Via de regra, é bem mais fácil falar de uma série quando ela acerta do que quando ela erra. Bem, a máxima não se aplica a The Newsroom. A nova série de Aaron Sorkin tem um texto tão afiado e tão perturbador (a depender do ponto de vista), tão cheio de camadas e tão fundamentado que qualquer coisa que se escreva a respeito vai parecer pequena. Vi muita gente reclamando deste segundo episódio, mas pra mim, ele não deveu em absolutamente nada ao fantástico piloto.

Eu me interessei pela série logo de cara. Sou fã declarado do texto do Sorkin desde sempre, além de estudante de jornalismo. A junção do meio, do criador, de um canal fechado (porque não queremos o mesmo destino de Studio 60, não é verdade?) e de um elenco que parece ter sido escolhido a dedo não tinha como dar errado e realmente não deu.

O que eu mais gostei em The Newsroom até agora foi o clima que sabe ser, ao mesmo tempo, descompromissado e sério.

Mackenzie e Will são, em certa análise, esses dois polos distintos.

Enquanto ela traz um alívio cômico e tenta a todo custo imprimir uma normalidade ao trabalho, ele se mantém duro como uma rocha. A construção do relacionamento dos dois vem sendo feita gradualmente e é bacana que, assim como o pessoal da emissora, a gente também não saiba muita coisa sobre eles e vá descobrindo aos poucos. Os dois funcionam tão bem em cena que nem parece que a gente os conhece há 2 episódios.

Desde a reação da Mac no episódio passado, já dava pra ter sacado que o relacionamento dos dois não tinha dado certo no passado por alguma burrada dela. Eu cheguei a cogitar traição e até gosto que tenham ido por esse caminho “mais fácil”. Às vezes complicar demais só dá trabalho. O confronto dos dois no escritório (pós envio do email) foi a melhor cena do episódio e a amargura que o Will escorria pela boca me faz crer que a relação entre eles não vai voltar ao normal tão rapidamente assim.

O bacana é também a discussão de ver até onde é saudável misturar relacionamentos pessoais e trabalho. Mac e Will são profissionais acima de tudo e isso fica claro no modo como cada um se porta para com o outro durante a produção do News Night 2.0. Ok que a explosão do Will no final, ao vivo, foi corajosa e antiprofissional, mas o próprio admitiu isso e errar uma vez (especialmente no nível de estresse que ele estava) acho que é justificado. Duvido que ele vá cometer o mesmo erro.

De certa forma, foi bom a história da traição ter vindo a tona, assim tanto ele quanto Mac puderam dizer tudo que ainda não havia sido dito. Agora é tirar a lama das botas e seguir em frente. Vai ser interessante assistir ao programa ganhar forma. O discurso da Mac no começo do episódio me animou bastante e o debate entre o que noticiar e o que deixar de lado foi uma das minhas partes favoritas. “I dont want to feel sorry for anybody. I want the facts, and neither of them can provide facts.”

Essa dualidade entre o pessoal e o profissional também apareceu na figura de Maggie, em vários momentos. A personagem é uma das mais interessantes, daquelas que eu quero realmente ver crescendo pouco a pouco ali, porque vejo espaço para isso. O relacionamento com o Don a limita um pouco, mas é interessante observar o modo como ela o questiona se a promoção  só veio porque eles estão juntos.

Ver Don praticamente confirmar isso me deixa ainda mais duvidoso quanto ao cara. De todos, ele é o único que eu ainda não sei o que esperar. Às vezes acho que ele vai acabar passando a perna no Will, às vezes ele parece ser um cara legal. Mas acho que, no fim das contas, é até bom esse quebra de maniqueísmo dos personagens; ninguém é bom ou mau o tempo inteiro. O que parece certo é que ele e o Jim devem trocar alguns socos.

O amigo da Mac é, até agora, meu personagem favorito. Foi ótimo vê-lo questionar a Maggie sobre o telefonema e a relação dela com a fonte (que, a meu ver, foi o principal ponto da discussão do episódio, junto com o caso de Mac e Will). Ok que ele assumir a culpa de tudo foi extremamente clichê, mas alguém esperava alguma coisa diferente? Só não consigo imaginar se ele fez isso porque queria protegê-la de verdade ou estava seguindo a risca o conselho da Mac de se aproximar. Acho que acabou sendo uma junção dos dois.

Vejo potencial verdadeiro no personagem, tanto para a comédia (eu me acabo de rir com o jeito desastrado dele) quanto para a seriedade (o modo como ele se coloca diante de uma situação de emergência é de bater palmas).

Outras observações:

– Só eu senti uma crítica quando a Mac diz que vai dar um novo quadro para a Sloan pelas pernas dela? Sorkin, você é o cara.

– Interessante ver como praticamente TODOS os personagens têm uma imagem negativa de Will. Quero ver como ele irá reverter isso (e se irá, claro). Já dá pra ver que o cara tem um bom coração só pelo gesto do final.

– A questão dos números de audiência também foi interessante, assim como o questionamento que todos se fazem, entre o número de views e a qualidade. É o velho debate da adequação dos meios de massa ao gosto do público majoritário.

– Amo aquela abertura!

– Are you in or are you out?

– Semana que vem o review sai mais rápido. Prometo.