Desde o ano de 2014 está no ar pelo canal Cinemax a série de gênero dramático The Knick, o show foi criado por Jack Amiel e Michael Begler, além de ser dirigida pelo talentosíssimo Steven Soderbergh. Já devo iniciar confessando que tenho uma queda muito grande por séries ambientadas no século XX, seja com as temáticas voltadas para as guerras, derrocada definitiva da aristocracia, desenvolvimento acelerado das ciências e a metodologia do como fazer as coisas; grande parte do que conhecemos e usufruímos hoje são frutos desde centenário tão divisor de águas na história do mundo. E não foi diferente com a medicina, tema central de The Knick que é o diminutivo de Knickerbocker Hospital, a trama se passa no início de 1900 na cidade de New York e aborda as mais diversificadas temáticas, como, aborto, doenças transmissíveis, segregação, corrupção, transtorno mental, empoderamento feminino, assédio sexual e dependência química.

A série é protagonizada pelo cirurgião Dr. John W. Thackery (Clive Owen) que após a morte inesperada do seu mentor se torna responsável pelo setor cirúrgico do Knick, um hospital a frente do seu tempo, com profissionais empenhados a combater as alarmantes e assombrosas taxas de mortalidade, ali promovem cirurgias e executam tratamentos inovadores e ousados que ultrapassam os limites do sabido naquela época. Thackery é um personagem complexo, ótimo no que faz, mas é viciado em cocaína e ópio e por incontáveis vezes realizou as cirurgias sob o efeito das drogas, também é ambicioso em relação ao avanço da medicina, sendo o mais ávido impulsionador de procedimentos experimentais.

O Knick também possui relutantemente em seu quadro profissional o Dr. Algernon Edwards (André Holland), negro, filho de empregada doméstica e cavalariço, talentoso cirurgião que trava uma luta diária para se posicionar como como tal independente da sua etnia, o que se torna uma tarefa árdua considerando o momento histórico ambientado, além de manter uma clínica gratuita para a população mais pobre no porão do hospital.

O elenco é enriquecido pelos personagens de Cornelia Robertson (Juliet Rylance) filha do principal mantenedor do Knick e melhor exemplo de empoderamento, forma com Algernon um casal socialmente inaceitável; Herman Barrow (Jeremy Bobb) administrador corrupto do hospital, se colocou em um ciclo interminável de dívidas e por esse motivo rouba montantes cada vez mais difíceis de serem sonegados; Lucy Elkins (Eve Hewson) enfermeira ambiciosa que faz de tudo para alcançar a ascensão social; os cirurgiões Bertie Chickering Jr. (Michael Angarano) e Everett Gallinger (Eric Johnson); Sister Harriet (Cara Seymour) freira que coordena o orfanato mantido pelo Knick e é parteira, na calada da noite realiza abortos em jovens de ambas as classes sociais por um valor significativo, e por fim Tom Cleary (Chris Sullivan) motorista da ambulância do hospital que ganha pelos doentes trazidos ao mesmo.

A magia de The Knick reside justamente na sua história, a série aborda temáticas extremamente relevantes que são aprimoradas pelo seu fantástico elenco. Assim como na sua ousadia em mostrar como as coisas se procediam na medicina em sua gênese, com cirurgias realizadas a mãos limpas, numa sangria desatada, e guiadas pelo senso e julgamento crítico do responsável. A vertente histórico-social também é bastante explorada, como, a chegada em massa de imigrantes em território americano, o início da disseminação da ideologia de supremacia ariana, início da fabricação do petróleo, alta taxa de mortalidade por doenças hoje curáveis, métodos insanos de tratamento a doenças mentais, e o plot mais instigante que cabe a freira Harriet, incorporando papéis de dualidade: onde hora é responsável por trazer ao mundo e hora instrumento de interceptação desta vinda.  Além da dependência química de Thachery que rende sequências cativantes e desesperadoras ao mesmo tempo.

A série é essencialmente dramática, mas também tem seus alívios cômicos, destaque novamente para o pseudo casal formado por Harriet e Tom que rendem ótimos momentos em sua fábrica de preservativos. A fotografia também é ótima, com tudo ambientado de maneira impecável de acordo com a época.

Então, dispostos a dar uma chance? The Knick só possui duas temporadas até agora com 10 episódios cada, dá para maratonar facilmente.
Não deixem de dar uma olhada, The Knick realmente vale cada minuto!

Enquanto isso sigam com o trailer da 1º temporada: