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The Affair 2×08 – Episode 8

Por: em 26 de novembro de 2015

The Affair 2×08 – Episode 8

Por: em

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Para os gregos, Mnemosine é a deusa da memória. Suas filhas são as musas. Elas se apoderam dos artistas e os influenciam a produzir toda espécie de arte. Para os gregos a fonte de inspiração está na memória. O cerne da inspiração é a memória. Noah Salloway sabe muito bem disso, afinal está em turnê de divulgação de seu segundo livro, Descendent. As nossas memórias tem o poder de nos afetar indefinidamente.

Freud encara Roma e Pompeia como metáfora arqueológicas: Roma são as ruínas que sempre voltam, assim como nossas lembranças. Elas estão ali, prova indelével de um passado que, de fato, existiu. Roma emerge. Construir sobre Roma é ter sempre que lidar com restos que veem à tona. Pompeia foi destruída. Não há resquícios de Pompeia. A única maneira de construir sobre ela é recalcando (não no sentido de Valesca) sua existência. É como se Pompeia nunca tivesse, de fato, existido.

O episódio dessa semana de The Affair mostra que a relação entre Helen e Noah é Roma. Seria impossível ser o contrário. Na primeira metade do episódio, a ex-Solloway leva Whitney para um turnê pela faculdade onde eles mesmos estudaram. Se antes havia rancor e culpa em referenciar o passado, agora há certa condescendência. A filha, mimada como sempre, se lança em uma de suas poucas atitudes altruístas: tirar Helen da letargia que se seguiu depois do divórcio tumultuado. Com esse objetivo vale tudo, inclusive, criar um perfil no Tinder.

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Mas nada adianta. O destino é debochado, assim como a própria vida. Noah está na mesma cidade em que as duas, fazendo uma turnê de divulgação do livro. Com Whitney conhecendo seu novo dormitório e (isto é, se ela decidir realmente ir para a faculdade) possível colega de quarto, Helen acaba indo conferir a quantas andam o trabalho do ex-marido. E vai parar diretamente numa dessas leituras de trechos de um dos mais novos best sellers.

Em Episode 8, a parte de Noah não destoa das memórias de Helen. Os acontecimentos são praticamente os mesmos. É engraçado como é muito mais fácil não odiar Noah pelos olhos de sua ex-mulher, quando muitas vezes, julguei que isso fosse impossível. Talvez por ser um babaca ou por não se perceber como uma pessoa digna, Noah se retrata como um escritor arrogante, incapaz de receber críticas, beberrão e que quase trai a noiva (e provavelmente vai acabar fazendo isso). A recíproca também é verdadeira: nas memórias dele, Helen é bem mais doce e compassiva.

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É  sobre memórias esse episódio. E o quanto elas nos afetam. Visitar os lugares onde os protagonistas viveram sua juventude e se apaixonaram é desolador mesmo que ofereça a esperança da continuidade. A vida continua, mesmo quando as coisas saem do eixo. A vida continua e Helen é forte o bastante para continuar. Embora algumas vezes as memórias sejam as únicas coisas que possuímos, sempre me pergunto em qual proporção podemos confiar nelas. São apenas impressões, fotografias de um acontecimento, que podem ter sido enquadradas de diferentes maneiras de acordo com quem manipula a câmera.

Outra coisa que me chama atenção é até onde podemos ir por aqueles que amamos (ou amávamos). Me vi em Noah (embora a contragosto) e me vi também em Helen. É aqui, principalmente, onde ela se torna o melhor personagem dessa temporada. Seu carinho e o senso de preservação dos seus (tanto o ex-marido como os filhos) podem levá-la ao extremo.

A resposta está na chupeta.

Antes de acabar

  • A cena das leituras é impagável. A expressão de Helen é de partir o coração.
  • Como um cara noivo, com uma companheira grávida, pode flertar duas vezes: primeiro com a fã e depois com a publicista?
  • A briga no bar foi boa. Noah precisava ter apanhado um pouquinho.
  • A cena do bar é mais um desses momentos onde a TV se supera. Tão bonita, tão melancólica e tão cruel. Parabéns aos envolvidos.

Daniel Matos

Ex-gordo, fã de televisão e da Palmirinha.

Belo Horizonte

Série Favorita: The Good Wife

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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