 4, escrito por Anya Epstein e dirigido John Dahl, figurinhas novas nesse álbum trazem frescor para uma temporada, até agora, irretocável. Embora engraçado, o plot (principalmente de Helen) desse episódio só ressalta o desespero, mostrando que humor e a tragédia podem caminhar de mãos dadas, acentuando-se mutuamente.
Antes de acabar
- Noah é um babaca. Nem seu próprio ponto de vista consegue salvá-la. E olha que já fui #TeamNoah
- Helen se firmando como a melhor personagem dessa temporada: complexa, com senso de humor e bem interpretada. Te cuida, Ruth Wilson.
- As sequências da Helen drogada são muito, muito boas. Quem sabe rola um Emmy Tape?