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True Blood: Entrevista com Sam Trammell

Por: em 20 de agosto de 2010

True Blood: Entrevista com Sam Trammell

Por: em

sam trammell sam merlotte true blood

Ele toca guitarra e piano clássico, curte surfar, cursou semiótica na Brown, passou um ano estudando filosofia em Paris e adora a parte teórica da física.

Nada parecido com Sam Merlotte, o shapeshifter cheio de problemas e dono do bar que é o ponto de encontro dos moradores de Bon Temps em True Blood, não é mesmo? Mas ele nasceu e viveu boa parte da infância e da adolescência em cidades do interior dos estados de Virginia, Louisiana e Texas e, como seu personagem, considera-se uma pessoa reservada e batalhadora.

Sam Tramell concedeu uma entrevista à Venice Magazine falando sobre sua adolescência, sua vida profissional e, é claro, sobre True Blood, a série que o elevou ao estrelato.

Sempre é bom lembrar que esta entrevista possui spoilers para quem não acompanha True Blood de acordo com a exibição da série nos EUA.

Com tantas séries indo ar na TV hoje, como é fazer parte de uma que oferece tantas possibilidades?

É muito divertido, porque é uma série sobre um mundo fantástico, um mundo de fantasia. Alan Ball faz um trabalho incrível com os textos e o desenvolvimento dos personagens, e estamos neste mundo louco aonde você pode fazer coisas divertidas, como transformar-se em animais. E tem todo o sangue também. Somos sortudos porque nunca fica chato e os desafios só aumentam.

Numa boa história de fantasia os personagens são tudo.

Isso mesmo. Estava conversando com Alan Ball sobre isso no início da temporada e ele me falou que a cada temporada é preciso aprofundar os personagens, e com certeza é isso que eles estão fazendo agora. Acho que até mais do que fizeram no ano passado. Cada personagem está numa importante jornada da qual todo mundo sai mudado.

Você sabia sobre o quê tratava a série quando fez seu primeiro teste de elenco?

Eu sabia que havia um script à disposição de uma série do Alan Ball para a HBO. Eu sabia que queria participar mesmo antes de ler o script porque era do Alan Ball e porque a série seria filmada na Louisiana, estado onde nasci. Então eu li e adorei. Quando me encontrei com ele no dia do teste acho que ele falou que Sam era um shapeshifter, se não me engano foi ali que descobri. Lembro que ele já havia escrito os dois primeiros episódios e o terceiro estava pela metade, ele deixou que eu lesse e então comprei os livros. Estava adorando a ideia de interpretar um cara que é dono de um bar. Eu nunca trabalhei num bar, e ele é dono do bar, mora num trailer e é um cara rústico. Soou como algo familiar porque cresci em áreas rurais do oeste de Virginia e Louisiana, então senti uma conexão com este mundo do Sam. Também senti uma conexão com o fato de Sam ser uma pessoa tão reservada. O que é irônico, porque ele é o dono do Merlotte’s, que é o centro da cidade. Todo mundo sabe quem ele é, mas ninguém realmente o conhece. No início absolutamente ninguém sabe que ele é um shapeshifter. Ele tem uma relação superficial com todo mundo. Na verdade ele gosta de se relacionar com as pessoas, mas não pode aprofundar nenhuma das suas relações porque quer manter o seu segredo. Ele se envergonha de ser o que é.

Sam e Tara True Blood

Foi um momento importante para ele quando revela à Sookie (Anna Paquin) que ele é um shapeshifter.

Foi um momento importantíssimo e foi sem planejamento algum, mas ele precisava falar alguma coisa, afinal ela o viu e ela viu o cachorro.

Quando ele acorda pelado na cama dela não teve muita escolha.

Exatamente. Melhor ser um shapeshifter do que um tarado. [Risos]

Já estávamos quase no final da primeira temporada quando descobrimos que ele era um shapeshifter e foi uma guinada realmente interessante, porque fomos induzidos a pensar que ele era o assassino.

Alan meio que quis manter essa pegadinha. E teve aquela cena onde coloco umas luvas, vou até o apartamento da Dawn (Lynn Collins) e começo a agir de uma forma estranha na cama dela, no quarto episódio. Achamos que Sam teve um relacionamento com Dawn e aquilo foi uma espécie de despedida, onde o lado canino dele acabou se manifestando enquanto ele cheirava os lençóis.

