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A sexualidade em Orange is the New Black

Por: em 29 de agosto de 2014

A sexualidade em Orange is the New Black

Por: em

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Orange is the New Black é uma daquelas séries que, mesmo que você não tenha assistido, alguma opinião você terá. Seja porque ela é feita para um canal diferente do qual estamos acostumados, o Netflix, seja porque é uma série ambientada em uma prisão ou porque nos trailers e imagens promocionais, há poucos homens.

Todos estes elementos já tornam OITNB uma sensação. Para quem ainda não assistiu (corra, porque as duas temporadas são excelentes e estão disponíveis no Netflix), a dramédia conta a história de Piper Chapman (Taylor Schilling), uma mulher comum de classe média que foi condenada a 15 meses na prisão por ajudar uma ex-namorada a traficar dinheiro de drogas pela Europa há dez anos. Na prisão, além dos problemas do sistema (também muito bem explorados na série da HBO, Oz, sobre uma penitenciária máxima masculina), Piper tem que lidar com suas novas colegas.

A partir de aqui, o texto tem SPOILERS da série. Por sua conta e risco.

É aqui que OITNB acertou em cheio. Todas as detentas têm uma história interessante e, aos poucos, vamos descobrindo o que levou cada uma à prisão e como elas precisam se virar para sobreviver. A própria criadora da série, Jenji Kohan, disse em entrevista que precisou usar uma mulher branca como bode espiatório para falar da vida das outras mulheres: negras, transexuais, latinas, asiáticas. E em várias dessas histórias, a sexualidade está bem presente.

OITNB não tem medo de mostrar os relacionamentos entre lésbicas ou bissexuais, geralmente tão escondidos e/ou criados para deleite do olhar masculino. A própria protagonista é bissexual, começando a série noiva de Larry Bloom (Jason Biggs) e voltando a se envolver emocionalmente com a ex, Alex Vause (Laura Prepon), a mesma que a colocou na cadeia. Piper é envolvida brevemente com Suzanne “Crazy Eyes” (Uzo Aduba), que desenvolve uma obsessão pela loira na primeira temporada.

Vemos ainda o namoro entre Lorna (Yael Stone) e Nicky (Natasha Lyonne), a paixão de Poussey (Samira Wiley) pela amiga Taystee (Danielle Brooks), como a Tricia (Madeline Brewer) tentou manter a namorada por mais tempo na prisão com ela, as várias “esposas” de Big Boo (Lea DeLaria), só para citar as principais.

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E por que esse assunto é tão importante? A resposta é bem simples: porque faz parte do pacote de um ser humano completo. Muitos de nós esquecemos que a sexualidade humana não é feita somente entre homens e mulheres e, principalmente, esquecemos que todo mundo tem direito de se reconhecer em uma obra de arte e ser aceito na sociedade. Assumir ser uma mulher lésbica ou bissexual em uma sociedade heteronormativa (ou seja, que acredita que a heterosexualidade é a única orientação sexual de homens e mulheres) e machista é ter que ouvir desaforos como “falta de homem”, convites no mínimo inapropriados para menagé a trois ou ameaças de estupros corretivos somente porque ama uma outra mulher.

Como já dissemos algumas vezes, é necessário para a própria aceitação e aceitação da sociedade como um todo ver retratada na televisão uma diversidade de modos de vida e orientações sexuais que diferem do modelo tradicional. As séries – e as novelas, como o caso do Brasil – acabam fazendo um papel fundamental, pois fazem os fãs refletirem sobre o assunto, se aceitarem e contribuem para a formação de uma sociedade mais justa e com mais liberdade para seus indivíduos.

Os homossexuais ainda sofrem muito preconceito, mas aos poucos vamos avançando. O Brasil torceu para ver o primeiro beijo gay masculino em uma novela da Globo e uma das emissoras mais conservadoras do país atendeu ao pedido do público. Porém, quando falamos de mulheres gays, não acontece com a mesma empolgação. As lésbicas e as bissexuais (principalmente) ainda são vistas com maus olhos, como imorais, mal comidas ou que “não acharam o cara certo”, por conta da visão machista de sempre um homem ser o centro do mundo.

Ou vai dizer que você nunca ouviu perguntarem a um casal gay “quem é o homem da relação”? Ou ouviu alguém zoar o amiguinho porque ele desempenha um papel denominadamente feminino no relacionamento, enquanto a namorada é “quem manda”?

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Por esses motivos, uma série como Orange is the New Black desempenha um papel importantíssimo, mostrando diversos aspectos da sexualidade que não estamos acostumados a ver retratados. A dramédia não esconde que mulheres podem sim se relacionar entre si, sem a menor necessidade de um homem e são muito felizes dessa forma. Tudo é feito de maneira simples e natural, sem um olhar masculinizado e fetichizado (Azul é a Cor Mais Quente, estou olhando para você), da mesma forma que estamos acostumados a ver em qualquer relacionamento heterossexual. Devo ressaltar que esta ousadia de OITNB, que também dá destaque a uma detenta trans*, interpretada por uma atriz transexual (Laverne Cox), só pode ser feita porque está em um canal fechado; uma produção própria de uma forma nova de assistir televisão, e não sofre o mesmo julgamento e briga por audiência que teria se estivesse em um canal tradicional de televisão.

Porém, mesmo com empecilhos, os roteiros estão incluindo mulheres lésbicas e bissexuais em suas tramas. Temos exemplos em Glee (Brittana ainda é um dos casais mais queridos do seriado e não podemos esquecer os milhares de ‘ships’ dos fãs de Santana e Quinn), The L Word, Pretty Little Liars, The Fosters, Orphan Black, Once Upon a Time, The Walking Dead, The Good Wife, Grey’s Anatomy, e outros. Neste ponto, tenho que mais uma vez bater palmas para a Shonda Rhimes, por ter criado um dos casais mais fofos da série (Calzona) e ter declarado publicamente que todo mundo deve se ver refletido na telinha.

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A Shonda é um dos poucos exemplos de roteiristas e produtoras que tratam mulheres lésbicas (Arizona) e bissexuais (Callie) com a maior naturalidade possível, como se deve ser feito na vida real. Ninguém deve ser julgado por sua sexualidade.

Pergunta: Amo as suas séries, mas por que há tantas histórias com gays e lésbicas?
Resposta: Porque eu acredito que todo mundo deve se ver refletido na televisão. TODO MUNDO. E porque eu amo todos os meus amigos e amigas gays e lésbicas. E porque eu acredito que casamento homossexual é a luta de direitos humanos da nossa era e no passado, quando ser um negro era a luta, pessoas como Norman Lear (roteirista e produtor de sitcoms que deu a muitos afro-americanos oportunidades de carreiras na televisão) colocavam pessoas negras na televisão e ajudava a mudar algumas mentes. Então, sabe, precisamos continuar. Se estamos dispostos a ficar sentados enquanto uma pessoa não está livre, nenhum de nós está livre.

E porque quando alguém sente que está tudo bem perguntar ‘por que há tantos gays nas suas séries’, então temos um problema enorme que precisa ser resolvido. É como perguntar ‘por que tem tantos negros nos seus programas’ (O que, de fato, justifica ter muitos negros no meus programas. Porque as pessoas continuam perguntando. Como se fosse incomum. O que significa que temos um caminho longo a percorrer). Okay, parei de pregar.

*Esse texto faz parte da Blogagem Coletiva pelo Dia da Visibilidade Lésbica e Bissexual, convocada pelo Coletivo Audre Lorde.


Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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