Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

The Night of – 1×02 Subtle Beast

Por: em 18 de julho de 2016

The Night of – 1×02 Subtle Beast

Por: em

Todo o mistério no piloto de The Night of pode ter sugerido que esta seria uma série sobre o assassinato de Andrea, e que toda a narrativa serviria para responder à questão central: Naz é culpado ou inocente? Subtle Beast mudou um pouco a perspectiva, e mostrou que a série pode ser sobre muito mais que uma pergunta e sobre muito mais que uma noite.

box

Naz e Andrea deixaram de ser o foco principal para se tornarem um caminho de mostrar o conflito entre o detetive Dennis Box e o advogado Jack Stone. É natural que o público procure se identificar com certos personagens e colocar a sua torcida em um lado ou outro, mesmo nas obras em que não existe uma figura de herói ou de vilão. Em The Night of, no entanto, isso é algo quase impossível, considerando que o conflito só existe porque todos eles estão fazendo aquilo que devem fazer. Os desvios morais existem, o egoísmo está lá e a manipulação corre solta, mas não há nada tão evidente que torne um personagem mais desprezível ou mais adorável que o outro.

Pois vejam o detetive Box: ele certamente merece o apelido de “fera sutil” por trabalhar no limite da legalidade e induzir algumas conversas e atitudes que não deveriam acontecer. Mas é o trabalho dele, e, na prática, nenhuma linha foi cruzada que possa manchar a investigação. É claro que ele quer desvendar mais um caso, mas com todas as evidências que existem contra Naz, diria que Dennis foi extremamente ponderado, sensato e humano. Bom, a tal humanidade não veio de graça… Deixar Naz falar com os pais foi uma forma de colher informações, e entregar a bombinha de asma, a cartada final para tentar uma confissão… mas em geral a polícia americana não tem essa cordialidade toda com pessoas de determinadas origens étnicas. Não é que ele queira ajudar Naz, mas seu objetivo também não é destruir a vida de um inocente apenas para encerrar as investigações… é que tá bem difícil comprar a versão de que ele é inocente, né?

Do outro lado, Jack. Ele não inspira muita credibilidade e nem é lá um grande profissional. Só neste episódio, ele quase se atrasou par uma audiência, fez seu cliente pegar o dobro da pena que o outro cara e não conseguiu fiança para Naz. Mas ele sabe lidar com o sistema e contou com a sorte – ou melhor, com o azar de Nasir – para ganhar um caso que pode projetar a sua carreira a um novo patamar. É uma boa história, do tipo que a imprensa vai adorar devorar! Não é que ele não queira ajudar Naz, mas seu objetivo maior é ganhar notoriedade e, quem sabe, não precisar mais ficar pescando aqueles pequenos infratores na delegacia. Jack é correto, mas vai precisar de muito mais que isso se quiser vencer e usar o caso como uma vitrine. Box é excelente no que faz, e uma promotora que não deixa escapar nem uma piscada de olhos vai ser concorrência pesada no tribunal.

khan

O padrasto de Andrea não tinha um relacionamento exatamente próximo com a enteada, e é possível que faça companhia ao cara do posto de gasolina, ao rapaz da moto e a outros suspeitos do assassinato, pelo menos aos olhos do público. Mas ao assistir a este episódio, a possibilidade de Naz ser de fato o assassino se mostrou infinitamente mais interessante e condizente com o contexto da série que qualquer outra opção. Por que eles se preocupariam em fugir tanto do maniqueísmo entre Jack e Dennis para mais tarde apresentar um vilão oculto para ser a causa ou a solução de tudo? Naz é o culpado perfeito. O mais óbvio, o mais improvável. Um outro tipo de fera sutil?

Nasir Khan não tinha qualquer motivo para matar Andrea, não tinha qualquer inclinação para a violência, não tem o perfil psicológico de um assassino. Mas ele se deixou levar, usou drogas e álcool naquela noite – coisa que não era parte da sua rotina – e apagou. Ele é ingênuo, toma decisões ruins, fala o que não deve porque quer ajudar, fala quando não deve porque não percebe as consequências do que faz, não tem jogo de cintura para lidar com a polícia e perde o benefício da dúvida por isso. Ele é bom demais para uma série em que ninguém parece bom demais. Do mesmo jeito que é impossível torcer para Dennis ou Jack, fazer de Nasir o assassino tornaria ainda mais complexo o nosso julgamento sobre a situação.

Algumas observações:

– A série tem uma fotografia e uma identidade visual muito marcante. Tão marcante que às vezes todos aqueles closes e focos fragmentados acabam cansando.

-As acusações de Naz parecem ter impressionado os “colegas” de cela. Mas será que ele vai ser respeitado ou perseguido por elas?

– Deu dó da família Khan desabando conforme percebiam a gravidade da situação. Todos estão tão confusos e chocados quanto o próprio Naz.

– Também dá dó de ver o povo saindo de perto do Jack por causa do pé. Que coisa feia, gente.

– Quem vai cuidar do gato da Andrea?

The Night of continua trilhando um bom caminho narrativo e tendo um cuidado muito bem-vindo em relação à construção dos personagens. E você? Acha que seria melhor para a série se Naz fosse culpado ou inocente? Deixe seu comentário e até semana que vem!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

×