Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

The Walking Dead – 7×11 Hostiles and Calamities

Por: em 27 de fevereiro de 2017

The Walking Dead – 7×11 Hostiles and Calamities

Por: em

Depois de dois episódios excelentes, finalmente chegamos àquele que, provavelmente, será o ponto baixo desta temporada de The Walking Dead. Não foi um episódio ruim, porém muito do que foi mostrado em Hostiles and Calamities soou repetitivo. Era mesmo necessário um terceiro episódio em que um personagem do grupo de Rick é introduzido à dinâmica do Santuário? A impressão que fica é que fizeram um episódio mediano para sincronizar com a data de entrega do Oscar, assim a audiência casual não ficará perdida na história quando retornar à programação na próxima semana. Apesar disso, o episódio vale à pena pela construção do personagem Dwight. Se nas semanas anteriores o tema “esperança” foi recorrente, nesta, podemos dizer que o tema foi “traição”.

Aliás, mesmo nas semanas anteriores, os roteiristas têm tratado a traição como um tema secundário da temporada.  A cada semana, os personagens se revezam sugerindo que alguém irá trair Rick. Na midseason premiére, Morgan se opõe ao plano de Rick, mais tarde, sugerem que Padre Gabriel traiu Alexandria. No episódio anterior, Richard armou para matar Carol, Rosita se rebela contra o plano de Rick de voltar para Alexandria antes de partir numa missão em busca de armas. E o que dizer do grupo do Ferro-Velho que “Pega, mas não se dá ao trabalho” (um lema extremamente oportunista)? Nesta semana, decidiram fazer com que a audiência pense que Eugene regrediu ao seu modo covarde e traiu Rick ao aceitar “ser” Negan. Na verdade, Eugene provavelmente será de grande ajuda para Rick, já que ele é muito inteligente e pode dar uma visão mais completa do Santuário do que Daryl, uma vez que vive em uma hierarquia maior e tem liberdade para conversar com as pessoas, especialmente as esposas.

Por sinal, o episódio jogou mais luz na questão das “esposas” de Negan. Se antes alguém defendia o arranjo, alegando que elas aceitaram ser esposas, agora é inegável que elas não estão felizes. Duas esposas planejaram a morte de Negan, Amber se tornou alcoólatra, Sherry foi embora do Santuário alegando que era melhor morrer. Essas mulheres não ofereceram seu pleno consentimento. É preciso esclarecer, embora Negan diga que não aceita estupros, ele é um estuprador. Negan é um hipócrita, porque ele não usa a força para coagí-las, mas as suas vulnerabilidades (suas famílias e entes queridos, por exemplo) e o medo. Não existe consentimento num ambiente de medo.

Embora alguns arcos sirvam para desenvolver o personagem mais do que a história, este não parece ser o caso na trama que envolve Eugene e as esposas. A história não precisava existir para entendermos o ponto, ou melhor, não era necessário fazer toda a digressão sobre fabricar as pílulas e depois desistir do plano para compreendermos que Eugene se resignaria sem resistência e que as esposas detestam Negan. Tudo poderia acontecer mais rapidamente e este arco poderia ser substituído por algo que, de fato, avançasse a história.

O maior acerto do episódio foi focar em Dwight e não em Negan. O grande vilão desta etapa da história é brilhantemente interpretado por Jeffrey Dean Morgan, mas não se traduz bem na TV. Nos quadrinhos, a personalidade excêntrica de Negan soa legítima e até engraçada. Mas na TV, depois de ouvir algumas piadas de duplo sentido, elas começam a perder a graça. O vilão começa a soar irritante e não tem carisma que segure a sua presença na tela sem desenvolver outros traços de humanidade. O melhor momento de Negan em toda a série, talvez a única vez em que pudemos simpatizar com ele de alguma forma, foi quando ele pediu um minuto de silêncio para o Fat Joe na midseason premiére. Naquele momento, Negan se mostrou um líder preocupado com a segurança dos membros de sua comunidade e com a memória de alguém que foi assassinado. Contudo, momentos como este são muito raros e, honestamente, a brutalidade pela brutalidade é cansativa, faz o personagem se tornar plano e até previsível.

Dwight, por outro lado, é um vilão instigante, cheio de nuances. A sua hesitação em relação à Negan não o impede de tomar as atitudes mais vis em nome da sobrevivência. Dwight é o personagem que melhor representa o tema da traição, já que nunca sabemos ao certo até onde vai a lealdade dele. Austin Amello fez um excelente trabalho em pintar este personagem como um “vilão trágico” que movido por amor mas também por uma dose de egoísmo. Nós finalmente descobrimos que Sherry libertou Daryl. Este fato levou Dwight a uma encruzilhada: Ele deveria proteger Sherry e colocar a sua própria vida em risco ou deveria entregar Sherry para Negan para provar a sua lealdade? Nem mesmo Sherry conseguiu responder a esta pergunta, ela decidiu não pagar para ver e deixou para trás a sua aliança e uma carta desoladora como evidência de um amor trágico.

Em sua carta, Sherry disse que amava quem Dwight era, mas não quem ele se tornou. Ela pede desculpas por transformá-lo em um vilão. Este é o único ponto que eu discordo, o principal culpado é Negan e, se outra pessoa pode ser responsabilizada, é o próprio Dwight. Em mais um momento brilhante, Dwight não entrega Sherry, mas não se torna um personagem menos odioso, já que ele resolve encobrir a fuga dela causando a morte de um inocente. A ambiguidade de Dwight, estampada até mesmo na aparência dele após a queimadura, o torna um vilão muito mais interessante do que Negan. Na semana passada, Rick disse que inimigos podem se tornar amigos. Mas será que existe redenção para Dwight?


  • Estou aguardando os cosplays de Eugene agarrado no pote de picles na próxima SDCC.
  • Vocês também detestam esses episódios no Santuário? Honestamente, para mim já chega.
  • Eu gostei muito da Laura, a Savior que acompanhou Eugene. Ela foi tão gentil com ele, também estou cansada dos saviors tratarem todo mundo mal.
  • Eu queria ter visto o Simon e a Arat, conhecer um pouco mais deles quando não estão aterrorizando Hilltop e Alexandria.
  • Seria interessante se cortassem parte da história do Eugene e usassem o tempo que sobrou para alinhar os episódios, assim poderíamos ver Daryl se deslocando para Hilltop.

Gizelli Sousa

Arquiteta, feminista, prefere uma noite de maratona de séries do que sair para a balada.

Brasília/DF

Série Favorita: The Walking Dead

Não assiste de jeito nenhum: Gilmore Girls, The O.C., One Tree Hill, Girls, Love

×