A história maravilhosamente construída de The Fall chegou ao seu termo definitivo na última semana, onde nós finalmente descobrimos a conclusão da saga de Stella Gibson e do controverso serial Killer Paul Spector. Os dois últimos episódios exibidos em dois dias seguidos, conseguiram construir uma tensa atmosfera, deixando bem claro que a jornada que começamos à acompanhar lá em 2012 não se estenderia por mais muito tempo.
Esta temporada focou em uma lenta e detalhada construção do inquérito contra Paul, bem como deixou claro que enquadrar um réu confesso em seus crimes pode encontrar dificuldades na própria burocracia que envolve os trâmites legais. Até aí, tudo bem, para mim o problema todo foi a preguiçosa escolha de dar à Paul o destino que todos haviam negado à ele desde o começo – a morte.
Sério – episódios inteiros se passaram e nada aconteceu. Em algum momento eles até intrigaram, levantando a dúvida sobre a veracidade da perda de memória de Paul – mas no final, nem isso ficou claro. Achei que veríamos algo muito parecido com o Silêncio dos Inocentes, mas não podia estar mais enganada. Vimos a amnésia, uma internação em uma clínica fadada ao fracasso e um psiquiatra que acabou sendo um tremendo idiota ao acreditar que seria capaz de conter a violência de uma pessoa cuja a condição ensejava todas as suspeitas possíveis. Como não perceberam a manipulação dele com aquele outro paciente? Depois da agressão em Stella o deixaram normalmente na área de convivência com os internos?
O encerramento veio de forma decepcionante – veja bem, existem diversas séries na Tv que são ruins e nós abraçamos sabendo das suas falhas, sem qualquer compromisso. Mas quando uma série fantástica vira algo trivial, a desilusão aumenta e é difícil não ficar encarando os créditos subindo sem se perguntar se não é possível refazer o final da história.
Creio que todos se lembram do começo de The Fall, como um excitante jogo de gato e rato. De um lado um aparente homem de família que escondia um alterego feminicida, do outro uma enigmática detetive que se vê intrinsecamente atraída pelo caso. Em casa episódio nós vimos os assassinatos perpetrados por Paul tornarem-se cada vez mais violentos,ao passo que Stella ia se aproximando dele silenciosamente em decorrência do seu know-how e da questionável tensão que nasceu entre eles. Uma proposta de thriller sensual, instigante, aterrorizante e muito bem construído.
Wounds of Deadly Hate e The Solitary Way deveriam ter nos guiado para o esperado confronto entre Paul e Stella – mas esse momento nada mais foi do que o retrato do clichê que a The Fall renegou. Paul e Stella se encarando, fazendo caras e bocas – sem dizer nada. Por que Paul é um serial Killer? Ah, ele foi abusado na infância e tal, e acabou gostando da sensação ao matar sem querer uma mulher durante uma relação sexual. Porque ele odeia tanto as mulheres? Ah, ele odeia todo mundo, afinal ele só sofria de uma enorme egolatria. Ele é tão perturbado, que The Fall acabou enveredando para o mais fácil ao invés de desenvolver uma explicação que fugia do lugar comum – é só assistir o início do filme estrelado por Anthony Hopkins e perceber o quão fugaz foi este desastroso encontro entre os dois – que prometia ser regado de violência e química.
Enquanto Spector realizava a sua história, pelo menos Jamie Dornan conseguiu entregar uma performance magnética, enquanto assistíamos Stella instigá-lo até o limite – quando ele explodiu em seu ódio diante das calmas acusações da detetive, enquanto a câmera variava entre os dois. A calma e silenciosa troca entre eles serviu para dar uma falsa sensação de segurança, já que Spector não tinha mais onde se esconder até o momento em que seu descontrole aflora e ele deixa Stella bastante machucada no chão – em um ato de extrema violência, talvez o mais violento que vimos até então na série.
Não havia mais para onde fugir – ficamos esperando que algo surpreendesse, enquanto assistimos Dr. Larson tomar medidas de segurança bastante infantis, bem diante dos olhos de um paciente traiçoeiro. Ele iria escapar? Katie se envolveria de alguma forma? Como aqueles últimos minutos poderiam trazer algo que nos deixasse questionando a nossa existência depois do episódio acabar?
Então, paralelamente colocaram o “plano de fuga” de Paul contrastando com a franca conversa entre Stella e a adolescente. A forma como ele construiu um dramático cenário para a sua morte fez um contraponto com a empatia da detetive com Katie, para que ela percebesse que havia uma vida inteira pela frente – enquanto o contrário acontecia dentro da clínica psiquiátrica.
De maneira extremamente gráfica, Paul Spector pôs fim à sua vida da mesma forma que ele havia começado a sua matança. Em um misto de desespero e prazer, assistimos ele experimentar pela última vez.Torci bastante para que os enfermeiros entrassem antes, e que aquilo não passasse de uma mórbida tentativa de alcançar a sensação orgástica de estar sufocando – mas não aconteceu – sufocado, Paul morreu sem prestar as suas contas para com a justiça, bem como deu seus últimos suspiros em um contexto em que apenas ele saiu ganhando.
Todos os episódios de The Fall, inclusive os da última temporada, já estão disponíveis na Netflix.
