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The Fall – 3×01 Silence and Suffering / 3×02 His Troubled Thoughts

Por: em 11 de outubro de 2016

The Fall – 3×01 Silence and Suffering / 3×02 His Troubled Thoughts

Por: em

Com um pouquinho de atraso, venho aqui comentar com vocês o início de temporada de The Fall. Para colocar ordem na casa vamos mitigar de uma vez Silence and Suffering (exibido dia 29 de setembro) e His Troubled Thoughts (exibido dia 6 de outubro), assim ficaremos em dia para acompanhar a temporada final deste magnífico thriller.

“Eu não quero que isso acabe assim. Não gosto disso. Sem processo judicial, sem sentença, sem punição. Sem encerramento para para as famílias. Eu quero que ele viva. “ – Stella Gibson

3×01 – Silence and Suffering

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Assistir a season premiere foi como ver um amigo que não aparecia há décadas – um sentimento de novo e familiar ao mesmo tempo. Da última vez que vimos  Paul Spector, ele estava entregue à morte nos braços da sua algoz Stella – sangrando em decorrência de um tiro, disparado em uma confusa situação onde o marido de uma das mulheres que ele assistia como conselheiro invadiu a operação para encontrar Rose Stagg.

A 2ª temporada se encerrou com os dois trocando um profundo olhar, onde poderíamos depreender muitos significados – mas precisamos dos acontecimentos posteriores para compreender. Mas uma coisa a gente tinha certeza:  não era o fim – não poderia ser daquela forma que a história de um pai de dois filhos, casado e serial killer com a necessidade intrínseca de estrangular mulheres teria o seu desfecho. No ensanguentado cenário dois personagens muito fortes estavam em seu momento mais enfraquecido, encarando-se e se reconhecendo, aparentemente vendo-se um ao outro no olhar do outro.

Antes de mais nada é bom falar que The Fall ofereceu à nós algo que é muito difícil de encontrar atualmente – uma trama de qualidade, que construiu lentamente o seu desenvolvimento. Não perdemos tempo com casos pontuais, tudo convergia para o momento em que a brilhante Stella conseguiria impedir que mais mulheres fossem vitimadas. Sempre foi claro na série que não tem essa de bom e mal, onde ambos os lados possuem similaridades, deixando as vezes tudo muito embaçado. Há também uma abordagem muito interessante de como a Lei pode as vezes se prostar diante do que nós, seres humanos, consideramos ser justo. Há muita burocracia à ser cumprida antes de se atingir um objetivo, e essa 3ª temporada começou mostrando muito bem isso.

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Os dois primeiros episódios mostram as horas imediatamente subsequentes ao tiroteio que vitimou Paul – O esforço de Stella em leva-lo imediatamente para o hospital, que acabou ditando um tom quase de reality show médico americano… quer dizer, irlandês. Era a contraposição entre a tecnicidade clínica dentro da sala de operação, onde tentava-se desesperadamente salvar a vida de um assassino – com o peso caindo nos ombros da detetive do lado de fora. A impressão que eu tive é que por algum tempo ela fez uma digestão forçada do que havia vivido, com o mundo todo girando e ela ali do outro lado da porta, toda suja de sangue, pela primeira vez impotente diante de uma situação.

The Fall foi bem didática em sua forma de retratar uma experiência de quase morte. Literalmente Paul estava seguindo em direção ao fim  do túnel, quando é violentamente freado pelos esforços dos médicos. Ele então decide seguir a pé. Parece até infantil a descrição, mas coube muito bem dentro da narrativa, que se ateve à sua característica tangibilidade. O clichê aqui não incomodou, já que a metáfora focou nas vozes da mãe e da filha – uma tortuosa escolha entre a vida e a morte – mas o amor por Olivia fez com que ele desse meia volta, nos dando certeza de que ele sobreviveria.

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O episódio foca basicamente nos esforços para salvar a vida de Paul. Ele está criticamente ferido e perdeu muito sangue. O processo de atendimento pela emergência, com ele sendo preparado para cirurgia, as decisões sobre ele sendo calculadamente tomadas, sem  nenhuma pressa – focando nos detalhes. Aparentemente The Fall quis levar a experiência para dentro da casa dos seus expectadores, dando tempo suficiente para pensarmos se aquele homem merecia ou não ter mais uma chance de viver. Não teve gritaria, correria, passagem de tempo.. apenas a construção bem realística do que estava acontecendo dentro do hospital.

Estável, o clima fica muito pesado dentro do quarto de UTI que ele é instalado. Curiosamente, à ele é concedido mais privacidade e observância do que para com a sua vítima, que dividia a área comum com os outros pacientes. Também é dado enfoque à dedicação da enfermeira responsável por monitorá-lo, quase que o tempo inteiro – mais uma vez nos fazendo questionar se ele faria jus à tudo aquilo.

