A morte mexe com as pessoas. A simples ideia da finitude da vida já é suficiente para despertar inúmeras emoções e os mais variados comportamentos. Sendo assim, quando alguém próximo morre, as reações se tornam ainda mais intensas e danos psicológicos e/ou emocionais são esperados. É inegável que, gostando ou não da pessoa que partiu, aquilo terá um impacto na sua vida, o que não significa que sua reação será necessariamente imediata.
Em Men Get Strong vemos Jimmy lidando com carga emocional desencadeadas pela perda pai. Ou melhor, lidando com a falta dela. Gretchen, em mais um de seus típicos ataques de egoísmo, resolveu que precisava fazer com que o namorado chorasse e resolvesse de uma vez toda aquele problema, evitando que desmoronasse em algum momento inoportuno, como seu tão esperado cruzeiro. É óbvio que nenhuma de suas tentativas funcionou. Qualquer pessoa que analisasse um pouco a situação perceberia que forçar sentimentos estava longe de ser um bom plano, mas se os personagens de You’re The Worst fossem minimamente racionais a série não teria a mínima graça.
De qualquer forma, acredito que, apesar de tudo, Jimmy amava o pai. A cena no episódio anterior em que liga para o homem afim de lhe dizer poucas e boas, mas acaba apenas lhe contando que vendeu seu livro é uma prova da existência de algum sentimento. A primeira reação do escritor a essa perda, no entanto, foi se sentir entorpecido. É comum ficar paralisado e incapaz de ter qualquer reação em momentos assim. Como se a ficha não caísse e você se encontrasse congelado no tempo. Ainda assim, mesmo após o choque ter passado, o loiro continuou afirmando que não sentia nada. Tentar evocar memórias não funcionou como o esperado e, ao fim do episódio, a emoção que tomou conta do personagem foi o alívio. A morte do pai parecia vir libertá-lo de uma necessidade patológica de aprovação e da perpétua sensação de fracasso. Algo que talvez provavelmente é real.
Por meio segundo tudo pareceu resolvido. Problema superado, memórias bem guardadas, o momento perfeito para seguir em frente. No entanto, a maravilhosa cena final, em que a gaveta, com objetos do pai do rapaz se abre sozinha, deixa claro — da forma mais metafórica possível — que essa história está longe do seu desfecho. Na temporada passada, a depressão de Gretchen foi sendo desenvolvida de forma brilhante e gradual, acredito que veremos algo similar acontecendo com Jimmy. Ao longo dos episódios essa morte deve se tornar mais real para o personagem, chegando a um ponto em que o veremos finalmente quebrar e se render ao luto. Como a psicóloga de Gretchen pontuou, isso é inevitável. Tentar guardar os sentimentos dentro de uma gaveta apenas fará eles emergirem no momento mais inesperado.
Enquanto isso, Lindsay também se via tocada pela ideia de morte, porém de uma forma bem diferente. Em uma das melhores cenas do episódio, a personagem mais sem noção dessa série — sobre pessoas sem noção nenhuma — se deu conta que teria um filho e que um dia morreria. Portanto, para que, ao contrário de Jimmy, essa criança se importasse com sua morte ou cuidasse dela durante a velhice, ela deveria ser uma boa mãe (ou um bom pai, como você preferir). Ignorando o egocentrismo óbvio por trás desse pensamento (não que pudéssemos esperar algo diferente da personagem), o que sucedeu a essa quase epifania foi bem interessante.
A moça acabou descobrindo que possuí um talento nato para a maternidade, algo que não deixou sua irmã nada feliz e pareceu apenas reforçar que Lindsay não quer ser mãe. Pelo menos, não dá forma como parece encarar a maternidade. A melhor amiga de Gretchen definitivamente não foi feita para uma vida de comercial de margarina ou para passar o resto de seus dias resumida ao papel de mãe. Na verdade, nenhuma mulher foi feita para isso. Acredito que ter filhos seja uma tarefa difícil e extremamente complexa, mas não necessariamente limitadora. Ainda assim, isso não muda o fato de que Lindsay está infeliz com todas as esferas de sua vida, especialmente o casamento com Paul, que nunca deveria ter retomado.
Dessa forma, em um misto de desespero, sufocamento e sua loucura habitual, a mulher acabou tentando beijar um completo desconhecido, que não ficou nada contente com o assédio. Lindsay conseguiu fugir antes que alguém a visse naquela situação, mas deixar a girafinha, que ganhou como prêmio, cair seria uma evidência de que isso ainda vai render confusão ou apenas um símbolo de que, na verdade, está muito longe de ser um exemplo maternal?
Men Get Strong foi, então, um episódio interessante e reflexivo. Muitas questões ficaram em aberto e ganhamos muito o que pensar sobre o contexto em que cada um daqueles personagens se encontra. No entanto, senti problemas no tom de algumas piadas que não divertiram como deveriam. Outro ponto negativo, que vejo na temporada inteira até agora, é a inclusão de cenas com o único propósito de choque pelo choque, ou para evidenciar que aquelas pessoas estão longe de serem exemplos de conduta (todas as cenas do Vernon nesse episódio seguem essa linha), algo que após duas temporadas já estamos cansados de saber. De todo modo, isso não chega a comprometer a qualidade, apenas incomoda um pouco. Além disso, as tramas individuais estão tão interessantes e bem construídas que compensam qualquer deslize.
