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Os (muitos) erros e (poucos) acertos da 1ª temporada do The Voice Brasil

Por: em 16 de dezembro de 2012

Os (muitos) erros e (poucos) acertos da 1ª temporada do The Voice Brasil

Por: em

Chegou a hora de soltar a nossa voz

Terminou, na tarde deste domingo, a 1ª edição do The Voice Brasil, o reality show que veio para agitar as tardes de domingo e colocar novamente a Rede Globo no circuito de programas musicais após anos de fim do extinto Fama e consagrou Ellen Oléria, do time de Carlinhos Brown, a grande vencedora, com 39% dos votos, derrotando Maria Christina (Time Lulu), Ju Moraes (Time Cláudia) e Liah Soares (Time Daniel).

Negar os méritos que um programa como The Voice Brasil trouxe à TV brasileira, claro, é um absurdo. As tardes de domingo na televisão aberta sempre foram conhecidas como o pior horário para se sentar ao sofá e pegar o controle e, a despeito das muitas ressalvas que o programa apresentou ao longo de sua primeira temporada, uma coisa não se pode negar: Ele cumpriu a função de entreter, trazer uma parte do público dominical de volta e abriu caminho para uma segunda temporada (em junho/julho do ano que vem) que tem tudo para não repetir os erros desta aqui e se sagrar como uma atração de qualidade.

E quando se tira como padrão de comparação o quase naufragado Ídolos da Rede Record e o já enterrado Astros do SBT (Aliás, alguém sabia que a final do Astros é amanhã? Pois é.), The Voice Brasil soa como um oásis no meio do deserto, com uma estrutura melhor, um cuidado com a edição e a prioridade ao talento. Ainda há muitas arestas a aparar, é claro, mas o potencial existe. E é grande. Sua estrutura decepcionou lá no começo. Ainda nas Audições às Cegas, na primeira fase do programa, o cenário era precário demais para o porte do programa. As tão comentadas cadeiras que se virariam para os talentos que se apresentariam no palco do show eram capengas e não davam a graça necessária para o momento do ‘apertar o botão’. Fora o palco que era pequeno demais. E isso não vem como um exagero, vem como uma constatação.

O público brasileiro tem um calor absurdo e isso não dava para ser sentido na primeira fase do show devido ao distanciamento entre público e cantor. Faltava algo mais trabalhado. O espaço entre as cadeiras e o palco era um grande vazio preto. E assim evoluimos para as fases das batalhas onde a estrutura melhorou, mas não deixou de ser minimizada perante ao talento daqueles que se apresentavam. Aqui, o único ponto a notar fica no tamanho do ringue, que gerava pouca movimentação aos candidatos, que em muitos dos casos foram prejudicados por isso, já que sua canção precisava de uma interpretação maior. Por fim, o palco em que viemos acompanhando a fase mais longa do programa é aquele que mais chega perto do ideal, com uma proximidade com o público, jurados bem posicionados e espaço para ser trabalhada uma boa interpretação das canções.

Mas o calcanhar de Aquiles da temporada, por incrível que pareça, não foi sua produção técnica ou seus candidatos. Foi a pura e simples falta de organização e planejamento prévio. Assim que o programa se iniciou, o site explicava como seriam todas as etapas até que restassem apenas 4 candidatos na grande final, mas o acréscimo súbito do PEGUEI antes das batalhas fez com que todo o formato dos programas ao vivo ficasse bagunçado. Ou melhor, o problema não foi o formato, mas a falta de um. Toda semana, as regras mudavam. Se hoje saíam dois, próximo domingo poderiam ser três. Ou um. Ou quatro. Tornou-se, para o público, impossível imaginar o que iria acontecer (e isso não vem como um elogio) e o programa ficou mais de um mês no ar sem uma estrutura mínima que o sustentasse. O resultado? Uma final com OITO candidatos totalmente desnecessária, já que a primeira parte foi apenas para jogar na disputa de fato as 4 candidatas que o público já havia salvo na semana passada.

O formato de votação também é algo que beira o absurdo. Não se pode deixar de falar que, sim, houve uma melhora, já que na primeira semana de apresentações ao vivo, o público teve pouquíssimo tempo para votar no 3º candidato de cada time, já que as linhas eram fechadas antes do intervalo. De qualquer forma, o esquema montado a partir do outro domingo, com os votos seguindo pelo intervalo, melhorou, mas ainda passa longe de ser o ideal. Qual a lógica de que os números sejam passados antes que o público ao menos escute o candidato cantar? É como se o programa quisesse fazer com que se votasse pela trajetória do cantor e não pela apresentação o que, por mais que não seja de fato injusto, é irreal. A pressa em fazer apresentações + resultados no mesmo dia terminou levando o programa a uma correria desenfreada que só não foi mais desastrosa pela edição que conseguiu encontrar o tom certo e é um dos destaques positivos da temporada.

