A Netflix estreou, na última sexta-feira, The OA. Criada e dirigida por Brit Marling e Zal Batmanglij e produzida por Brad Pitt, a série era quase uma produção misteriosa, sem muitas pistas sobre a trama central antes do lançamento. E pra falar a verdade, depois dele, também.
Assistindo ao trailer de The OA, é difícil entender do que exatamente trata. Bom, dá pra dizer que o piloto também não ajuda muito. A Netflix já sabe que a maior parte da sua audiência assiste às séries de uma só vez, então não faz questão de adotar os moldes tradicionais de um primeiro episódio, que deixa clara a premissa da obra e apresenta os personagens. É até difícil falar sobre as Primeiras Impressões que se tem de The OA, porque apesar de longo, o primeiro episódio é extremamente vago e subjetivo.
Um vídeo na internet mostra uma mulher se jogando de uma ponte. Viraliza. Descobre-se que ela é, na verdade, uma moça que desapareceu anos antes de casa, e que era cega até então. Há uma lacuna sobre o que aconteceu neste período. Sobre como ela voltou a enxergar, como ela desapareceu, por quê saltou. Quem é The OA? Chega a ser curioso imaginar que, a partir daquele piloto, eles poderiam ter seguido centenas de caminhos diferentes, e todos seriam condizentes com as cenas que antecederam os créditos iniciais – quando a protagonista finalmente começa a contar a sua história.
Existe uma sutileza presente em todos os detalhes da série, desde a fotografia até a construção dos personagens, passando pelo texto, pela edição, pela trilha sonora, figurinos e cenários. Ao mesmo tempo que você sente uma inquietação gigantesca e uma angústia em todos os personagens, o conjunto da obra é sempre permeado por algo que eu só consigo definir como… paz. É algo bem difícil de se conseguir, tecnicamente falando, mas que também pode ser uma armadilha, já que em muitos momentos o episódio parece longo e arrastado – em parte, por causa do marasmo.
Prairie é uma protagonista magnética. O piloto gira em torno da sua volta ao lar e todas as consequências dele. Ela parece ter o poder de tocar profundamente todos os que a cercam, fazendo com que eles abram suas portas e suas vidas para aceitar uma transformação que ela mesma nunca prometeu, mas que eles sentem que será inevitável. A amizade improvável entre ela e Steve é um dos pontos fortes do episódio, assim como a conversa que ela tem com a professora. Sua relação com os pais não se revela tanto em um primeiro momento, mas é possível perceber que ela tem muitas camadas, muitas ressalvas, muitas mágoas e muito amor, apesar de tudo. Acho que um dos momentos mais marcantes é a cena em que ela chega em casa e toca o carpete com os pés. É muito simbólico, considerando que da última vez em que esteve ali, o tato ainda era uma das formas que ela tinha de enxergar o mundo ao seu redor.
The OA tem uma narrativa tão diluída que se parece mais com um filme de oito horas de duração, e apesar de isso ser uma tendência cada vez mais presente nas produções da Netflix, ainda faz falta algo no piloto que faça o público voltar, além da curiosidade em descobrir a resposta para os mistérios que a série traz à tona. Mesmo que a gente assista a tudo em um fim de semana, ainda é importante que a primeira hora seja uma experiência plena, na medida do possível, e que nos deixe com a certeza de que aquele é um produto que vale a nossa atenção. E isso, o piloto não faz. Você termina de assistir sem conseguir sequer definir qual é o gênero da produção, e isso é, de certa forma, problemático.
Justamente por isso, é difícil indicar ou não a série baseado apenas neste primeiro episódio, mas só por ser Netflix, já vale um voto de confiança.