Mesmo que destrinche sem pressa cada personagem e cada momento da trama, The Night of tem uma vida curta e cada vez sobra menos tempo para concluir a história de Nasir Khan. Samson and Delilah foi a primeira vez que essa passagem de tempo se tornou perceptível, e mais uma vez a forma como a série sinalizou isso foi sutil e genial.
O tempo correu e os desdobramentos do assassinato de Andrea foram implacáveis para a família Khan. Um dos sinais escolhidos para mostrar essa transição foi acompanhar a nova vida dos paquistaneses, lidando com as dificuldades financeiras, emocionais e o preconceito aflorado pelas acusações que recaem sobre Naz. Eles não eram uma família rica, mas tinham uma vida da América que garantia certa estabilidade e conforto, mas tudo foi destruído quando eles perderam sus antigos empregos, viram um filho ser preso e o outro expulso da escola. O incidente envolvendo o colega dos tempos de colégio de Naz foi resultado da xenofobia que começou a se espalhar depois do 11 de setembro, só que ninguém mais está lutando contra um monstro imaginário, a imprensa e a sociedade encontraram nele um inimigo concreto, vivo, pronto para ser destruído. O que mais eles podiam desejar?
Outro sinal da passagem do tempo foi o próprio processo. Não mostraram a escolha do júri, embora ela tenha sido mencionada, e a série partiu direto para a ação no tribunal. Considerando esta primeira amostra, as chances de Naz não parecem muito grandes. Ellen é uma promotora excelente, sabe envolver o júri, tem uma oratória impecável e conhece o sistema o suficiente para dominar a arte de manipular sem sair do caminho da lei. Seus peritos não são corruptos e nem mentirosos, mas também não são imparciais. Eles fazem seus laudos adotando como verdade algo que pode ser apenas uma possibilidade.
Do outro lado, Chandra, que apesar de toda a boa vontade não consegue driblar a falta de experiência. Ela tem muitas qualidades, é detalhista, dedicada, estudiosa e muito corajosa, como provou ao procurar pessoalmente o homem do posto de gasolina. Mas até que ponto isso é realmente útil, se diante do júri e do juiz ela não lembra do discurso que passou a noite preparando, não faz as perguntas certas para as testemunhas e não sabe arrancar as informações extraoficiais das melhores fontes? Para a sorte de Naz, Stone continua por perto e, apesar de ser bastante desleixado com algumas coisas, preenche todas as lacunas que ainda faltam à advogada. Aliás, o tratamento do seu pé finalmente começou a dar certo, e serviu como mais um dos marcadores do episódio para indicar o tempo correndo.
Mas nenhuma representação foi tão profunda quanto a da transformação de Naz. No episódio passado já tínhamos visto parte deste processo, mas em Samson and Delilah foi como se o jovem que conhecemos no piloto tivesse dado lugar a outra pessoa. Tudo nele é diferente. A pele, marcada pelas tatuagens, o porte físico franzino, que deu lugar a um corpo mais musculoso, o jeito de olhar – sem olhar – que agora é igual ao de qualquer outro presidiário, o tom de voz, muito mais profundo, e a cabeça, que já trabalha através de códigos e de mecanismos completamente diferentes dos de antes. O sistema prisional pode ter duas faces: a de matadouro ou a de fábrica de produção em massa. Para sobreviver, Naz percebeu que teria que se tornar um deles, teria que deixar Freddy fazer a sua mágica.
O quadro de suspeitos começou a se desenhar com mais clareza, e finalmente eles conseguiram uma outra versão para o crime. Como Stone pontuou, a defesa não precisa necessariamente provar que Naz é inocente, o Estado precisa provar que ele é culpado, e se houver uma dúvida razoável sobre isso, o veredito será favorável a Khan. Apesar de todas as evidências físicas, existem buracos na versão da polícia, lacunas não apuradas, testemunhas pouco confiáveis, e pessoas que se beneficiam pela morte de Andrea. Não é dever deles provar que o padrasto ou o homem no posto de gasolina são assassinos. Eles só precisam plantar essa sementinha na cabeça do júri, e torcer para que ela não seja arrancada de lá.
Algumas observações:
– Jack tomando o pozinho para o pé parece eu tomando água com farinha de berinjela pra emagrecer.
– Naz intrometido, tinha que ficar espiando o momento de amor dos colegas?
– Aliás, devia ter seguido o conselho do Freddy e vestido a blusinha branca.
– Mas pensando bem, não faz muita diferença a cor da blusa quando vc tatuou “PECADO” nos dedos, né?
– A cara da galera do Alérgicos Anônimos foi impagável. Melhor cena.
– Nunca diga “só por cima do meu cadáver”, porque alguém pode levar a sério.
E você, curtiu o episódio? Acha que as novas informações podem ajudar Naz a sair da prisão ou ele já está condenado? Deixe seu comentário e até semana que vem!