Produção original da HBO, O Negócio, conta a história de três lindas e sofisticadas garotas de programa que se juntam para fincar os pés no mercado de luxo.
Karin (Rafaela Mandelli) está insatisfeita com sua situação – não ganha o suficiente e sente-se explorada pelo cafetão Ariel (Guilherme Weber) – por isso decide que pode cuidar sozinha dos seus programas. Ela é a mais pé no chão do trio. Magali (Michelle Batista) não é muito preocupada com nada e busca viver tudo de forma intensa. Já Luna (Juliana Schalch) só pensa em encontrar um marido rico que banque a boa vida que lhe é de direito. Luna vive uma vida dupla, a falsa: moça filhinha de mamãe e papai, namorada do bobão Yuri (um relacionamento falso, mas com sentimentos verdadeiros da parte do rapaz); e a real: garota de programa responsável pelo próprio nariz.
Karin percebe que pode usar estratégias de marketing para criar um negócio de prostituição de sucesso. Com isso em mente, ela convence as outras duas a dar início à empresa Oceano Azul. O nome vem, claro, do marketing e é compreendido como as estratégias inovadoras para penetrar espaços inexplorados no mercado – exatamente o que as três propõem.
A premissa é muito interessante. Elas usam algumas técnicas que, né, não esperamos ver nesse ramo, como: fazer pesquisa de mercado para entender seu público-alvo e gerar overbooking para criar burburinho (ambas na primeira temporada). A sacada mais legal do trio é explorar sempre o desejo (de quase todo ser humano) de sentir-se parte de algo exclusivo. Isso é o que acaba acontecendo com as abotoaduras da Oceano Azul que elas (sabiamente) produzem para presentear seus clientes: todo homem quer uma.
Na segunda temporada a Oceano Azul já é um negócio sólido, tanto o é que precisa lidar com pirataria: outras garotas de programa usando o nome da empresa para não perder a bocada (os altos cachês que o trio recebe). Os arcos narrativos sobre a vida pessoal de cada uma são mais bem desenvolvidos nessa temporada, mas não o suficiente ainda.
E com isso introduzo o grande problema: falta drama. Apesar de ser muito interessante por abordar o tema da prostituição de uma forma diferente, a série carece de uma dose de realidade. Sinto que conhecemos pouco das personagens, do íntimo delas. E, principalmente, sinto que elas vivem um conto de fadas. Ou a série pinta um quadro unicamente utópico ou está falhando em mostrar-se minimamente real.
Seria fantástico se garotas de programa pudessem trabalhar com dignidade, mas sabemos que não é assim que funciona. O Negócio, por propor uma abordagem nova ao mercado de prostituição, tem liberdade para retratar um cenário mais positivo e justo para essas profissionais. Mas é isso: mais positivo e justo e não completamente positivo e justo. Por melhor que sejam as condições de trabalho, não é um dia a dia glamoroso como a série quer fazer parecer.
A história é ambientada no Brasil, em São Paulo, e todos os clientes são bonitos? E, principalmente, vivemos num mundo extremamente machista, onde garotas de programa não são tratadas como pessoas dignas pela maioria (mulheres inclusas). A série precisava falar sobre isso. E precisava falar muito!
O Negócio pode ser uma grande série, mas não é. A HBO tem na mão uma grande oportunidade de explorar um tema tabu alvo de tantos preconceitos, mas não está sabendo aproveitar isso.
Por meio da criação de personagens que ganham a identificação do público é possível tocar em questões difíceis de serem digeridas. Arrisco dizer que para a maioria é mais fácil se comover com um personagem fictício querido sofrendo algum tipo de abuso/agressão do que com a pequena notinha no jornal que conta a mesma história. Não é o ideal, mas pode significar um passo a mais em direção à conquista do respeito que essas mulheres têm direito.
A série ganharia muito se fosse mais densa e nos perturbasse com um pouco de realidade aqui e acolá – arrancando-nos de nossa zona de conforto e obrigando-nos a pensar sobre o assunto.
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O Negócio foi renovada para uma terceira temporada, sem data de estreia definida.