Na temporada passada o arco da vilã Maryann (Michele Forbes) foi completamente focado em você e você acabou conseguindo destruí-la, mas ninguém ficou sabendo disso. Você é um herói anônimo.

É verdade. A única pessoa que sabe o que Sam fez é o Bill (Stephen Moyer). Coitado do Sam. Nunca havia pensado sobre isso.

Isso acontece direto com o seu personagem, ele se joga de cabeça nas situações e acaba não ganhando reconhecimento algum. Primeiro ele se jogou na relação com Sookie, depois com Tara (Rutina Wesley), depois com Daphne (Ashley Jones), e sempre foi rejeitado. E Daphne foi a pior de todas, porque planejava matá-lo.

É, e Daphne também foi a pior porque ela também era uma shapeshifter e era sagaz. Ela era uma pessoa sábia. O seu objetivo era me manipular, mas na verdade tudo o que ela falou foi muito útil para o Sam, e certamente o influenciou a procurar por seus parentes nesta temporada. Ela falava que não era errado ser quem ele era, que ele não era uma pessoa má e os shapeshifters não são maus. Tudo isso o levou a querer conhecer suas origens.

Ele sempre está buscando encontrar alguém que possa entendê-lo e com quem ele possa se abrir. Acho que é isso que ele busca quando procura pelos parentes.

Acho que a intenção do Sam não foi necessariamente uma busca pelo início de um relacionamento com a família. E certamente ele não pensou em iniciar uma história com eles quando descobriu quem eles são. Acho que ele queria apenas ver com os próprios olhos, conhecer os pais biológicos para ver se descobria um pouco mais sobre ele mesmo. E também foi meio por curiosidade. Era uma coisa que o incomodou a vida inteira e já estava na hora de resolver. Mas agora virou esta Caixa de Pandora que ele abriu e não tem mais como voltar atrás.

Sam e Daphne True Bkood

Foi engraçado gravar aquela cena com o pai do Sam só de cueca?

Oh, meu Deus! Cooper Huckabee é ótimo! Ele é uma pessoa tão amável e é um sulista de verdade. Mas sim, aquele figurino estava repugnante. [Risos]

Você assiste a série aos domingos?

Normalmente eu assisto em casa ou gravo para assistir depois. Às vezes recebo pessoas na minha casa para jantar e assistirmos juntos, fiz isso algumas vezes no ano passado. Mas eu gosto de assistir sozinho primeiro porque aí já sei o que esperar. É meio como assistir um momento íntimo seu e você quer ver antes o que você fez naquele momento tão particular. É meio estranho. Tem coisas que simplesmente lhe deixam envergonhado às vezes.

Você fazia teatro na época do colégio?

Não. Eu gostava muito de esportes, mas sempre achei que acabaria me tornando algum tipo de cientista.

Que tipo de ciências você estudou?

Por algum tempo eu pensei que seria um físico. Eu gostava de cosmologia, física das partículas. Então eu estava pensando em fazer física teórica, mas logo descobri que na verdade é tudo matemática. As ideias da “Scientific American” são ótimas, mas na prática é pura matemática. Eu fazia cálculo avançado e tudo, mas chegou uma hora em que meu cérebro cansou. Ou você gosta ou não gosta, porque tudo vai ficando cada vez mais complicado e dando mais trabalho. Atuar dá um trabalho dos infernos também, mas eu adoro o que eu faço e decidi continuar atuando. A física não deu muito certo.

Então os conceitos eram fascinantes, mas quando se tratava de fazer os cálculos para formular as teorias a história era diferente?

Exatamente. Ler sobre a Teoria da Supercordas e todas aquelas tentativas de unificar as forças da natureza, era ótimo. Ciência parece ficção científica às vezes. A Teoria da Relatividade de Einstein, por exemplo, as pessoas ainda não assimilam porque ainda não entendem que o tempo não é constante, porque isso soa como ficção. Dito isso, eu estava no primeiro ano da faculdade e fazia geometria abstrata quando me conscientizei de que não iria me formar em física. [Risos] Me lembro dos exames finais: tínhamos 3 horas para responder 3 questões. Era algo do tipo “Encontre o centro de gravidade de uma gema de ovo que está num prato giratório a 68 graus…” E eu ficava pensando: “Não estou nem aí! Deixem que os outros façam essas contas. Escrevam um belo artigo sobre as ideias e irei ler.”

