Spoiler Alert!
Este texto contém spoilers leves,
nada que estrague a série ou a sua experiência.
Não é de hoje que um peculiar mesclamento de gênero tem sido utilizado como recurso para dar vida a obras singulares que, no saldo geral, acabam por agradar o público, são peças de teatro, filmes, livros, séries, enfim, que transitam entre um extremo e outro para dar vida a histórias e personagens meio que peculiares e diferentes do material fictício que somos acostumados a consumir diariamente.
Esta mesma combinação não é mais novidade no âmbito das séries, poderíamos passar um longo tempo listando produções que misturaram o drama com a comédia, ora de forma sutil, ora de maneira mais escrachada, contudo, vem se tornando perceptível um determinado padrão adotado em algumas séries recentes, a fórmula consiste em criar o pior ambiente possível, algo que envolva tragédias e situações realmente pesadas, e conseguir tirar dela situações cômicas e divertidas para o público.
You’re The Worst
Talvez a mais sem noção desta lista inteira, You’re The Worst possui uma premissa bastante confusa e aparentemente sem um objetivo final, mas mesmo assim consegue apresentar um conteúdo bastante satisfatório e inteligente, explorando um casal formado por duas pessoas saturadas em seus próprios problemas e medos, de personalidades horríveis e intragáveis, mas que, da maneira mais clichê possível, dão muito certo juntos. A premissa possui uma carga dramática muito boa de ser trabalhada, e é, mas é na comicidade que a série se destaca, são sequências inacreditáveis e impagáveis com situações sérias que dão ao show um ar meio cinza que, no fim, satisfaz.
The Last Man On Earth
The Last Man On Earth podia ser muitas coisas considerando a sua premissa, mas escolheu ser um questionável besteirol americano. As possibilidades de se desenvolver histórias em cima da proposta apocalíptica de uma dizimação populacional por meio de um vírus, e somente uma pessoa acreditar ter sobrevivido e viver sozinho no planeta terra são infinitos, mas o direcionamento da série é um tanto quanto peculiar. É nos apresentado um protagonista desleixado, egoísta, egocêntrico e por vezes insuportável, que ao continuar vivo após a epidemia mortal dedica os seus dias a fazer tudo aquilo que sempre teve vontade, viajando o mundo, mas sempre voltando para o lar original, enquanto espalha mensagens em que informa aos possíveis outros sobre a sua sobrevivência, quando finalmente encontra outras pessoas todas as suas péssimas características vem a tona. The Last Man On Earth não é uma produção a ser levada a sério, apesar de se passar em um cenário envolto de uma pesada carga dramática, é como uma comédia potencialmente besta, com um ótimo elenco, diga-se de passagem, que ela se destaca.
Unbreakable Kimmy Schmidt
Com uma abertura que não sai da mente e do coração, Unbreakable Kimmy Shmidt é uma surpresa oriunda da Netflix. Passar 15 anos da sua vida presa em um bunker junto com três companheiras sem noção, e eventual visita do sequestrador que se intitula pastor, em nome da mentira de que o mundo teria acabado não é algo que todos sobreviveriam; dar a volta por cima de forma magistral como Kimmy (Ellie Kemper), que reconstruiu a sua vida inteira com o propósito de recuperar o tempo perdido, é uma característica singular de força de vontade e resiliência da própria personagem. Apesar dos pesares e com muito bom humor, a série se destaca pela ousadia da premissa e roteiro, transformando a tragédia em pura comédia pelas mãos da sua incrível e incansável protagonista, o restante do elenco também merece os devidos créditos, que em situações questionáveis brilha e faz rolar de rir.
My Mad Fat Diary
Se fosse possível classificar uma série como crush, My Mad Fat Diary seria a minha! Alguns anos atrás fui arrematada por esta produção verdadeiramente crua que tem uma história incrível, onde, ao mesmo tempo que entretêm o telespectador, também consegue impactar e dar aquela chamada de realidade que necessitamos vez ou outra nas nossas vidas. A carga dramática do show é definitivamente a sua melhor parte, os problemas psicológicos, sociais e comportamentais que Rae (Sharon Rooney) enfrenta evocam uma verdadeira empatia em todo o público que a acompanha. Mas, toda essa carga é aliviada pelo grupo de amigos ao qual Rae se junta, e também graças a sua personalidade totalmente desinibida. Deste modo, a série pode ser caracterizada como uma dramédia, considerando que concilia os dois extremos da sua protagonista, o lado em que lida com o abandono pelo próprio pai, divergências com a mãe, o desconforto com o próprio corpo, enfim, e o outro lado em que abriga um jeito de ser todo sem noção, se metendo em hilárias situações de plena vergonha alheia junto com a turma de amigos.
Mom
Existe situação mais aterrorizadora do que assistir, praticamente impotente, a sucessão de decisões e erros por você já antes cometidos serem desordenadamente reproduzidos pela própria filha e, posteriormente, neta? Mom é para mim uma das comédias de maior qualidade no ar atualmente, ficando sempre aquele ressentimento pela série não ser tão reconhecida ou popular o quanto merece, mas de qualquer maneira, a história premissa da mesma evoca um ambiente familiar totalmente fadado ao fracasso, com as três gerações de mulheres problemáticas ao extremo e fadadas a um ciclo social de abuso e vício de substâncias químicas, envolvimento com homens babacas e gravidez precoce; tudo isso enquanto, em meio a apertos, tentam apenas sobreviver financeiramente. Contudo, a história é contada com a maior comicidade possível, são situações e acontecimentos de merda que constantemente a família Plunkett é submetida, tipo de coisa que deixaria os mais fracos de espírito e mente desencorajados de seguir em frente, mas, a capacidade que o show possui de transformar o pior em algo genuinamente engraçado é um recurso genial característico da série.
E quanto a vocês, caros leitores, conhecem mais alguma série que transita entre a comédia e o drama?
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