O título do sétimo episódio de Vinyl, The King and I, antecipa o encontro de Richie Finestra com Elvis Presley (interpretado por Shawn Wayne Klush). Diante do Rei do Rock frustado com a sua gravadora, RCA, e também com a própria carreira, o record man tenta convencê-lo que a American Century pode se tornar o “reino do rock n roll” com Presley sentado no trono. Antes de selar o acordo, Coronel Tom Parker (interpretado por Gene Jones), o temido empresário do artista, aparece e interrompe a negociação.
Eu sempre evito fazer comparações entre Vinyl e Mad Men mesmo com muitas semelhanças – um homem de meia idade ainda tentando ter sucesso em seu trabalho, Jamie parecia uma outra Peggy Olson nos primeiros episódios – mas a cena de Richie com Presley me lembrou Don Draper usando seus melhores argumentos para conquistar um cliente. Mas Richie não é Draper e não é o seu fracasso que o desqualifica a essa analogia. Como argumentar com o Rei do Rock sobre a relevância da música se ainda é preciso convencer a si mesmo?
Vinyl me vendeu a história sobre um homem que abre a mão de milhões para se reconciliar com a sua paixão com o rock n’ roll, no entanto, entregou poucos momentos em que Richie se dedica a música e eu entendo que seja difícil manter essa paixão quando seu império está desmoronando sem a riqueza que ele precisa.
Richie não fracassa apenas com Presley, mas também na tentativa de se manter sóbrio. The King and I poderia ser o começo da mudança do protagonista, porém se rendeu ao prazer de ter um cliffhanger, uma revelação final. O problema de Richie, e consequentemente de sua aventura em Vegas, é que ele se acha um homem especial. Ele é aquele para quem Deus ou outra força superior mostrou o número escolhido – que descobrimos ser 18 depois de uma montagem explicativa. Então, Richie teria sucesso em um jogo de sorte que estava destinado à ele, mas não é assim que as coisas acontecem. Ele aposta o dinheiro da venda do avião da gravadora e perde tudo.
Uma das razões que geralmente opto por não comparar a série da HBO com Mad Men é que não me parece justo. Mesmo com nomes de peso na produção, Vinyl ainda não emocionou. Draper era um protagonista detestável que teve, assim como The King and I se propõe, pequenas odisseias. No entanto, Mad Men reconhecia quando seu protagonista não tinha força e nos deu ótimos “coadjuvantes” e é nesse quesito que o episódio me decepcionou.
Quando Richie se mantém sóbrio, Zac – que foi para Los Angeles para evitar que algo acontecesse com o dinheiro da venda e acabou levando a culpa – abusa dos pecados do chefe. O problema não é apenas as drogas, álcool e sexo, mas o comportamento desprezível à toa. Qual era a necessidade da piada do buffet sobre a Mama Cass?
Os outros personagens não tiveram tempo suficiente para causar uma boa impressão e alguns nem apareceram no episódio, como Lester e Devon, que só foi citada. Jamie teve um pouco mais de destaque, mas em plots pouco interessantes já que discutiu mais uma vez com a mãe e ajudou Clark a se dar bem com os funcionários negros e latinos da gravadora.
Richie indica no fim do episódio o caminho da própria série: de volta para o mesmo. A esperança é que os bons plots voltem com os maus hábitos do protagonista: como Devon vai se separar do marido? Qual o próximo passo de Jamie? Lester vai ser um bom empresário para os Nasty Bits? Vinyl ainda tem muito a mostrar e muita música para tocar.
Outros comentários (e mais música!):
- Antes de Zac e Richie entrarem no avião, “Surf City” toca e Jan e Dean se materializam na nave.
- Na primeira cena de Clark, os outros funcionários estão dançando “Funky Stuff” de Kool & The Gang. A música tocou brevemente no terceiro episódio.
- Duas músicas de BB King são ouvidas no episódio: “Bad Luck” e “Three O’Clock Blues”.
- Para colocar na playlist: “Strychnine” de The Sonics, “It Never Rains in Southern California” de Albert Hammond, “Doctor My Eyes” de Jackson Brown, “Lonely Stranger” de Eric Clapton e Funk #49 de James Gang.