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Vinyl

Por: em 16 de fevereiro de 2016

Vinyl

Por: em

Nova York, 1973. Richie Finestra está sentado em seu carro com uma garrafa de whisky aberta comprando cocaína. Rapidamente, o protagonista de Vinyl se movimenta para consumir o produto que acabou de adquirir. Ele arranca o retrovisor, arruma o pó com o cartão de um detetive da divisão de homicídios e enrola uma nota. Não é difícil deduzir que Richie está no fundo do poço e não tenta esconder isso de ninguém. Mas quem é ele? Quem é Ritchie Finestra que se deixa levar por uma multidão e se encontra completamente anestesiado em um show de rock?

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Criado por Martin Scorsese, Mick Jagger, Terence Winter e Rich Cohen, o novo drama da HBO é um retrato intenso e sujo da indústria fonográfica dos anos 70. Durante as quase duas horas do episódio piloto exibido no dia 14 (tecnicamente, dia 15 aqui no Brasil) e que foi dirigido pelo próprio Scorsese, Vinyl não economiza e mostra seu potencial com sexo, drogas e, claro, muito rock and roll.

Vinyl apresenta seu universo a partir do olhar de Richie Finestra, interpretado por Bobby Cannavale, acionista principal da American Century Records. Para isso, regredimos cinco dias no tempo e vemos Richie em uma reunião para vender a sua gravadora para uma empresa alemã chamada PolyGram. No estilo O lobo de Wall Street, Richie narra a sua história e apresenta outras peças importantes para a negociação: Zak Yankovich (Ray Romano), responsável pela promoção dos discos, e Skip Fontaine (J.C. MacKenzie), responsável pelas vendas. Outro personagem que soma à esse quadro, mas que não é apresentado nessa cena inicial, é Scott Levitt (P.J. Byrne), advogado da empresa e dono dos raros momentos cômicos do episódio.

Outras cenas que arriscam um pouco com senso de humor ficam por conta da excessiva exploração do consumo de drogas e da agressividade e violência que parecem inerentes à indústria. Esse não é extamente um ponto negativo da série, até porque é o que se espera de uma produção de Scorsese e da HBO. Porém, Vinyl não tem nada de novo.

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Richie é o “velho homem de gravadora” que olha para o seu trabalho com certa nostalgia, mas também desespero por não conseguir encontrar nenhuma novidade musical excitante. Ele ainda é muito bom no que faz, e percebemos isso quando ele avalia uma música do ABBA para a equipe de Arte e Repertório (A&R), mas os problemas da indústria e a maneira “suja” com que ele aprendeu a administrar tudo já o afetaram demais para ele ter algum prazer com a música (que é reservado apenas para momentos especiais como quando ele está no show da cena que abre o episódio ou quando ganha uma guitarra na festa de aniversário).

Há uma diferença clara em Richie no começo da carreira – sim, Vinyl volta até esse ponto da vida do protagonista – com o que ele faz hoje, mas o contraste também fica evidente em Jamie Vine (June Temple), assistente da American Century Records que poderia representar a animação da indústria. No entanto, nem rastros da gentileza ou fascinação do chefe com a música aparecem em Jamie. Ela tem uma relacão sensível com a música, mas já muito industrial. Diante do show de uma banda re rock (cujo o vocalista é interpretado por James Jagger, filho de Mick) que desagrada o público, ela fica impressionada com a revolta e enxerga um potencial comercial. Ou seja, não é apenas Richie que mudou, mas a música.

Se servir de consolo, Vinyl tem uma relação mais saudável com a música do que seus personagens, mas também muito exaustiva. A trilha preenche quase todas as cenas, algumas vezes sendo integrada ao cenário e outras interrompendo diálogos. Algums momentos são destacados da narrativa e parecem que saíram de algum filme musical. O silêncio é apenas usado, assim como os cortes rápidos entre cenas, para criar contrastes e evidenciar o desconforto em seus personagens.

E também não faltam referências no episódio, afinal Vinyl é uma ficção que utiliza muito do mundo real. Assim, ABBA, Led Zeppelin, Slade, Suicide, Iggy Pop e Lou Reed se tornam mais que citações e integram a narrativa da série.

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Apesar de pecar pelo excesso em muitos momentos, as atuações ficam abaixo do esperado. O cast é ótimo, mas eles não têm oportunidade para mostrar grandes performances. Olivia Wilde, que interpreta Devon – esposa de Richie e ex-modelo, aparece muito pouco e a atuação mais notável do piloto fica nas mãos de Ato Essandoh, mesmo que seu personagem – o cantor Lester Grimes – tivesse ali só para mostrar como Richie foi transformado pelo trabalho.

Ao final do longo episódio, a sensação é que Vinyl aposta todas as suas fichas no seu piloto, e apesar de mostrar muito potencial, o cansaço também é resultado. O saldo para os próximos episódios é positivo, é claro, mas assim como seu protagonista, a série ainda tem uma chance de se levantar do tumulto e recomeçar.

 


E você? Já assistiu a estreia da HBO? Gostou do resultado? Conte tudo para o Apaixonados por Séries e acompanhe as review da série!


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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