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A Primeira Temporada de American Horror Story

Por: em 7 de janeiro de 2012

A Primeira Temporada de American Horror Story

Por: em

American Horror Story foi provavelmente a estreia mais alardeada desta fall season e aquela que mais dividiu opiniões. A história da família Harmon (conheça a premissa) foi contada através de tropeços e equívocos, mas também divertiu e soube prender o telespectador. A cada novo episódio, a série surpreendia – seja por seus méritos, seus plot twists ou suas bizarrices. A temporada terminou e público e crítica continuaram divididas. Será que a temporada de estreia da série não passou de uma confusa viagem aos pesadelos impressos no imaginário coletivo pela cultura popular americana ou a dupla do musical Glee e do drama médico Nip/Tuck conseguiu contar uma boa história de terror?

Spoilers a seguir.

“You’re going to die in there”

Addy.

O piloto de American não poderia ter sido mais esquisito. É o tipo de coisa que te faz perguntar como os produtores conseguiram levar aquilo ao ar, em uma indústria onde ousadia não é vista com bons olhos. É certo que nenhuma emissora de TV aberta levaria o projeto de Brad Falchuk e Ryan Murphy à frente, mas o FX, canal pago que já conhecia a dupla pela mórbida Nip/Tuck (que também tinha sua cota de bizarrices), comprou a ideia da família disfuncional que escolhe um sangrento e trágico cenário para recomeçar, e apesar do início de qualidade duvidosa, muitos telespectadores também decidiram embarcar na produção.

A melhora do segundo episódio foi palpável, mas aquilo ainda era confuso demais. A série apresentava diversos defeitos em sua estrutura e suas qualidades não os tornavam releváveis. Mas o que parecia só um amontoado de absurdos tomou contornos dramáticos em Murder House, o primeiro episódio de uma sequência que só pode ser chamada de excelente. Abandonei as reviews de American Horror Story justamente depois do ótimo terceiro episódio, por não estar conseguindo equilibrá-las com meus outros afazeres. O Tobias cobriu ainda o quarto episódio, que expandiu a mitologia de American e continuou aumentando a carga dramática do thriller.

“We need that baby”

Constance.

Na segunda parte do especial do Halloween, descobrimos, junto com Tate, seu passado, e a personalidade do “fantasminha camarada” começa a tomar contornos mais sombrios. Hayden perturbando Vivien é outro ponto alto deste episódio, que termina com Ben indo embora da Murder House e com a introdução de Luke, o segurança contratado por Vivien. O personagem prometia, mas seu desenvolvimento foi descontinuado. Aqui, a profunda descrença dos personagens vivos acerca dos eventos sobrenaturais é mais uma vez um fator marcante. Ben não consegue aceitar racionalmente a existência de Hayden enquanto um fantasma, portanto, mesmo tendo ele próprio enterrado-a, culpa a ela e a Larry por um suposto golpe. Mesmo quando é confrontado diretamente por uma situação paranormal (Nora libertando-o de suas amarras no porão), ele não aceita-a. A melhor cena é a dos fantasmas retornando à casa após a noite de Halloween, caracterizando-os como escravos daquela mitologia.

Piggy, Piggy, assim como Home Invasion, lidou com um terror mais próximo da realidade. O tema de adolescentes perturbados fazendo uma chacina já foi abordado por séries como Cold Case e One Three Hill, mas aqui foi, de certo modo, subvertido: a audiência não torcia pelas vítimas, nem queria justiça contra o assassino. Boa parte dos telespectadores tinham se afeiçoado a Tate, e vê-lo revelado como um monstro colocou o carisma do personagem em cheque, fez com que nos sentíssemos mal por torcermos pelo relacionamento dele com Violet. Outro terror do dia-a-dia, as lendas urbanas, foram retratadas através do inseguro personagem de Eric Stonestreet e de um humor negro afiado da parte dos roteiristas. A famigerada cena de Vivien comendo um cérebro marcou o episódio, juntamente com o cuidado com o qual todos os fantasmas da casa lidavam com sua gravidez, gerando teorias que faziam, infelizmente, muito mais sentido do que o que fora mostrado ao final da temporada (muita gente achou que um nascimento na casa poderia quebrar a “maldição” que prendia as almas das pessoas que lá morriam). Billie Dean, personagem da sempre ótima Sarah Paulson, também é introduzindo aqui, possibilitando uma espécie de conversa final entre Constance e Addy, em mais uma cena belíssima e tocante de American.