Quando você decidiu começar a interpretar?

Eu estava no último ano e tinha um ator que era meu amigo e veio me falar que ele achava que eu deveria fazer um teste para uma peça. Eu tinha vários amigos que eram atores, achava tudo meio intimidante e não ousava me meter. Mas acabei achando legal, era meio que como brincar de casinha só que a sério – o que não deixa de ser uma verdade. Na Brown eles têm este Festival de Novas Peças, tinham umas 9 peças escritas pelos estudantes de graduação e precisavam de vários atores. Aí fiz o teste para uma delas e acabei sendo escalado. Foi um sucesso e imediatamente me apaixonei pelo processo todo. Lembro que recebi minhas falas durante a pausa para o Natal e fiquei todo animado pensando em como iria decorá-las e em como gostaria de dizê-las. Então eu fiz essa peça, depois fiz mais uma ou duas e decidi: “Agora não vou me formar. Vou para New York.”

Sam Trammell numa montagem de 2005 da peça “Rope”, no circuito off-Broadway.

Você conhecia alguém em New York?

Tinha uma menina que conheci no teatro e eu sabia que ela estava morando lá. Mas eu não avisei nem nada, queria chegar sem aviso prévio. Dirigi o carro de um amigo até Vermont e ele me comprou uma passagem de ônibus até New York. Então cheguei num ônibus com uma mala e ninguém sabia que eu estava lá. Andei um pouco pela cidade com a minha mala e aí pensei “Tomara que ela esteja aqui.” Liguei para ela e ela estava então fiquei na casa dela aquela noite. Dentro de uns dias arrumei um lugar para morar, um apartamento minúsculo e muito velho em East Village, que eu dividia com um cara que encontrei nos classificados. Então comecei a bater perna. Fui a alguns testes e a uma agência com uma foto, um currículo e alguns monólogos memorizados. Li alguns trechos para eles e me deram uns trabalhos temporários. Foi assim que comecei. Acho que o primeiro papel que consegui foi numa peça em Winnipeg com Len Cariou, que já ganhou um Tony por Sweeney Todd. Ele é um grande ator de teatro, já fez vários filmes e esteve em Damages este ano. Acabei fazendo muito teatro regional e esta peça foi a primeira delas.

E então começou a ser escalado para papéis mais importantes em peças maiores?

Para conseguir fazer teatro em New York você paga os seus pecados. É fácil fazer qualquer coisa off-off-Broadway, mas para conseguir um contrato para fazer algo no circuito off-Broadway ou na Broadway você paga seus pecados. Fiz muitos testes para várias peças e demorou até que os diretores de elenco começassem a me conhecer. Mas finalmente consegui fazer uma peça chamada Dealer’s Choice, que foi a minha primeira off-Broadway. Depois consegui um papel numa peça da Broadway [Ah, Wilderness!] pela qual recebi uma indicação ao Tony. E ao mesmo tempo comecei a fazer filmes independentes, que tinham orçamento baixo mas com papéis principais à disposição, o que era uma boa oportunidade de adquirir experiência.

Você foi o primeiro a falar sobre lobisomens lá na primeira temporada de True Blood e agora aí estão eles. Qual a diferença entre um shapeshifter e um lobisomem?

Ah, essa é fácil: os lobisomens são fisiologicamente inferiores aos shapeshifters. Essa é a nossa visão da história. Lobisomens podem transformar-se apenas em lobos e não tem muito controle sobre a coisa. Shapeshifters são muito mais avançados no universo Darwiniano. Nós podemos nos transformar em qualquer animal e nos achamos meio superiores aos lobisomens. Nós os vemos como criaturas vis e grosseiras. E sabe de onde tiramos estas informações? Dos livros da Charlaine Harris.

