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Westworld – 1×10 The Bicameral Mind (Season Finale)

Por: em 5 de dezembro de 2016

Westworld – 1×10 The Bicameral Mind (Season Finale)

Por: em

Então é isso. Finalmente chegou a season finale de Westworld. The Bicameral Mind teve ares de superprodução hollywoodiana, com uma hora e meia de duração, fazendo jus às apostas da HBO na nova queridinha do canal. Mas, tenho que confessar que fiquei ligeiramente decepcionada com o final (foi só ligeiramente, ok?). Westworld veio num crescente absurdo de possibilidades, com episódios memoráveis (especialmente os dois anteriores a esse), que deram margem a milhões de teorias, muitas delas confirmadas. Com as expectativas lá no alto para finalmente descobrir tudo sobre o labirinto, a provável libertação dos robôs e talvez-quem-sabe uma provável fuga para fora do parque, a season finale cumpriu o seu papel de explicar um pouco, sem entregar tudo. Minha única ressalva fica para o desenvolvimento de alguns personagens centrais.

Dito isso, vou abrir aqui o meu coração: a jornada do Homem de Preto, o nosso ex-fofo-apaixonado William, foi um dos pontos do meu desapontamento. Primeiro porque achei que ele aceitou muito facilmente a não-solução do labirinto, que foi o principal combustível de sua vida nos últimos trinta anos. Segundo porque a indiferença dele com relação a Dolores do presente deixou sua motivação mais com cara de loucura, do que de amor verdadeiro. Um cara que compra um parque por causa de uma história que viveu lá dentro e dedica trinta anos da sua vida para frequentar este lugar em busca de uma resposta para suas questões pessoais, simplesmente “desiste” da sua motivação inicial e muda os seus objetivos no meio do caminho? Achei “nonsense” ele ter se cansado da Dolores, “nonsense vezes dois” ele ter aceitado a não-explicação para o labirinto (esse lugar não é para você! Oi?) e “nonsense vezes três” ele ter passado trinta anos ali para descobrir nada e se conformar com isso. Tempo demais para resultado de menos.

Dolores e Homem de Preto - season finale de Westworld

Outro ponto de interrogação para mim foi o Logan. Onde ele foi parar depois de ser abandonado pelo William no limite do parque? Trinta anos se passaram e o que foi feito dele? E quanto a Bernard? Quis muito acreditar que ele enganou o Ford e que sua morte no episódio 9 havia sido encenação, mas infelizmente, era tudo verdade mesmo. Acabei ficando sem entender porque a Maeve quis “ressuscitá-lo” se ele efetivamente não ajudou em nada. Ok, ele até soltou a deixa mega óbvia de que alguém (Ford, né?) havia alterado a Maeve e a programado para toda aquela rebelião pessoal, mas confesso que esperava mais ação/revolta dele diante de todas as memórias que conseguiu recuperar.

O fato de descobrirmos que toda a ousadia da Maeve não passou de mais uma narrativa de Ford, mesmo esperado, me frustrou de certa forma. Mas temos que admitir que estava muito estranho ela fazer tudo que fez sem que ninguém relevante tomasse alguma medida mais drástica. Eu era do time que queria que alguma coisa em Westworld surpreendesse o Ford, pra ver como ele lidaria com o improviso. Mas tudo bem, deuses são deuses, né? Surpresas ficam reservadas só para nós humanos mesmo.

Anfitriões e Felix - season finale de Westworld

O ponto alto do episódio pra mim foi Dolores descobrindo que o tempo todo quem ela ouvia era a si mesma, numa inferência muito poética à criação da autoconsciência. Lindo também o diálogo entre ela e Arnold/Bernard, onde ele explica que a chave para a liberdade dos anfitriões era mesmo a autoconsciência e que ter a certeza da existência dela nos robôs, o levava a desistir do parque. Respondendo às perguntas que fiz no Primeiras Impressões, Arnold acredita que sim, é a autoconsciência que nos confere humanidade.

E se estamos lidando com máquinas que desenvolveram essa capacidade, qual seria mesmo a diferença entre elas e nós? Para o Arnold, nenhuma. Para o Ford, talvez nenhuma também. A diferença crucial entre eles é que o Ford jamais desistiria de bancar Deus e em nome disso, tudo bem apagar as memórias dos robôs até o limite e quando eles começassem com os devaneios, desativá-los para sempre. Para o Arnold, essa descoberta era o limite ético que ele jamais cruzaria. Foi bacana também descobrir que Ford tem sentimentos. Ele deixou isso bem claro quando afirmou que o despertar dos robôs tem a ver com o sofrimento, dando como exemplo seu sofrimento pela morte do Arnold. Quer algo mais humano que isso?

Dolores - season finale de Westworld

O final do episódio deu margem a muitas especulações sobre a linha central da segunda temporada. Deu pra perceber pela cena dos samurais, pela nova logo que apareceu em uma das cenas do Hector e pela mensagem que Felix entregou à Maeve (onde estava a localização da sua filha, dizendo Parque 1), que Westworld é apenas um dos parques daquela brincadeira toda e pode ser que essa trama oriental em outro parque, seja o cenário da temporada dois. A pane final na energia, somada ao massacre da Dolores e ao provável estrago que a rebelião de robôs irá causar praticamente decretou o fim do Conselho da Delos. E o recado que o Ford dá ao Bernard é quase que o preview da temporada 2: “Você precisava de tempo para entender seu inimigo e ficar mais forte que ele. E para escapar deste lugar, você precisa sofrer mais.

Ford e Bernard - season finale de Westworld

E só a tolinha da Hale mesmo para acreditar que Ford se renderia a uma intimação dela e anunciaria a sua aposentadoria com a mesma tranquilidade com que apresentou sua nova narrativa. Me poupe, Hale! Foi maravilhoso ver a cara dos convidados horrorizados com o gran-finale. E Dolores, honrando sua transformação e amadurecimento ao longo dos anos no parque, tinha que ser mesmo a personagem central disso. E alguém duvida que o Ford assassinado era um anfitrião criado por ele mesmo apenas para dar o toque de horror que a cena pedia? Como ele mesmo disse: ele sempre adorou contar histórias. Quer final melhor para a história dele do que a sua morte como a precursora do caos total?

Fato é que uma narrativa com tantas camadas e com intenção de chegar à quinta temporada não poderia entregar tudo de bandeja no final da temporada 1. E não dá pra negar que expectativas pessoais frustradas à parte, Westworld é sim uma obra-prima. Resta torcer para que a segunda temporada mantenha o alto nível das tramas e dos questionamentos, que mesclam filosofia e ciência e dão margem a tantas teorias maravilhosas. É muito difícil ver uma série que estimule tantas discussões, ao mesmo tempo que mantém a curiosidade e interesse do público lá em cima. E que, diga-se de passagem, bateu até GOT em audiência. Bye, temporada 1! Te esperamos de braços abertos temporada 2! E vocês, o que acharam do final?

Imagens: Divulgação HBO


Renata Carneiro

Jornalista, amante de filmes e literalmente, apaixonada por séries. Não recusa: viagem, saidinha com amigos, um curso novo de atualização/aprendizado em qualquer coisa legal. Ama: família, amigos, a vida e seus desdobramentos muitas vezes tão loucos Tem preguiça: mimimi

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Breaking Bad

Não assiste de jeito nenhum: Two and a half Men

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