Quando eu me sentei para assistir Louco por Elas, totalmente despretensioso , eu não esperava gostar tanto. Gosto de séries brasileiras. De verdade. Desde as comuns e bem divertidas como as finadas Toma Lá, Dá Cá e A Diarista até as mais “pesadas” como A Cura.
Texto e produção de João Falcão e direção de núcleo de Guel Arraes, duas figuras tarimbadas na indústria audiovisual brasileira, Louco por Elas segue a vida de Léo (Eduardo Moscovis), um homem que se vê cercado por mulheres em seu cotidiano e precisa aprender a lidar com tais relacionamentos sem provocar grandes desastres.
Não é uma premissa exatamente nova na TV – seja na americana ou na brasileira – a retratação do homem inserido em um universo quase que 100% feminino e precisando se adaptar a tal. Na vida de Léo, estão Giovana (Deborah Secco), ex-mulher com quem ainda mantém contato, Violeta (Glória Menezes), avó, Theodora (Laura Barreto), filha, e Bárbara (Luisa Arraes), filha de Giovana e, portanto, sua ex-enteada.
No quesito situações, a série não procura inovar ou fugir dos clichês – o que eu acredito que seria quase impossível levando-se em conta a história na qual a produção se sustenta. Esse universo é recheado de histórias que já vimos mil e uma vezes, seja na TV ou no cinema. O mérito de Louco por Elas é conseguir usar tais clichês de forma eficiente, sem que se tornem momentos forçados, entediantes ou alguma coisa do tipo. As histórias funcionam, divertem e são raros os momentos onde você para e pensa “Eu já posso ter visto isso antes.”
Mas é claro que nem apenas de clichês vive um programa. Um dos diferenciais do seriado se encontra no formato escolhido para dar desenvolvimento a algumas situações, o “mockumentary” – ou ‘baseado em fatos irreais’, tática já conhecida, por exemplo, pelos fãs de Modern Family. Consiste em colocar o personagem falando diante das câmeras – quase em estilo documentário -, seja explicando ao público situações ou apenas aparentando falar com si mesmo. Durante os episódios, é uma constante vermos Léo fazer isto
Os acertos da produção, contudo, não param aí. O principal deles é um: Roteiro. Costumo dizer que o roteiro é basicamente 60% de uma produção e é em casos como o de Louco por Elas que eu me convenço ainda mais disso. Firme, sem dar voltas, com a pitada necessária de humor sem soar caricato ou forçado, desenvolvendo a história a passos naturais – nem tão lento que se torne modorrento ou nem tão rápido que soe esquizofrênico. Os diálogos em uma velocidade maior do que a ‘normal’ de produções brasileiras deixam tudo ainda mais dinâmico.
O elenco também está no tom. Eduardo Moscovis mostra porque é um dos melhores atores brasileiros. Constrói seu personagem de maneira sólida e em nuances, conseguindo transitar entre diferentes sentimentos com uma velocidade bacana e fazendo uso do ótimo texto que recebe. Deborah Secco começou meio perdida, construindo uma Giovana um pouco caricata, mas começa a se encontrar e acertar o nível da personagem – que se encontra no limiar entre o igual e o diferente ao que a atriz vinha apresentando nos seus últimos trabalhos.
Aos que procuram uma boa diversão nas noites de terça – com o fim do BBB e o retorno de Tapas e Beijos para sua segunda temporada, a produção entrará no ar depois desta última -, Louco por Elas é mais do que recomendado.