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This Is Us – 2×02 A Manny-Splendored Thing

Por: em 5 de outubro de 2017

This Is Us – 2×02 A Manny-Splendored Thing

Por: em

É na infância que estão guardadas nossas principais memórias, responsáveis, em sua grande maioria, pela construção da nossa personalidade. São através delas que moldamos nossa visão de mundo, reafirmamos nossa identidade e nos confrontamos com nossos medos, inseguranças e preconceitos. A Manny-Splendored Thing foi um episódio que abordou bastante essa perspectiva. Apesar de ter sido bem morno, sem as grandes emoções da estreia da segunda temporada de This Is Us, ele foi importante para evoluirmos junto com os personagens e com sua reconstrução de visões de mundo, quebra de preconceitos e enfrentamento de medos.

Encontramos os Pearson reunidos em torno de uma nova (e última) apresentação de Kevin como o Manny. Apesar de ter sido seu personagem de maior sucesso e que o projetou para outros trabalhos mais “sérios”, Kevin tem um certo receio do estigma que o Manny carrega e é com bastante relutância que ele resolve encarar esse desafio. O ponto positivo disso foi o reencontro dos familiares, mas vamos combinar que enquanto encontro, não funcionou muito bem, não é? Aliás, as estreias do Kevin estão mesmo com alguma zica. Já é a segunda vez que durante sua peça, algo de muito importante afeta os irmãos e faz com que as coisas não aconteçam da forma prevista. Na temporada anterior, o próprio Kevin não apareceu (por um ótimo motivo!) e nessa, foram seus irmãos que partiram em debandada.

Divulgação/NBC

Não sei se é intencional do roteiro, ou se é preconceito meu com o Kevin, mas fato é que os plots dele sempre me soam “bobos” se comparados aos outros personagens. Talvez por ser o único dos irmãos dentro dos ridículos padrões sociais ainda vigentes (zzzzzz), ele desperte em mim esse sentimento. Entendo e aceito que mesmo sendo o bonitão, magro, hétero, ele tenha sim seus problemas e que eles não devem ser subestimados. Mas, na minha visão, até agora ele é o único dos três que me parece estar ali como suporte para os outros; com suas próprias questões, é claro, mas que não provocam empatia na mesma proporção que os demais. Seu romance não empolga, suas questões profissionais não são abordadas com a profundidade necessária para gerar uma identificação e mesmo sua infância foi ilustrada até o momento, sem a presença de grandes conflitos (apenas os típicos de acontecer entre irmãos).

O lado bom disso, é que com os pequenos desajustes dos outros personagens, conseguimos juntar fragmentos que nos mostram que ele, pode até não parecer, mas sabe sim ser altruísta. Como quando conta a Beth a ajudinha que deu ao irmão para convidá-la para sair pela primeira vez. Esse empurrãozinho foi fundamental para fazer a cunhada absorver o real motivo da relutância de Randall em se abrir à adoção de uma criança mais velha. Foi esse pequeno toque do Kevin que fez Beth alcançar o pânico do marido em lidar com o imprevisível e com algo que ele não pode prever 100%. O menino que cresceu querendo provar seu valor a todo custo, tem na aleatoriedade da vida seu maior medo. Filhas perfeitas e sem problemas comuns a todos os recém-nascidos? Adotar um bebê novinho e assim, ter mais segurança sobre a sua futura personalidade? Casamento bem sucedido sem nada que o abale? Emprego numa grande e previsível empresa? Tudo isso dá match com o jeito Randall de tocar a vida.

Divulgação/NBC

Acontece que na visão muito mais assertiva e real da Beth, muitas coisas na vida não têm como randalizar (hahahahaha adorei esse termo). Isso vale especialmente para os filhos, que são literalmente, uma caixinha de surpresas. Claro que uma criação bacana influencia muito no futuro dos rebentos. Mas, existe uma coisinha que se chama personalidade, que é algo pessoal e intransferível, independente do pano de fundo em que foi moldada. A percepção de cada um de nós sobre as experiências que vivenciamos é única. Uma prova disso é o Grande Trio. Criado pelos mesmos pais, no mesmo contexto, com as mesmas oportunidades e amor, mas cada um deles encara a vida sob uma ótica totalmente particular. E, diante disso, fica complicado teorizar em cima de medo do que está por vir. O futuro de qualquer ser humano é uma página em branco e não é o fato de começar a ser preenchida da forma esperada que te dá a certeza que não venha a ser completada em linhas tortas. Então, Randall, aprenda com Beth e mate nos peitos! Pensar, nesse caso, não vai te trazer nenhuma garantia sobre o grande desafio que é criar/se responsabilizar por alguém no mundo. 

