The Night of é uma série que surpreende por prender o público com a sua simplicidade. Não são necessários grandes plot twists ou recursos narrativos mirabolantes para segurar a nossa atenção. Ela tem um fio narrativo bem delineado, um ritmo mais realístico que o da vida real e uma aparente previsibilidade que fazem com que a gente nem perceba as mudanças bruscas que os episódios dão ao foco da trama.
Primeiro, parecia que era uma série sobre a noite do assassinato de Andrea: todos aqueles suspeitos e a grande pergunta: quem matou? Depois, Box ganhou todos os holofotes. Sua técnica, suas intenções, sua personalidade dúbia, seu embate quase amigável com Stone. De repente, A Dark Crate pareceu fazer as duas coisas serem quase irrelevantes, e trouxe para a cena uma série de dinâmicas e personagens que não existiam até agora.
Foi curioso ver Naz preenchendo seus “dados cadastrais” na prisão e respondendo se corria risco de vida. Teoricamente, ser “neutro” deveria dar a ele alguma segurança, por não ter inimigos, mas a prática se mostrou o completo oposto. Inimigos são inevitáveis em um ambiente como aquele, especialmente se você é um muçulmano acusado de estuprar e matar uma garota jovem e branca. A única alternativa para se manter vivo, é conseguir aliados. É claro que existe um preço a ser pago por essa aliança com Freddy, nós provavelmente veremos nos próximos episódios, e há uma grande chance de ele ser mais caro que a própria vida de Naz.
Porque ele não é o único que está pagando pelo que fez – ou o que não fez, isso ainda importa? A família Khan também teve o seu destino completamente alterado por aquela noite. Até os sócios do táxi acabaram perdendo o instrumento de trabalho porque ele se tornou parte de uma cena de crime. Visitar o filho preso tem uma carga de humilhação e de desgaste emocional enorme envolvida, principalmente quando eles sabem que aquilo pode ser algo recorrente para o resto da vida. Para completar, eles precisariam pagar um dinheiro que não tinham para tentar um tiro no escuro que talvez reduzisse a pena de Naz.
E foi aí que Alison Crowe entrou. Uma advogada competente, dona de um escritório enorme oferecendo defesa gratuita em troca de… bem, provavelmente visibilidade. E desafios. Ela sabe detectar o ponto fraco do interlocutor em um piscar de olhos, e não hesita por um segundo sequer antes de usa-lo, em um golpe preciso e matador. Foi o que ela fez ao responder à pergunta da repórter sobre cirurgia plástica, e foi o que ela fez ao levar Chandra em sua conversa com os Khan. Mas será que o talento de Crowe vai ser suficiente para convencer o júri da inocência de Naz? A promotora também tem um olhar cirúrgico e não está nem um pouco disposta a perder o caso.
Seria uma disputa feminina maravilhosa no tribunal, e confesso que existe um lado meu que quer assistir a esse embate mais que qualquer outra coisa. Mas em The Night of, é impossível tomar partido de um lado só, e existe um Jack Stone sendo absolutamente encantador do outro lado. Como concordar com a canalhice de deixar ele de fora de um caso que tem toda a sua atenção desde o primeiro momento? Ao mesmo tempo, por mais que ele seja um profissional que precisa ser remunerado de forma justa pelos serviços prestados, deu um certo incômodo vê-lo cobrando 50 mil dólares de uma família que só tem 8 mil em suas economias e perdeu até o táxi que sustentava parte das despesas.
Posso estar sendo repetitiva, mas The Night of tem conseguido construir personagens mais humanos até mesmo que a maioria das séries baseadas em fatos reais. Todos eles têm qualidades e defeitos praticamente na mesma medida. Ingenuidade, perseverança, senso se justiça, ingratidão, profissionalismo, manipulação, empatia, ganância, solidariedade, vaidade, dissimulação, covardia. É possível que você tenha lido essas palavras e relacionado a personagens ou situações muito diferentes das que eu me lembrei para escrevê-las. Não existem rótulos, porque eles não cabem em caixas. Nem na de “inocente” ou “culpado”.
Algumas observações:
– Até as doenças são usadas na série de uma forma mais próxima à realidade. A asma ou a alergia no pé de Jack são muito mais concretas que um câncer terminal, esquizofrenia ou alguma síndrome rara que acabaria se destacando mais que a personalidade deles.
– Agora sério: margarina e filme plástico? Aquele médico estava de sacanagem, só pode.
– Meu coração quebrou com o gatinho da Andrea pedindo carinho. Será que ele vai mesmo ser sacrificado?
– Que tensão aquelas cenas do Naz no chuveiro. Eu, no lugar dele, tomaria banho com a bunda colada na parede.
– Será que Jack vai processar o Naz pelo furto do táxi mesmo?
E você, o que achou do episódio? Confia no Freddy ou acha que Naz ficaria melhor nas mãos dos queimadores de colchão? Deixe seu comentário e até semana que vem!