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A Segunda Temporada de Stranger Things

Por: em 30 de outubro de 2017

A Segunda Temporada de Stranger Things

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Stranger Things foi uma das maiores surpresas de 2016. Sendo inicialmente vendida como a série da Winona Ryder, a original Netflix se tornou maior do que qualquer um poderia prever e acabou conquistando o público, a crítica e espaço em premiações importantes. Há quem ame e defenda com unhas e dentes, há quem discorde do hype. É consenso, no entanto, que as expectativas para o segundo ano estavam nas alturas e fico muito contente em poder dizer que os irmãos Duffer não decepcionaram. Muito pelo contrário. Ao trazer os personagens – e seus conflitos – para o centro da narrativa, investir em novas dinâmicas e desenvolver a mitologia, Stranger Things conseguiu apresentar uma temporada consistente, fechada,  que diverte, emociona e foca mais na trama de forma isolada do que na tentativa de fazer referências a todo custo.

Bom, é bem verdade que as referências e easter eggs ainda estão presentes, assim como o tom nostálgico. É verdade também que tivemos a repetição de várias estruturas narrativas e elementos que consagraram a primeira temporada. Luzes piscando, flashbacks sobre o passado da Eleven, a casa dos Byers sendo redecorada de forma peculiar – para dizer o mínimo – , Nancy e Jonathan saindo em uma missão, Joyce se desesperando para salvar a vida de Will e até o clássico Should I Stay or Should a Go. No entanto, tudo isso sai de foco e passa a compor a moldura e não a foto principal,  e a série começa a ser sustentada pela trama e especialmente pelos personagens. Aliás, o destaque desse segundo ano está todo nesse grupo de pessoas nada normais. Matt  e Ross Duffer parecem ter percebido o potencial que tinham em mãos e usaram e abusaram do melhor do que cada uma daquelas personalidades – e seus respectivos intérpretes – tinha a oferecer.

Reprodução/Netflix

Essa segunda temporada também não esquece de seu papel como continuação e emprega um tempo (necessário) mostrando o impacto que os eventos do ano anterior tiveram na vida daquelas de pessoas. De um modo ou de outro, todos eles estão mudados e isso fica nítido pelo trauma de Will, o comportamento irritadiço de Mike –  assim como sua incapacidade de aceitar Max no grupo, por achar que ela estaria tentando substituir a Eleven – , a culpa que Nancy carrega pela morte de Barb ou a preocupação excessiva de Joyce. Isso explica o ritmo mais lento seguido pelos episódios iniciais – o que não chegou a me incomodar – , que estão ali justamente para contextualizar,  nos mostrando em que ponto os personagens se encontram, e construir as bases do que serão os principais eventos da temporada.

Temporada que, por sinal, tem dono e ele se chama Will Byers. Se durante o primeiro ano da série ele foi apenas a peça usada para mover o jogo, aqui ele esteve no centro da narrativa e Noah Schnapp não apenas segurou a responsabilidade, mas roubou a cena deu um show de atuação. Foi de quebrar o coração ver como tudo o que o garoto queria era voltar para sua vida normal, porém, a conexão que estabeleceu com o Mundo Invertido – e consequentemente com o Monstro da Sombra – o arrastou novamente para uma situação caótica em que sua vida esteve em risco.

Reprodução/Netflix

Já Eleven – ou seria Jane? – passou a maior parte do tempo afastada da ação principal e teve uma jornada introspectiva e metafórica. Após toda uma vida existindo como um experimento científico, ela finalmente conseguiu a chance de ser livre, apenas para, pouco depois, se ver novamente aprisionada.

É claro que Hopper tinha as melhores intenções e seu raciocínio fazia sentido. Era realmente perigoso que a menina saísse de casa. Além disso, fica claro que ele assumiu o papel de figura paterna da garota e, após ter perdido uma filha, a preocupação e o cuidado seriam naturalmente dobrados. A dinâmica de pai e filha entre os dois, de qualquer modo, foi muito bonita e facilmente um dos pontos altos da temporada. Ainda assim, ver El se rebelando era natural e necessário.

Reprodução/Netflix

A garota precisava conhecer suas origens, se descobrir como um ser humano, encontrar seu lugar no mundo, aprender a controlar suas habilidades, lidar com emoções até então desconhecidas e entender quem era. Deixar de ser a Eleven – um número, uma coisa, uma criatura sem direito à escolha – para se tornar Jane.

Toda essa jornada, repleta de percalços, explosões de raiva, erros e auto-conhecimento, funciona muito bem como metáfora para a própria adolescência. O que não funciona, entretanto, é o episódio dedicado inteiramente a ela. The Lost Sister quebra o ritmo que estava sendo estabelecido e acaba sendo um filler que pouco acrescenta. Kali é uma personagem interessante e  é provável que a volte a aparecer. Porém, não havia nenhuma necessidade de um episódio inteiro dedicado a sua introdução, especialmente quando esses cinquenta minutos não trouxeram quase nada novo ou realmente relevante. Temos certeza, agora, que existem outras crianças como Eleven e, bom, é basicamente isso.