A pressa gerou também um determinado descaso com a opinião dos nossos jurados depois de cada apresentação dos seus respectivos times. Muitas vezes cortados pelo tempo ou pela demora excessiva de outros (leia Carlinhos Brown), as apresentações pareciam um mero detalhe para a decisão do público, como já levantado anteriormente.

E aproveitando que a bola foi levantada, falemos sobre os jurados do programa. Sem dúvidas, a escalação não pareceu convencer logo de início – o que realmente aconteceu no primeiro programa, com um baixíssimo carisma de todos eles. Mas com o decorrer da temporada, eles aprenderam a jogar e jogar muito bem, claro, com determinadas ressalvas. Nosso príncipe Daniel e a mais alta patente Lulu Santos foram os que mais acertaram. Com carisma singular e propriedade na hora das escolhas ou eliminações, os dois trilharam para ser os times da propriedade vocal.

Claudinha Leitte foi a mãezona que todos esperávamos, porém isso não foi de tudo bom. Em muitos momentos, a decisão da jurada ficava muito superficial e com pouco foco no vocal dos seus cantores, o que acaba incomodando com o tempo (o discurso de escolha dela na final de hoje foi um dos mais fracos). E Carlinhos. Como podemos começar? Um dos maiores erros da versão. Chato e enrolado, cada decisão do jurado era o momento em que muitos queriam mudar de canal, o que deve ter incomodado inclusive a direção do programa. Uma vez, tudo bem. Duas, ainda vá. Agora todo programa a mesma coisa? Ninguém tem paciência para isso. Faltou o foco na qualidade vocal de seus candidatos – que acabaram ganhando – enquanto tinha enrolação de sobra. E essa foi sua sorte, um time super forte.

Na real, essa foi a sorte da versão como um todo. Todos os times tinham grandes vozes competindo pelo prêmio, o que facilitava muito. A tão comentada (e desnecessária) final de oito pessoas veio para corroborar com isso. Além das belas apresentações dos oito candidatos, pudemos conferir a volta de alguns queridos pelo público ao lado de seus jurados, o que foi muito bacana. Foram grandes e belíssimas vozes que passaram por aquele palco, algumas injustiçadas pelas preferências da audiência, mas todas com muita qualidade e comprovando que o programa está realmente disposto a achar uma voz que tenha o poder de ir mais longe, tocar o público, ao vivo ou pela tv. Em qualquer lugar.

A final (realmente final, com 4, não aquele absurdo de 8) é um exemplo. Chega a ser irônico que um programa que tanto errou em estrutura, tenha acertado em candidatos. Ellen venceu com todos os méritos, mas se Maria Christina, Liah ou Ju fossem declaradas vencedoras, quem teria coragem de dizer que seria injusto? Todas, sem exceção, eram merecedoras de estar ali e qualquer que fosse o resultado, o programa teria uma primeira vencedora digna. Há que se citar, também, figuras como Marquinhos OSócio, Alma Thomas, Rafah Garcez e Mira Callado, que embora não tenham chegado até a final, fizeram bonito no tempo em que estiveram.

E se a orquestra funciona, é porque seu maestro estava impecável. Assim que definimos essa primeira temporada. Não foram os jurados que cativaram, foi Tiago Leifert que cativou o público e fez com que continuássemos, semana após semana, acompanhando a saga para escolher a nova voz do Brasil. Acompanhado de Dani Suzuki, o cara levou o programa do jeito que brasileiro gosta, com um timing perfeito e mostrando mais uma de suas inúmeras facetas – o que gera uma preocupação para a segunda temporada do programa, que talvez não o tenha como comandante. Rede Globo, pense bem antes de fazer uma coisa dessas. O público já foi cativado. Mudar pode ser um erro fatal. Por isso, apoiamos a campanha: #FicaTiti.

Mas o porquê de tantas críticas? Esse é o problema de comprar um formato já famoso lá fora e pior ainda, conhecido no mundo dos seriadores. Comparações são inevitáveis e a Rede Globo certamente sabia disso. The Voice se firmou como um dos programas de maior sucesso nos Estados Unidos e é óbvio que são duas realidades totalmente distintas, mas ao se assistir toda a grandiosidade e o cuidado que a NBC tem com sua versão do programa, não dá pra não ficar um pouco decepcionado com o The Voice Brasil. Se dá um desconto já que essa temporada era a versão de “testes”. Mas fica a dica para o ano que vem: uma estrutura melhor, um planejamento prévio das etapas e um jurado que ocupe o lugar de Carlinhos Brown são coisas a se pensar.

Enfim, foi a primeira temporada de um show que tem tudo para dar certo e por muitos anos. Acertos existiram, assim como os erros, que servem para a emissora tentar aparar as inúmeras pontas soltas dessa temporada, acertando na sequente. Depois de tudo que vimos, sabemos que qualidade vocal não faltará, então, com um juri mais preparado – e já sabendo como é a estrutura do programa, um formato definido (do início ao fim) e uma estrutura que suporte o tamanho do show, The Voice Brasil se firmará como um dos grandes programas da atualidade, merecendo tal posição.


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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