E é aqui que chegamos em Rebecca. Imagino que assim como a maioria das mães, ela errou com a filha na tentativa de acertar. Não vejo como maldosos os cuidados na infância com o canto e alimentação de Kate, ou mesmo sua falta de sensibilidade em perceber o quanto sua aura de perfeição e beleza a afastava do universo cada vez mais particular da filha. Fato é que a menina tem um bloqueio gigante com Rebecca que veio lá de trás. Que a faz interpretar seus comentários sempre como críticas, sua presença como avaliação, sua existência como uma cobrança em torno de algo que ela gostaria que Kate se tornasse. A relação de extrema compatibilidade, afinidade e cumplicidade que a menina desenvolveu com o pai, é totalmente oposta à que estabeleceu com a mãe. Com Jack é sentimento, amizade, parceria, compreensão, uma conexão que chega a ser palpável e acontece só com o olhar. Com Rebecca é formalidade, protocolo, incômodo. A mãe até tenta contornar isso, mas o coração de Kate por enquanto, está fechado para esse tipo de aproximação.

Divulgação/NBC

Kate está caminhando rumo ao seu sonho e esse momento tão mágico e que significa tanto para seu crescimento pessoal, ela só quer compartilhar com pessoas com as quais tenha afinidade e liberdade. E, por ter a sensibilidade de perceber isso, Toby foi tão fofo, mas ao mesmo tempo firme, em seu posicionamento com Rebecca (#teamkateforever <3). Ele errou ao ser permissivo e não ter impedido sua ida à apresentação, mas ele foi rápido em contornar isso e o fez da maneira mais honesta e sensível possível. Seria mesmo muito incoerente uma mãe que diz torcer pela felicidade da filha, não entender a postura dele e apoiá-lo. Será que esse não seria um primeiro passo para uma mudança no relacionamento entre as duas?

E com isso chegamos a Jack e sua luta, que chegou a ser física, contra o alcoolismo. O personagem tem muitos defeitos sim, mas me comove vê-lo agarrar com unhas e dentes as oportunidades que a vida (e Rebecca) lhe dá para ser uma pessoa melhor. Sem comentários a cena linda e amorosa entre ele e Kate. Isso, mais uma vez só me faz pensar no quão dolorosa foi a partida desse paizão tão bacana e presente, numa época em que ser pai participativo não era moda, sequer discutido e muito menos uma questão sobre a qual a maior parte dos pais pensasse. Jack é desse jeito porque é dele, porque é natural e porque ele ama o que a paternidade lhe proporciona. E fica difícil não dar uma chance pra alguém assim.

Finalizamos esse episódio com a certeza que a cena do incêndio não aconteceu logo em seguida da briga do casal (ainda bem, né?). E vimos que Jack se rendeu a um necessário processo de desintoxicação em um grupo do Alcoólicos Anônimos. Agora, só nos resta preparar nossos coraçõezinhos para a próxima semana.

Divulgação/NBC

E vocês, o que acharam desse episódio? Curtiram?


Observações:

  • Que dó do quanto o Miguel sobra com o Kevin! Estou louca pra descobrir como se deu o casamento dele com Rebecca, porque tem coisa aí.
  • O que dizer da falta de química entre Kevin e Sophie?
  • Toby tentando agradar Miguel e, de quebra, ganhar a afeição da sogra, foi até uma tacada inteligente, mas que não se comparou à sinceridade dele no show da Kate, né?
  • Foi tão fofo a Rebecca adaptar o próprio vestido pra Kate. Teve tanto amor e simbolismo nesse gesto! Uma pena que a menina já estava tão contaminada com a comparação que ela mesma estabelecia com a mãe, que acabou não curtindo o presente 🙁

Renata Carneiro

Jornalista, amante de filmes e literalmente, apaixonada por séries. Não recusa: viagem, saidinha com amigos, um curso novo de atualização/aprendizado em qualquer coisa legal. Ama: família, amigos, a vida e seus desdobramentos muitas vezes tão loucos Tem preguiça: mimimi

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Breaking Bad

Não assiste de jeito nenhum: Two and a half Men

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