As piadas, mais uma vez, deixadas de lado. Infelizmente a vida não é engraçada ou divertida para todos.
“Suicidal thoughts? You know the stats? Twenty-two every day.”
Na temporada passada tivemos um episódio inteiramente focado na depressão da Gretchen, o 2×09 LCD Soundsystem. Nele, adentramos na mente da personagem e acompanhamos um dia pela sua perspectiva, o tempo todo projetando expectativas nos seus vizinhos – e essas sendo cruelmente destruídas no final. Um ano mais tarde, podemos dizer que “Twenty-Two” é o novo “LCD Soundsystem”. Durante vinte e cinco minutos Edgar virou o protagonista e o resultado foi incrível.
A comédia ficou ausente, mas You’re the Worst já provou que vai muito além disso. Aliás, foi interessante ver a subversão do humor pelos olhos do Edgar. Agora os comentários ácidos do Jimmy e da Gretchen tornaram-se ainda mais ridículos, o sexo no banco de trás, ao invés de bizarro, ficou simplesmente nojento. Situações cotidianas viraram momentos de tensão, a rejeição chegou de todos os lados, a desilusão preenchia todos os espaços. Até que, enfim, Edgar encontrou alguém que entendia – e alguém te entender faz toda a diferença.
Dorothy: “If not for you, for me. I need you to try. Sometimes I see you look at me and it kind of… it scares me.”
Na série, o PTSD do Edgar era como aquele problema que tentamos ignorar. A gente sabe que está ali, que hora ou outro vai causar perturbações, mas preferimos dar espaço para outras coisas. O público estava aguardando o momento em que viria à tona e finalmente isso chegou. O criador da série contou que, parra o Edgar, a terceira temporada é sobre “tomar posse de quem você é e como você quer que a próxima fase da sua vida seja.” Assim, é esperado vermos um redescobrimento por parte do ex-veterano e, muito além, uma nova visão dos seus amigos sobre ele.
Jimmy, Gretchen e Lindsay tornaram normal o descaso com o Edgar. Os xingamentos deixaram de ser intimidade e viraram tóxicos. Claro que foi importante para a história esse comportamento, visto que era necessário levar a situação cada vez mais longe, porém chegou a hora do confronto – torço para que aconteça logo. Outro detalhe interessante: assim como Jimmy não fazia ideia de como lidar com a depressão da Gretchen, não podemos culpá-los completamente por essa forma de agir. Para eles é algo cotidiano, enquanto para o Edgar cada palavra apresenta um peso maior. O seriado acerta em representar problemas mentais justamente por mostrar os dois lados da realidade: quem possui a doença e quem convive com o portador.
Desmin Borges merece um parágrafo especial porque entregou tudo que o episódio pedia. Como coadjuvante, conseguíamos ver seu talento como ator, mas aqui ele levou para um nível superior. Em algumas cenas toda a emoção foi passada pelo olhar, com destaque para o encerramento, no carro. Foi impossível não esboçar um sorriso junto com a sua leveza.
Entretanto, no fim, o mais triste é perceber que isso transpassa a ficção. Essa é a realidade – e de muitos. Um estudo recente mostra que diariamente vinte veteranos cometem suicídio. Vinte pessoas que não receberam apoio suficiente. Vinte pessoas que não encontraram alguém que realmente entendia. Vinte pessoas desamparadas. Vinte pessoas.
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Observação:
-A matéria sobre o suicídio dos veteranos (em inglês): clique aqui.