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The Good Wife – 7×21 Verdict / 7×22 End (Series Finale)

Por: em 16 de maio de 2016

The Good Wife – 7×21 Verdict / 7×22 End (Series Finale)

Por: em

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The Good Wife acabou! Em meio ao clima de nostalgia, gratidão e tristeza (afinal quando uma série após sete anos se despede de seu público diversos sentimentos vem à tona) a review dessa semana é sobre os dois últimos episódios da sétima temporada.

Verdict foi um episódio sem muito valor nele mesmo. Ele e End  funcionam como complementos, duas faces da mesma moeda. O questionamento sempre presente é a provável culpa de Peter em um caso de adulteração de provas, enquanto procurador. Abandonado por Mike Tascioni, Peter é defendido por Diane e conta com a presença de Alicia como um papagaio de pirata, uma figura a tira a colo, sempre fiel e compassiva, ainda que sua função seja apenas exterior. Os jurados sempre atentos em Alicia, procuram nela motivos para absolver ou julgar aquele homem. Se ela é capaz de perdoá-lo, também somos.

Como Jason diz, se Peter for preso, Alicia nunca se separará dele. Se ele sair inocentado do tribunal,  talvez haja uma possibilidade de uma Alicia livre. Contrastando com a boa esposa do piloto, a senhora Florrick aqui continua ao lado de seu marido não por um senso moral ou necessidade de comprar seus compromissos. Alicia permanece ao lado de Peter porque é um animal político e percebe nessa situação uma possibilidade de lucrar.

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A figura do defensor público Connor Fox é irritante. Não sei se pela atuação de Matthew Morrison ou até pela galeria de outros defensores que já tivemos, mas não consigo torcer por ele, mesmo quando considero a figura de Peter problemática. O julgamento esconde certa tensão, afinal, sabemos que a série está mas não deixa de ser ser bem monótono. O lado bom é rever personagens que deixaram a trama, como Geneva Pine e Mathan. Depois de diversas recusas, Alicia e Peter vão para casa, pensando na possibilidade ou não de aceitar o acordo. É quando uma mensagem chega avisando que o juri está de volta.

End é um episódio fraco e irregular, assim como toda a sétima temporada. Mesmo assim, ele tem um final interessante e acho ser muito adequado ao que a série se propôs, como falarei mais ao final da resenha. Continuando a partir do corte seco Verdict series finale começa com Alicia, Peter, Eli e Lucca todos em um carro indo de volta ao tribunal.

A trama não é lá das melhores e nesse texto não quero me deter muito a ela. Naquela enrolação que já nos é costumeira e as reviravoltas do tribunal, incluindo Canning, Cary e, por último, um golpe implacável de Alicia sobre Diane: para salvar Peter da prisão ela não hesita em sacrificar o casamento da última.

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A participação mais interessante é o retorno de Josh Charles como Will que protagoniza diversos diálogos mentais com Alicia. É uma maneira digna de finalizar a série, trazendo um personagem tão importante de volta, com carisma tão grande. A boa esposa se prende à figura de Will por sua imagem onírica, idealizada; ele é um refúgio feito de puro sonho e, quando ela se depara com uma realidade inesperada ou degradante, ela pode voltar a ele. “O se” canoniza o passado. A incerteza dessa condição faz com que tudo apresentado por ela seja mais luminoso ou atrativo. O que Alicia percebe é que as coisas não era pra ser e não foram, não por falta de uma possibilidade e, sim, de vontade.

O episódio não é ruim. O episódio também não é bom. Ele é um reflexo dessa temporada derradeira, sem sentido, perdido, oscilando entre coisas que poderiam ter sido boas e não funcionaram e surpresas inesperadas. Para um episódio final, esse não é o final nem ideal e nem o final que a série merecia. Depois de tantos episódios e tramas interessantes, depois de sete anos, merecia terminar de maneira melhor. Se o episódio não é bom, o mesmo não pode ser dito dos quatro minutos finais.

A sequência final do episódio é um espelho do piloto da série, o que reforça mais uma vez o eterno retorno de The Good Wife: de advogados secundários à juízes, de temas às tramas, tudo era cíclico e sempre voltava, ajudando a criar uma mitologia sólida em torno da série. O retorno de juízes excêntricos era divertido mas a mudança de firmas cansou no final; tudo em excesso, mesmo o que é bom, cansa.

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As mãos dadas são imagens recorrentes na trama e o entrelaçamento de dedos é muito simbólico, o tipo de metáfora fina e complexa que poderia resumir a relação complicada de Alicia e Peter. Como falei na resenha do episódio 7×7, a santa e boa esposa, foi arrastada à arena pública, jogada aos leões. Quem lembra da mulher fraca e trêmula, os olhares assustados, o medo, a raiva, a roupa com um corte que não caia bem. É possível dizer que aquela mulher de sete anos atrás é a mulher de hoje?

Não.

Aí consiste a genialidade desse desfecho: trazer a protagonista numa situação parecida com a abertura da série para mostrar que ela não é mais a mesma. É o gesto de visitar a escola do ensino médio ou a casa onde passamos a infância. As situações, à primeira vista, parecem as mesmas. Os atores ali não são os mesmos. O tempo passou, ainda que não no exterior, mas no cerne de cada indivíduo.

Muito se reclamou do final mas, a mim, parece algo óbvio. Alicia tornou-se uma política tão implacável quanto seu marido e tão cruel quanto aqueles que ela parecia combater. Ao se decidir pela carreira política, ela parecia rígida ao seu senso moral e contrária às maquinações que conhecia de perto. Depois da traição vinda de seu partido, ela descobriu novas regras e colocou-as em prática.

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Um a um, ela também afastou aqueles que amou seja como amigo ou amante. Will é o amor que não deu certo, por causa da vida. Will também foi largado por Alicia. Ela preferiu manter-se atada ao marido e usufruir de seus poderes como Florrick; Cary e Diane foram apunhalados pelas costas em diferentes ocasiões e intensidades. Até mesmo Jason, o que considero o mais desnecessário dos personagens recentes, foi deixado em segundo plano. Mais uma chance desperdiçada.

Alicia procurando Jason e recebendo um tapa é o seu fim merecido. Depois de afastar essas pessoas, de ser egoísta e cruel, ela recebe a devida punição. Ela procura o amor mas lida diretamente com as consequências de quem ela afetou. Consertar a roupa, arrumar o cabelo, secar as lágrimas. A trilha de Regina Spektor cumpre um papel essencial aqui. As coisas vão melhorar?

É difícil não lembrar da season finale da segunda temporada, com a porta do elevador abrindo e fechando, Will e Alicia finalmente se entendendo e a voz de Mika ao fundo. De novo, faz todo sentido aquela canção. Um sentido duplo, agora.

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Para a protagonista, que se reinventará mais uma vez e para nós, que acompanhamos essa história:

Say goodbye to the world you thought you live in”

Tchau, Alicia.

Obrigado pela jornada até aqui e que o tapa sirva de alguma coisa.

Obrigado aos King pela aula de televisão.

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Daniel Matos

Ex-gordo, fã de televisão e da Palmirinha.

Belo Horizonte

Série Favorita: The Good Wife

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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