Fiquei sabendo que aquela cena em que você corre pelado pelo campo na primeira temporada foi gravada numa locação que possui um significado muito especial para você.

Foi numa propriedade que, há muitos anos, pertenceu à minha família. E fica perto do local onde vários parentes meus estão enterrados, nos cafundós da Louisiana.

Quando você soube que iriam gravar a cena lá?

Eu olhei a folha de chamada da produção quando fui para Shreveport e dizia lá que iríamos para Doyline. Aí já fiquei atônito, porque quando eu morava em Alexandria [Louisiana] nós costumávamos ir até lá para visitar os tios do meu pai e almoçar com eles aos domingos. Eu não conseguia acreditar, ficava repetindo “Vamos filmar lá?” E eles me disseram que o posto de gasolina onde fariam a cena com Jason (Ryan Kwanten) ficava em Doyline. Aí falaram: “Depois iremos gravar a sua cena em Lake Bistineau, que fica um pouco mais ao sul.” Peguei o telefone, liguei para o meu pai, contei o que estava acontecendo e ele não conseguia acreditar. Ele disse: “Lake Bistineau? Meu avô era o dono de Lake Bistineau.” Mais ou menos na virada para o século XX ele vendeu a propriedade para o Estado, que a transformou num parque estadual. Passamos por Doyline e dava para ver o cemitério onde minha avó e outros parentes estão enterrados enquanto passávamos. Foi literalmente uma viagem. Quando terminamos o episódio, dirigi até o sul e fiquei uns dias com a minha família em Alexandria. E quando voltei para casa fiz questão de passar por Doyline. Entrei no cemitério, olhei os túmulos de todos os parentes e falei: “Por favor, me perdoem por ter corrido pelado na terra que foi de vocês.” [Risos]

Sam Sookie Tara True Blood

Sam Merlotte é um cara que continua sempre se reerguendo para logo depois ser nocauteado novamente. Qual você acha que é a motivação dele para ir para o trabalho todos os dias e servir a cerveja e os cheeseburgers da galera?

Acho que a vida de Sam em Bon Temps, por mais horrível que ela possa parecer às vezes, é uma moleza se comparada ao que ele passou antes de chegar lá. Claro que várias coisas terríveis aconteceram como a sua falta de sorte com as mulheres e Maryann. Mas acho que, comparado ao que ele deve ter passado vivendo nas ruas, isso não é tão ruim. Quer dizer, este último um mês e meio está sendo difícil para ele em Bon Temps. Primeira, segunda e terceira temporadas. [Risos] Mas fora esse mês e meio, acho que ele reconstruiu sua vida lá e a cidade tem sido um oásis para ele. Creio que ele queira manter aquele lugar vivo e habitável para ele mesmo. Acho que ele lutará muito por aquela cidade, porque é o lugar aonde ele conseguiu se reinventar. Mas respondendo à sua pergunta: acho que ele já passou por coisas piores na vida, acredite. Ele tem preocupações maiores do que ficar chateado porque Sookie ou Tara o dispensaram.

Ou porque quase foi sacrificado por uma bacante maligna…

É, ser sacrificado é uma preocupação das grandes. [Risos] É complicado falar “Ah, hoje fui esfaqueado no peito, mas não foi nada de mais, pois tenho preocupações maiores.”

Você encontra paralelos com sua própria vida nesta história de ser nocauteado e continuar se reerguendo?

Com certeza. Isso deve acontecer com todo ator. Já me disseram “não” tantas vezes. Você precisa ter muita força de vontade para trabalhar como ator.

O que você mais gosta no seu trabalho?

Adoro a inconsistência dele. Quer dizer, amo a consistência de estar numa série que é um sucesso – e acho que todos nós iremos fazer esta série por quanto tempo deixarem – mas eu gosto de viajar. E o que eu realmente amo no meu trabalho é que estou sempre aprendendo e sempre tentando melhorar. Tento melhorar em cada uma das minhas cenas. É divertido brincar de faz de conta e levar isso a sério. E é assustador também. Fazer teatro para um monte de pessoas, fazer seu primeiro filme ou ter que fazer alguma coisa com a qual você não fica confortável. Há esta parte de ter que superar o medo que é emocionante.


Iraia

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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