Os produtores de The Knick não estavam exagerando quando afirmaram que a segunda temporada da série focaria muito mais nos personagens do que na parte médica, e isso é uma decisão acertadíssima. O formato semelhante a um procedural utilizado na primeira temporada foi interessante e necessário para ambientar o espectador no contexto da medicina do século XX, mas agora que já sabemos o quanto os procedimentos eram intensos, é natural que esse aspecto seja posto em segundo plano.
O episódio You’re no Rose, como a premiére que o antecedeu, inicia-se em torno de uma morte que provavelmente causará muito tumulto: o desprezível inspetor Speight foi encontrado morto em um rio, e suspeita-se que tenha caído do barco, alcoolizado. Cornelia não acredita na teoria, uma vez que Speight tinha uma repulsa à bebidas, causada pelo contato constante com bêbados. Seu ceticismo a leva a investigar discretamente a história, e descobrir que seu corpo foi removido (terá sido alguma vez posto lá realmente?) do caixão que o guardava no cemitério local. E deu pra notar que isso trará algumas situações arriscadas para a Sra. Showalter.
O grande acontecimento do episódio, no entanto, não girou em torno de uma morte, mas de uma ressurreição: John está de volta ao hospital, com o organismo limpo e uma nova obsessão: encontrar a cura para a dependência química. Sua sugestão de que o vício é uma doença vai contra a mentalidade da alta-cúpula, e é sempre interessante rever o doutor desconstruindo as falácias e incomodando seus superiores com sua sempre provocativa capacidade de argumentação.
Não é somente os detentores do poderio econômico do hospital que revelam uma mentalidade ignorante: Bertram segue em sua meta de ganhar a repulsa de seus admiradores. Dessa vez, no entanto, ele abandonou o resto de carisma que ainda possuía: depois de procurar convencer o Everett a odiar o John tanto quanto ele, sem sucesso, entregou sua carta de demissão ao Thackery, e o diálogo que se seguiu trouxe a fala mais repugnante do Bertie, the-not-wise-at-all: ao saber que Lucy e John haviam transado, disparou um “agora ela é menos pura do que quando entrei nessa sala”.
Soderbergh parece determinado a não nos permitir ter total antipatia ou gostar demais de algum personagem: todos eles são cheios de camadas e nos frustram ou surpreendem positivamente em algum momento. E é um dos aspectos que tornam The Knick uma série tão especial.