Em Open House, o passado de Constance com Larry nos é revelado, e vemos mais uma vez uma demonstração da ótica perturbada através da qual a personagem de Jessica Lange enxerga a vida. O assassinato de Beau, seu filho deformado, contrasta com momentos doces e humanos da personagem, como no qual ela vai se despedir do fantasma dele. A frieza de Larry em relação a sua família também torna-o um personagem repulsivo e merecedor da rejeição de Constance (será que ele queria o dinheiro para comprar a Murder House?). Conhecemos também o chocante destino do casal Montgomery, novamente através do Eternal Darkness Tour, uma divertida sacada dos roteiristas. A misoginia do comprador da casa parece ecoar as amarguras de Moira; a história da personagem é sempre entrelaçada com a maneira como a sociedade (e principalmente os homens) veem as mulheres. A morte de Escandarian durante o sexo com a governanta fez todo o sentido, e foi uma cena bem cool. É interessante notar também que existe um certo entendimento entre as eternas rivais Constance e Moira, que vira e mexe têm que trabalhar juntas. Sempre me perguntei por que Moira nunca tentou matar Constance… talvez seja porque exista um certo respeito mútuo entre elas. Marcy será para sempre uma incógnita para mim: até que ponto ela sabia? Ela conhecia Larry? De qualquer maneira, ela apontando a arma para ele foi mais uma ótima cena deste episódio repleto de respostas. Mas a coisa só esquentou pra valer a partir de Rubber Man.

“Karma police, I’ve given all I can but we’re still on the payroll…”

Thom Yorke.

Nele, algumas coisas me incomodaram bastante. Seria sensato colocar Tate como o estuprador de Vivien e assassino de Chad e Patrick? Tate, que já acumulava funções na trama? Não me agradou. E as motivações de Nora e Tate foram as mais fúteis possíveis, achei uma resolução bem “nas coxas”. Mas o restante do episódio compensou, principalmente no que diz respeito a Vivien. Enquanto ela ia entendendo o que realmente se passava em sua casa, os fantasmas brincavam com sua sanidade, de uma maneira genial. A edição frenética, que é marca registrada da série, funcionou muito bem aqui, e a cena em que ela atira em Ben foi extremamente tensa. Violet sendo manipulada por Tate foi de enlouquecer: o garoto conseguiu colocá-la contra a própria mãe e fazê-la mentir para a polícia. A maneira como a garota reagiu à descoberta do mundo sobrenatural foi bastante controversa, e pouco sensata. Achei Tate muito cretino neste episódio e qualquer resquício de simpatia que eu tinha pelo personagem morreu aqui. Mas foi muito bom ver as personagens femininas encarando os fantasmas de frente e tomando atitudes, mesmo que eu discorde delas, e Rubber Man foi um episódio bastante intenso.

Spooky Little Girl foi mais um episódio decisivo desta reta final. Após um último teste, Ben descobre a verdadeira face de Moira e agora não tem mais como se recusar a ver a mansão como ela é. Com todos os Harmons sabendo a verdade sobre a casa, as intenções dos fantasmas expostas e cada personagem com suas motivações estabelecidas, não esperava que a série ainda guardasse tantas surpresas. A descoberta acerca da gravidez de Vivien foi inesperada e inteligente, e vê-la no hospital psiquiátrico foi bastante deprimente. Os efeitos nocivos da casa ultrapassam o plano físico e o paranormal: ela é capaz de afetar a alma de quem mora lá. Tate continua como o personagem mais psicologicamente rico da série, e a cena em que ele chora e pede para Constance não contar nada a Violet foi não só reveladora, mas também tocante. O plot de Constance com Travis também foi muito bem conduzido neste episódio, fazendo-nos questionar sempre se esse casal realmente se amava. Travis não era um personagem muito profundo ou mesmo presente na série, mas vê-lo morto pelas mãos de Hayden foi impactante. Assemelhando-se à reação da “Black Dahlia” (Mena Suvari, tão sedutora quanto em Beleza Americana), Travis contentou-se com sua transformação em fantasma por ter se tornado famoso através de sua morte, um ponto de vista que a série nunca tinha retratado antes.

