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The Path

Por: em 2 de abril de 2016

The Path

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers leves,

nada que estrague a série ou a sua experiência.

Em uma época como a atual, em que o extremismo ideológico movimenta milhares de pessoas em busca de uma identificação. The Path, o novo drama do canal Hulu, propõe uma análise crítica por sobre as consequências que a crença quando usada como parâmetro para justificar ações tidas como moralmente aceitáveis – em um determinado contexto – pode vir a ser algo perigoso.

Criada por Jason Katims (Parenthood) e Jessica Goldberg, o projeto que inicialmente receberia o nome de The Way e já possui dez episódios encomendados pelo canal de streaming, estreou no último dia 30 de março. A premissa da série deixa claro que é preciso se despir de visões pré-estabelecidas para que não a tome como algo religiosamente ofensivo. Na verdade, a grande pergunta presente em todo material de divulgação, assim como no episódio Piloto denominado What the Fire Throws é: você é aquilo em que você acredita?

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The Path retrata a vida do casal Eddie (Aaron Paul – Breaking Bad) e Sarah Lane (Michelle Monaghan – True Detective), que assim como o líder messiânico Cal Robertson (Hugh Dancy – Hannibal), são um dos principais representantes de um controverso culto religioso chamado Meyrist Movement, instituído sobre os preceitos de fé e poder. Cujo objetivo é resgatar pessoas vítimas de grandes desastres naturais, ou que se encontrem vivendo em péssimas condições humanas. Utilizando-se da fé como único meio capaz de promover a evolução espiritual, em busca de uma sociedade capaz de viver os preceitos aplicados pelas Leis do Meyrist.

Misturando suspense, mistério, e nuances de sobrenatural, The Path não deixa claro em qual época se está vivendo, mas a julgar pela tecnologia apresentada pode-se crer que no início dos anos dois mil. E o que parecia ter sido um mero descuido, na verdade apenas reforça a constante necessidade que se tem de colocar o expectador em busca de respostas capazes de demonstrar qual a verdade por trás do Meyrist. Reforçando estes questionamentos está Eddie, que após retornar de um retiro espiritual no Peru – sede do Meyrist Movement – passa a duvidar do real significado existente entre a vida que se quer levar e a que realmente existe ali, duvidando de sua própria fé. Sendo este o início dos problemas conjugais entre ele e sua esposa. Ao passo que o que antes parecia ser naturalmente óbvio, agora ressurge com um olhar crítico e muito mais cético. Preocupando o protagonista que ainda não sabe bem como lidar com as novas informações, ou como isso poderá afetar todas as suas relações sociais construídas até ali.

Em uma espécie de releitura ao Mito da Caverna de Platão, The Path se impõe em uma análise moderna entre conhecimento, alienação e fé. Demonstrando ao longo do Piloto que é preciso caminhar lentamente, compreender as diferenças, despir-se do preconceito. Compreender que nem tudo segue a dicotomia entre o bem e o mal. Que antes de derrubar um conceito é preciso ir além, demonstrá-lo em sua totalidade, evitando o hábito da própria indução natural que existe em se tratando de religiosidade. E nisso a série acerta ao equilibrar cada ação do Meyrist Movement em uma espécie de causa e consequência, onde ser aceito é o que te define como ser humano. Ou a visão de Sarah, nascida e criada em Meyrist, diante das mudanças repentina de atitude do marido.

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Um dos grandes desafios da série talvez seja o de saber dosar as informações, mantendo a qualidade do suspense sem se tornar prolixo demais. Outro ponto a ser levado em consideração é que The Path não é uma série tida por uma narrativa rápida, e que deixará aparentemente muito mais perguntas e dúvidas, que necessariamente respostas. Porém, se você acreditava em uma série religiosa, The Path demonstra sua complexidade ao optar seguir pela quebra da tal verdade absoluta, demonstrando a complexidade das relações humanas e a força existente nos discursos inflamados pela fé, ou o quanto é preocupante vermos a construção social atrelada às Leis tidas como verdades universais a serem seguidas. Sendo esta sem dúvida a grande crítica feita pela série. Afinal, como no próprio roteiro se vê, é preciso deixar todo o seu passado para trás, se fazer uma folha em branco, para só assim seguir rumo à salvação promovida pelos ensinamentos das Leis de Meyrist.

De modo geral, The Path merece um lugar na lista de novas séries aos apreciadores de um bom drama, e que segue por linhas narrativas mais lentas como as vistas em Bloodline, por exemplo. Afinal, o seriado conseguiu manter-se estável dentro da polêmica temática, demonstrando em pouco tempo, que a complexidade das relações sociais existente entre os personagens vai muito além da religiosidade. Na verdade, esta é responsável por justificar parte da realidade vivida por eles. Questionando se existe raciocionalidade em se tratando de fé.


E aí, o que achou da temática? Como foi assistir a Aaron Paul sem pensar em Jesse Pinkman Bitch? Não deixa de falar suas impressões aqui embaixo, ou o que espera sobre a nova série da Hulu.


Marcel Sampar

Paulista que puxa o erre pra falar, PHD em Análise do Drama pelas novelas mexicanas reprisadas no SBT e designer de homens palito. Com sérios problemas em se definir por aqui - sim, esta já é minha terceira tentativa em menos de um mês - mas que um dia chega lá!

Rio Preto/SP

Série Favorita: Sex and the City

Não assiste de jeito nenhum: Teen Wolf

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