Particularmente, me agradou a cena entre Stella e Tom – ali ele perguntou o que todos nós queríamos saber desde o final da 2ª temporada. As vezes parece que apenas Stella é a voz da razão na série – e a sua réplica não foi nenhuma surpresa, mas sim de inusitada amabilidade. A detetive superintendente Gibson é uma mulher eficiente, não muito acostumada à deixar transparecer suas emoções. Apesar de sabermos que ela se importa (e muito), ela é sempre muito reclusa, não deixando afetar-se na frente dos outros. Vê-la em uma perspectiva tão humana e próxima de alguém proporcionou um agradável momento.

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Rapidamente vimos os reflexos nos outros núcleos: Katie, em sua obsessão pelo vizinho, teve pouco tempo de tela – mas mostrando que pode ser crucial em uma eventual tentativa de fuga de Spector. Rose Stagg está viva e menos traumatizada do que poderia estar, podendo indicar também uma reação poderosa para sua personagem no futuro. Olívia finalmente tem o primeiro contato com a realidade ao ler sobre o pai na internet e sorrateiramente disfarça da mãe – ou seja, todos os personagens foram colocados no nosso radar.

3×02 – His Troubled Thoughts

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A burocracia envolvida em uma investigação foi o foco do 2º episódio da temporada. De uma forma enervante, toda a operação de Stella para salvar Rose foi posta em cheque – ficando muito claro que os questionamentos em sua maioria eram decorrentes do fato dela ser uma mulher. Tanto a sequência dela no carro com Jim, quanto o posterior encontro com a sua oficial na escada, trouxeram mais uma vez a problemática do sexismo dentro do meio policial (assim como em todos os outros). A lição que ela dá na escada serve para todas nós – na vida.

His Troubled Thoughts entrelaçou a trama com todos os acontecimentos do final da 2ª temporada, em uma perspectiva operacional. Afinal, a confusão armada por Tony na floresta não passaria em branco diante de uma organização que preza pela destreza, ainda mais tendo Stella no comando – certo que já existe uma pré-disposição contra a detetive, pelos mais diferentes fatores, e isso é algo que vem pinicando desde que ela entrou em cena para investigar os feminicídios em Belfast.

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O esforço agora da equipe deve ser dobrado – pois com um bom advogado apontando negligências acerca do trabalho, Paul pode – na pior das hipóteses – sair livre de tudo, pelo fato da legalidade as vezes não ser sinônimo de justiça. O foco agora deve ser reunir o mais concreto conjunto de provas, que vão muito além de uma eventual confissão – para fazer um caso indubitável contra alguém, em qualquer tribunal sério, você precisa arrolar ao máximo tudo de mais sólido que possa existir contra alguém. É nisso que Gibson está engajada – ou seja, muito difícil alguém ficar na sua frente.

Tanto que, rapidamente, eles localizam um depósito onde Paul guardava o veículo que utilizava para praticar seus crimes. Foi doloroso ver Stella realizar que Rose só acabou naquela precária situação de quase morte pelo fato deles terem interceptado o suspeito antes que ele pudesse levar os suprimentos para sua vítima. Contrapondo-se à esse sentimento, também houve o alívio um pouco sádico de encontrar a mala onde ele guardava as roupas íntimas das mulheres que perseguia, logo acredito que apenas a própria corporação.

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Enquanto isso, Paul recobra os sentidos no hospital – supostamente desnorteado. The Fall joga com seu espectadores desde o começo quando foca no serial killer. Psicopata ele não é, pois ele já se mostrou capaz de ter sentimentos para com a sua família e até outras mulheres, vide o seu trabalho no serviço social. Ele possui uma dimensão mais profunda, um desvio, onde ele enxerga todos os seus crimes como algo que lhe é direito. Não é a redenção do personagem que The Fall propõe, mas sim cristalizar a humanidade dentro dele. É um paralelo entre ser a escória da humanidade, mas um homem capaz de – dentro dos seus devaneios – olhar a filha surpreso com o seu crescimento. Nesse recorte, conseguimos ver que há sempre uma luz nas trevas e uma escuridão na luz.

Fique agora com a promo de The Gates of Light, que vai ao ar dia 13 de outubro.


Lívia Zamith

Nascida em Recife, infância no interior de SP e criada no Rio. Vivo e respiro Séries, Filmes, Músicas, Livros... Meu gosto é eclético, indo do mais banal ao mais complexo, o que importa é ter conhecimento de causa.

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita: São muitas!

Não assiste de jeito nenhum: Friends (não gosto de sitcoms)

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