Mas uma das revelações mais impactantes que a série nos apresentou deu-se em Smoldering Children. A maneira como Violet descobriu que estava morta fez com que o episódio fosse bastante intenso e aumentou a sensação de que a casa é um lugar sufocante, opressivo, negativo. Ela tentando sair e se vendo dentro da casa de novo foi a melhor sequência do episódio, e Taissa Farmiga se superou ao retratar o desespero da personagem. Tate revelando que sabia o tempo inteiro que estava morto só contribuiu para que eu pense que ele é, de fato, um psicopata (o próprio Murphy disse que ele é o verdadeiro monstro da série). A conversa dos dois sobre permanecerem juntos para sempre é o clímax do casal na série, mas eu gostei de saber que isso não aconteceu. Já Larry se arrependendo do que causou a sua família não me convenceu, apesar de ter sido uma cena tocante. Acredito que o único objetivo real do personagem fosse reconquistar Constance, e por isso ele tentou fazer Ben deixar a Murder House; por pensar que ela voltaria com ele se ele voltasse a morar lá, mas não acho que ele seja como Tate. O amor, mesmo que doentio, era a motivação de suas atitudes drásticas, já Tate, por mais que sentisse algo por Violet, era desequilibrado antes de conhecê-la.

Birth foi o episódio mais intenso e melancólico desta primeira temporada. Conforme o nascimento do bebê de Vivien se aproximava, a tensão na casa crescia e vários fantasmas esperavam ansiosamente por este nascimento, cada um por seus motivos próprios e doentios. O episódio todo teve essa atmosfera de vigília, de algo muito grande que estava prestes a acontecer. E quando aconteceu, não me decepcionou nem um pouco. Toda a sequência de Vivien dando a luz aos gêmeos foi muito bem montada, inclusive com as cenas do nascimento de Violet (que muita gente não gostou). Os fantasmas se juntando para ajudá-la, Ben não tendo outra alternativa que não aceitar, a apreensão que a cena passou e seu final trágico fizeram dela a melhor cena da série. Minha única ressalva quanto ao episódio é pela tentativa de Violet de se livrar de alguns dos fantasmas, uma storyline completamente desnecessária que tomou boa parte do episódio. Só valeu pela reaparição de Billie Dean e pela triste conclusão da história de Chad e Patrick.

Afterbirth foi um final que me decepcionou bastante. Foi corajoso da parte dos roteiristas matar Ben, mas eu não gostei de como foi feito, e os Harmons espantando a nova família tirou toda a seriedade e o impacto desta season finale. Mas até esta cena, eu estava gostando bastante do episódio. Cenas misturadas mostrando a expectativa dos Harmons em relação à nova casa e o que aconteceu lá de fato cumpriram bem o seu papel. Outras cenas menores também me agradaram bastante, como Travis entregando o bebê a Constance e cortando a garganta de Hayden. O luto de Ben também foi muito bem retratado, e pela conversa que ele teve com Vivien e Violet, eu realmente esperava que ele deixaria a casa com o bebê. Apesar de tudo, sua conversa final com Tate, a felicidade da família no Natal e a amargura de Tate e Hayden foram conclusões decentes. Constance criando o filho de Tate também foi uma ótima sequência final. Entretanto, como um todo, Afterbirth foi bastante aquém do que eu esperava.

O season finale deveria ter noventa minutos, mas foi cortado para setenta. Na versão original, descobriríamos um segredo da infância de Ben e várias pontas soltas seriam amarradas. Infelizmente, graças a essa decisão da FX, o episódio não deixou um mero gostinho de quero mais, ele foi verdadeiramente insuficiente para concluir a história da Murder House coerentemente e muita coisa não teve uma explicação. Também queria me aprofundar mais na mitologia da série, mas nós só temos acesso à ela a partir do ponto de vista dos personagens, que parecem estar tão perdidos quanto os telespectadores. Ryan Murphy já disse que teremos uma história completamente diferente ano que vem, portanto, só nos resta teorizar. Mesmo assim, acho que valeu a pena acompanhar esta temporada de estreia de American Horror Story. O conceito de uma história de terror em forma de série ainda estava em uma fase bastante experimental e espero que seja amadurecido na temporada deste ano.

Foi uma boa temporada de estreia. Não foi algo tão inovador, inteligente ou intrincado quanto foi anunciado, mas American Horror Story é, inegavelmente, uma boa série e uma aposta forte para a próxima fall season, mesmo que com novos personagens e cenários.

Fique com uma recapitulação feita pelos produtores:

P.S.: Poltergeist II, Taxi Driver e Beetlejuice são exemplos de filmes aos quais a série fez referência ou homenageou em sua primeira temporada. Outras referências incluem, além de outros filmes (não só do gênero de terror), livros, músicas, séries e até mesmo mangás. Quais dessas referências você encontrou enquanto assistia à série?


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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