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A arte de dizer adeus

Por: em 21 de maio de 2014

A arte de dizer adeus

Por: em

Aproveitando (ainda) a repercussão do final de How I Met Your Mother, revista Entertainment Weekly fez uma reportagem com diversos criadores de séries sobre como eles chegaram ao grande final de suas série.

Abaixo vem a tradução livre da entrevista (e nem preciso dizer que contém spoilers das séries citadas,né?).

Você sabe o que dizem: Você tem apenas uma chance de fazer uma última impressão. O final de um programa de TV não é apenas a conclusão de uma viagem – é um evento de cultura pop, naquele momento crítico em que um show pode polir ou estragar o seu legado. Como é que os escritores de um show satisfazem a sua visão criativa, bem como fãs? O que faz com o que, muitas vezes, o final é  episódio mais analisado de uma série? Há simplesmente muita atenção e pressão colocada sobre os series finales estes dias? Nós falamos com os homens e mulheres que enfrentaram o desafio de encerrar a algumas das séries mais amadas da TV para recolher introspecção nesta difícil tarefa de contar histórias.

Parte Um: A história

Sua série se auto-destruirá em 22-44 minutos. Sua missão: fazer o melhor episódio de sua vida.

David Crane, Friends 

Friends

A única coisa que sabia desde muito cedo é Ross e Rachel ficariam juntos. Tínhamos brincado com o público por 10 anos, com ” eles vão ou não vão”, e nós não víamos qualquer vantagem em frustrá-los. Mas pensamos em fazer, com Ross e Rachel, uma área cinzenta de onde não se sabia se eles estavam ou não juntos, porém nós pensamos: “Não, se eles podem estar juntos, vamos fazê-los ficarem juntos .”

A essência da série leva a uma conclusão orgânica. Friends começou num tempo em sua vida em que seus amigos são a sua família, então o que está no coração do episódio é realmente seis amigos indo em direções diferentes .

Jason Katims, Friday Night Lights 

Sabíamos, desde muito cedo, era que a série estava chegando ao fim, isso nos ajudou a moldar o que esse último episódio iria ser. Começamos no início da 5 ª temporada a plantar as sementes e as ideias que levariam todos a este episódio final. A única coisa que sempre achei que seria certo sobre o fim era a ideia do Coach Taylor e Tami deixando Dillon. Meu pensamento foi que essa era a vida de treinadores de futebol – eles têm uma diferentes trabalhos em diferentes escolas. O que começou a série foi ele ir para Dillon e ele sair de lá seria onde iríamos chegar no final. Muitas vezes você cria vários cenário e diz: “Ok, vamos filmar tudo e então decidimos o que queremos fazer na sala de edição”, mas que a sequência final foi concebida exatamente como o que nós queríamos.

Carlton Cuse , Lost 

Lost-final

Nós tínhamos uma espécie de plano grandioso – a ideia de que o show começaria com a abertura do olho do Jack e que acabaria com Jack fechando os olhos, o que significava que Jack tinha que morrer. Essa foi uma escolha extremamente significativa porque não conseguíamos pensar em nenhum outro final de séries, onde o personagem principal tinha morrido.

Nós tentamos, em várias ocasiões, apontar quem era o causador das ações, e nos encontramos fazendo todos esses tipos de backflips narrativos. Não havia nenhuma maneira de sustentar um show de mistério em 121 episódios de televisão e amarrar todas as pontas soltas .

Kevin Williamson, Dawson’s Creek

Eu tinha me afastado do show, mas fui almoçar com Jordan Levin, presidente da The WB, e eles tinham esse conceito:”Porque não fazemos cinco anos no futuro? Vamos avançar e mostrar como todo mundo acabou”. Eu pensei sobre isso, e falei, “Okay. Isso me liberta. Isso me permite contar uma nova história”.

Quando escrevi o final pela primeira vez, eu estava absolutamente convencido de que tinha que acabar com Dawson e Joey juntos. Mas eu não era capaz de dormir, algo estava me levando para o caminho errado. Para mim, Dawson e Joey são almas gêmeas. E então eu fiquei pensando, uma coisa que eu aprendi na minha vida é que minha alma gêmea não é necessariamente meu amor romântico. E eu estava tentando fazer isso com Dawson e Joey juntos. E, então, revelamos que ela escolheu o seu amor romântico, que era o Pacey.