Reprodução/ Netflix

Em meio a todo esse cenário, Lucas e Dustin lidavam com a primeira crush, uma garota que atende pelo nome de Max, ou Mad Max se você assim preferir. Vinda de uma família abusiva e nova na cidade, tudo o que a menina queria era fazer amigos e ser aceita pelo grupo dos meninos. Lucas se encanta por ela e, embora tenha levado um tempo, acaba sendo correspondido. A dinâmica entre os dois funciona muito bem e cresce de forma mais natural e saudável do que a relação entre Mike e Eleven. Não me entendam mal, sei Mikeven é um ship amado por muitos, no entanto, acho particularmente pertubardora a intensidade dos sentimentos entre duas pessoas tão jovens.

Retornando ao ponto principal, Dustin não consegue cair nas graças de Max, o que não é realmente problema, já que ganha algo muito melhor: um novo (e completamente improvável) amigo. Por favor, alguém dê um prêmio de melhor desenvolvimento para Steve, porque o garoto que vimos aqui é bem diferente do idiota que conhecemos na primeira temporada. A decisão de colocá-lo para interagir com as crianças foi um grande acerto e rendeu momentos maravilhosos, especialmente os que envolveram o bromance com Dustin, os péssimos conselhos de como conquistar uma garota (não repitam isso em casa) e as maravilhosas dicas de cabelo (a gente ainda encontra o spray da Farrah Fawcett  no mercado?). Sinceramente, ainda não acredito que vou escrever isso, mas Steve Harrington é certamente uma das melhores coisas desse segundo ano.

Reprodução/Netflix

Dito tudo isso, a segunda temporada de Stranger Things não inventa a roda ou traz a mais complexa das narrativas. Sua trama é simples, um poço de clichês e não deve ser levada muito a sério, afinal se começarmos a pensar demais vamos ver que algumas coisas sequer fazem muito sentido. Ainda assim, acredito que devemos analisar e julgar uma obra diante ao que ela se propõe a fazer e a série é bem honesta nesse ponto.

Desde seu primeiro episódio estava evidente que não havia nada de inovador ali, o copia e cola descarado de uma quantidade infinita de filmes clássicos deixava isso bem claro. Stranger Things é genérica e, talvez por isso, funcione e atraia um público tão grande. É o feijão com arroz bem feito. Uma série com a vibe de  Sessão da Tarde, gosto de pipoca e que aquece do coração ao falar sobre amizade e nos dar um leque de personagens adoráveis e carismáticos. A segunda temporada entrega tudo isso, diverte e entretém. Funciona dentro de seus propósitos. Sinceramente, não tenho muito do que me queixar.

Observações:

  • Jamais irei superar a morte de Bob Newby. Primeiro, porque ele era um amor. Segundo, porque não é certo fazer isso com meu hobbit favorito;
  • Jonatahn e Nancy finalmente desencantaram. E, apesar de eu ter começado a gostar do Steve, para mim já podiam acabar com esse triângulo, porque se tem uma coisa que me dá preguiça nessa vida é triângulo amoroso. Além disso, Nancy é uma personagem incrível que merece mais do que plots de casal;
  • Ok, qual a necessidade do Billy nessa temporada? Ele está ali basicamente para infernizar a Max e rivalizar o Steve (e me deixar com vontade de pegar uma tesoura e cortar aquele cabelo ridículo). O personagem até tem potencial, mas não acrescentou muito. Talvez tenha um papel mais importante na próxima temporada. O jeito é esperar para ver;
  • Odiei essa inimizade entre a Eleven e a Max. Entendo que a El não tem muitas noções de civilidade e dificilmente saberia lidar com ciúmes, mas esse ciúme é desnecessário por si só. Stranger Things já é um clube do bolinha, com personagens femininas que se contam nos dedos, não há necessidade de rivalizar as que existem. Além disso, em duas temporadas já vimos que a série consegue trabalhar a amizade (masculina) como ninguém, então, se virem, porque quero essas duas amigas na terceira temporada. Chega de propagar essa mentira de que mulheres não podem ser amigas e rivalizar mulheres e meninas.
  • A irmã do Lucas é maravilhosa. Já quero mais desse ícone;
  • Eu não sabia que tudo o que meu coração precisava era Steve e Dustin sendo BFFS, com direito a dicas de cabelo e tudo mais. Melhor bromance que você respeita!
  • Dustin tão ícone lufano que adotou um demodog. Newt Scamander estaria orgulhoso;
  • Steve melhor babá que você respeita;
  • Stranger Things e a mania de matar os nerds adoráveis com nomes iniciados em B;
  • Os produtores falaram horrores do Finn ter voltado do set de It – a Coisa falando palavrões, mas  o Dustin não tira o “son of a bitch” da boca;
  • Já quero o Steve fazendo o Daniel Desario, de Freaks and Geeks, e jogando RPG com as crianças;
  • Dustin no baile partiu meu coração;
  • Justiça para Bob;
  • Justiça para Meow Meow;
  • Will Byers foi enviado a esse mundo para sofrer.

Thais Medeiros

Uma fangirl desastrada, melodramática e indecisa, tentando (sem muito sucesso) sobreviver ao mundo dos adultos. Louca dos signos e das fanfics e convicta de que a Lufa-Lufa é a melhor casa de Hogwarts. Se pudesse viveria de açaí e pão de queijo.

Paracatu/ MG

Série Favorita: My Mad Fat Diary

Não assiste de jeito nenhum: Revenge

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