Eu só me lembro que a Michelle Williams (cuja personagem, Jen, morre no final) estava um pouco assustada e nervosa. Ela disse: “Bem, e se fizermos um show de reunião? E se fizermos um filme ou algo assim?” E eu disse, “Bom, então você vai ser um fantasma.”[Risos]

Tina Fey, 30 Rock 

30-rock

Havia algumas coisas que sabíamos e que tinham surgido antes mesmo do final. Sabíamos que queríamos que Kenneth herdasse a NBC e sabíamos que, em algum ponto, queríamos que Liz adotasse uma ou mais crianças. Originalmente seria um filho que Kenneth teve por acidente nas Olimpíadas de Pequim – um garoto asiático de cabelos loiros que se parecia com Kenneth. Porém mudamos a ideia. Pensávamos que sabíamos o que queríamos fazer com Jack, que era para ele ser prefeito de Nova York, mas não deu certo com o tempo do mundo real.

Robert Carlock , 30 Rock Nós até fomos por esse caminho um pouco. Fizemos uma história na temporada anterior, que tinha a intenção de configurar isso. Mas se o final fosse Jack em sua campanha ou em seu escritório prefeito, quem iria falar com ele? Como é que ele ia falar com Tracy?

Fey Vimos um monte de finales de TV clássicos na sala dos roteiristas e, com as semanas cada vez mais próximas do nosso final, eles ficaram mais emocionais. Eu me lembro que o Tracey Wigfield(roteirista) estava chorando quando levam cadeira do pai do Frasier para fora do apartamento. Uma das coisas que aprendemos com os finales foi que não há problema em dar a seus personagens uma oportunidade de realmente dizer adeus um ao outro no corpo daquele episódio. Você não precisa se preocupar se isso é brega.

Carlock Isso levou ao Tracy fingindo agir numa espécie de moda antiga, quando, secretamente, ele não queria, não sabia como dizer adeus a todos. Aquela cena no clube de strip – é a nossa versão de cadeira do pai de Frasier sendo levado para fora.

Greg Daniels , The Office 

A ideia de ter uma reunião para os  personagens principais foi uma ideia desde o início. A parte sobre o casamento de Dwight veio um pouco mais tarde . Obviamente, pensamos que seria ótimo ter o Steve Carell (Michael Scott) – não teria sido um grande final sem ele.

Vince Gilligan, Breaking Bad

Nós realmente nos tínhamos restringido antes do final. Seja por arrogância ou estupidez, a 16 episódios do final, tivemos Walter aparecendo de barba, cabelos longos e com um novo óculos, comprando uma metralhadora M60 no estacionamento. Nós não sabia como iríamos chegar a esse ponto da história – nós nem sequer sabia o que isso significava ou para que Walt ia usar essa arma. Isso me levou a um grande número de noites em claro, muitos dias na sala dos roteiristas, onde eu falava, “Nós nunca vamos chegar lá”.  A pergunta sempre vinha: “Para que diabos você precisa de uma arma tão grande?”.

Tivemos uma ideia em que Walt iria invadir a prisão do centro de Albuquerque e apenas atirar na prisão com essa metralhadora M60 e resgatar Jesse. É claro que ficavamos perguntando a nós mesmos, “Bem, o quão ruim Walt vai ser nesse final? Será que ele vai matar um monte de bons agentes penitenciários cumpridores da lei? Que tipo de final é esse?”. E então tivemos algumas versões, onde ele atiraria em um ônibus da prisão.

Em um ponto, numa semana particularmente escura ao longo do caminho, nós conversamos sobre matarmos todo mundo – tendo algum tipo de banho de sangue no final. Mas você vive com essas ideias por um tempo e você pensa: “O que precisamos para matar todos esses personagens ?” Só porque um final é dramático ou talvez excessivamente dramático , não garante que ele será satisfatório. 

Parte Dois: A pressão aumenta

Fãs. Críticos. A emissora. Como você agrada a todos – inclusive a si mesmo?

Daniels(The Office)

The-office-michael

Nós não dissemos a NBC sobre o retorno do Steve. O produtor de linha estava um pouco nervoso sobre isso – Eu acho que ele estava com medo de perder o emprego – mas nós filmamos o material do Steve e mantivemos isso fora dos jornais. Na leitura de mesa, demos todas as falas do Steve Carell ao Creed.

Katims (Friday Night Lights)

A única coisa que eu sentia que era minha responsabilidade era fazer o final para os fãs da série, podíamos fazer tudo que queríamos com o final, desde que ele fosse satisfatório para os fãs e fosse tudo o que o show foi.

Cuse(Lost)

Simultaneamente há a morte desta família com quem você trabalhou durante seis anos e, por isso, há todo este outro nível de material emocional acontecendo. Você está escrevendo um programa em que você está terminando a jornada desses personagens, mas você também está terminando a jornada, no nosso caso, de 425 pessoas que fizeram Lost. Foi emocionalmente esmagador e lágrimas foram derramadas em numerosas ocasiões na confecção de final.

Marta Kauffman(Friends)

Eu acho que a pressão é justa. Você passou 10 anos com personagens que você convidou em sua casa. O que você tem com os personagens em seu aparelho de TV, é uma experiência muito íntima, ainda mais agora que as pessoas assistem em seus computadores e ficam deitado na cama com ele. Eu sinto que é justo para o público querer sentir uma sensação de satisfação. 

Crane Se qualquer showrunner reclamar que as pessoas se preocupam demais, ele está no trabalho errado.

Williamson(Dawson Creek)

Dawsons-Creek

Lá em 2003, mal tínhamos o Desktop do Dawson, que era apenas novo AOL dial-up. O twitter eleva a angústia de todos em algum grau. Todo mundo tem um blog. Todo mundo está ficando cada vez mais sarcástico. Então você só tem que ir com eles. Essa é uma parte do processo agora.

Fey (30 Rock)

Eu acho que nós tivemos uma obrigação enorme de escrever um final que seria satisfatório para os fãs – mas não solicitamos sugestões.

Parte Três: Viver com o Legado

É o fim! Você pode finalmente seguir em frente! Exceto pelo fato de que os fãs nunca vão deixa-los em paz. Então, se acostume com isso.

Williamson(Dawson Creek)

Então, muitas pessoas falam pra mim,”Eu não posso acreditar que Dawson e Joey não ficaram juntos “.E eu digo: “Mas foi. Eles sentaram no pier e disseram: “Você e eu, sempre”. Ele escreveu uma série de TV, The Creek, sobre eles. Na cabeça de Spielberg dele, ele ficou com a garota.

Eu me senti de várias maneiras, o final foi, de certa forma, seguro, porque deixei todos os meus personagens – com exceção de Jen, que morreu – acabarem em um lugar bonito.

Cuse(Lost)

Nós apoiamos o final que escrevemos . Foi a versão da história que queríamos contar e eu acho que um monte de gente achou agradável. Era inevitável que algumas pessoas não, e eu fiz minha paz com isso antes mesmo de escrever. Eu penso que se você gostou das 119 horas que antecederam o final de Lost, toda experiência está arruinada pelo fato de que você pode não concordar com tudo o que fizemos no final? Espero que não!

Eu não posso dizer que o final de uma história é sempre a melhor parte da história, há uma espécie de ideia implícita de que o final deveria ser, de alguma forma, o melhor episódio de um show. Tanto para Damon [Lindelof] como para mim, ”The Constant” (4ª temporada) é o nosso episódio favorito.

Gilligan(Breaking Bad)

BreakingBad

A verdade é que cada showrunner faz o seu melhor para fazer o show do começo ao fim o mais satisfatória possível, então é claro que eles vão tentar fazer o melhor final que podem. Devemos aplaudir aqueles que executaram perfeitamente desde o início até o final, assim como os que, talvez, não tenham acabado tão bem como eles começaram, e daí? Isso não deve diminuir nosso entusiasmo para aquele show.

 


Olívia Carvalho

Carioca, que prefere assistir séries a ir à praia. Acredita que uma comédia por dia pode melhorar o humor de qualquer um.

Rio de Janeiro/RJ

Série Favorita: Parks & Recreation

Não assiste de jeito nenhum: Séries de ficção científica

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