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American Crime – 2×04 Episode Four / 2×05 Episode Five

Por: em 6 de fevereiro de 2016

American Crime – 2×04 Episode Four / 2×05 Episode Five

Por: em

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American Crime era boa. Ficou ainda melhor depois do combo dos últimos dois episódios, que podem ser vistos, mais que seus antecessores, como duas faces de uma mesma moeda. Ao responder as questões instauradas no começo da trama, o time de roteiristas mostra-se seguro para seguir adiante, adentrando novos mares. Agora que sabemos o que aconteceu, como aconteceu, quais são as repercussões desses fatos no decorrer da história?

Episode Four começa com uma revelação incômoda para os personagens do universo ficcional mas que não era surpresa para nós, do outro lado da tela. Houvera de fato, a relação sexual. Não era possível mais ignorar as pistas deixadas por Taylor e a tensão crescia cada vez mais dentro time de basquete na espreita por um culpado, um bote expiatório.

Como Kevin e Eric são os capitães do time, a pressão mãos está nos ombros de ambos. Junte isso ao fato de que Kevin, por ter completado a maioridade penal, tinha seu nome passível de publicação no jornal. Por mais motivos que eu tenha para desprezar a figura de Teri Lacroix é preciso atentar para a capacidade dessa mãe de proteger sua cria, com unhas e garras. Primoroso é também o trabalho da atriz Regina King, assim como seus colegas como pontuarei ao longo do texto.

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O contraste entre as vidas de Kevin e Eric são grandes: enquanto o primeiro tem pais cujo apoio é constante e a condição financeira proporciona a contratação de advogados e contatos dentro da polícia, facilitando qualquer ação, seja na corte ou no cotidiano, Eric se encontra no meio de um turbilhão. Pais divorciados, com pouco dinheiro e sem nenhuma perspectiva de ajuda. Isso não exime o rapaz de sua violência e agressividade fora do normais e, que arrisco a dizer, serão abordadas em alguns episódios à frente.

Arredio e rebelde, ele precisa segurar a barra não apenas de ser um homossexual não assumido e conflituoso dentro de um contexto que cobra posturas masculinas. Ele precisa ser o irmão mais velho ideal e um filho capaz de suprir a necessidade de seus pais. Nesse caso, a necessidade é de que ele esteja bem. Ambos pais passam por momentos de extrema dificuldade, financeira e psicológica. Eric sente-se responsável por mostrar a eles que está bem, forte e que as decisões de seus progenitores pouco afetam sua vida pessoal.

É por isso que a suspeita da violência sexual e suas consequências, como prisão, o linchamento moral, a perda da possibilidade de estudar numa instituição superior de qualidade e tantos outros fatores atormentam Eric a ponto de levá-lo a um ato sem volta: o suicídio. Uma solução definitiva para problemas temporários, o suicídio é a válvula de escape do rapaz, possibilitando uma catarse e a resolução de suas culpas.

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A tentativa, entretanto, não se concretiza. Culpado, o técnico Dan Sullivan visita o garoto no hospital para descobrir, sem nenhuma propósito uma confissão: o esperma nas roupas de Taylor é, de fato,  de Eric. Mas aquela não fora uma relação de abuso. Fora sexo consensual. Ele pedira por aquilo. Um episódio antes de sua metade, American Crime reinventa o jogo vigente e muda os atores da situação de possível. Essa revelação re-significa todo o universo da série.

A repercussão dessa nova verdade é percebida em Episode Five. Registros de conversas entre os garotos, termos técnicos indicando agressão sexual e o desejo vindo de Taylor por algo mais violento surgem. Evy fica desolada (e com razão). “O que eu sou pra você?” Pergunta ela num tom honesto e agressivo. A execução dessa cena é muito interessante pois ao invés de incluir um som para cortar a palavra obscena, investe-se numa metáfora visual para isso, com um fade out.  É de se perguntar o modo como o roteiro irá trabalhar essa problemática mais adiante. Taylor não é necessariamente homossexual por ter feito sexo com um homem (coisa que Eric afirma com convicção). Os sentimentos dele por Evy são uma farsa ou verdadeiros?

Por outro lado é preciso frisar que qualquer relação sexual deixa de ser uma relação sexual para se tornar um caso de violência quando um dos envolvidos recua ou nega o consentimento. Mesmo no caso de Taylor, que flertou por mensagens a fio com Eric e principalmente dentro dos limites da fantasia sexual. O sexo brutal, violento, ainda é um consenso. Quando qualquer uma das partes retira seu consentimento o que ocorre não é sexo. É crime.

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É preocupante, principalmente na fala de Eric marcado pelo histórico de violência e agressividade, ouvir repetidas vezes “Ele pediu por isso”. Ele se justifica do que é claramente um crime. Mesmo que Taylor tenha, de fato, pedido por aquilo, seu personagem nega a todo instante que o consentimento seja completo. Basta lembrar das fotos do jovem desacordado, vomitando e drogado.

As questões raciais continuam com força no plano de fundo desses acontecimentos. Kevin é visto como principal suspeito não só pela sua idade mas pela cor de sua pele. Como bem lembra sua mãe, um negro não pode se colocar numa posição passível de julgamento. Os olhos da sociedade percebem esses indivíduos com lentes de preconceito, mesmo quando o “dono” do ato é um jovem branco. A tensão entre os latinos e negros cresce, gerando até um mini protesto na frente da escola.

A temporada chegou em sua metade e há poucos acontecimentos que posso prever. Depois de resolver o mistério no quarto episódio e reposicionar as peças desse tabuleiro podemos esperar reviravoltas e camadas de preconceito, assim como nos episódios anteriores.

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Antes de acabar:

  • A linguagem visual da série é estonteante. Televisão de primeira classe. A metáfora visual para simbolizar a censura em certas palavras, o plano sequência em Episode Five durante a apresentação de dança, as cenas de conversa com um descolamento entre o som e as imagens…
  • O elenco é algo sólido. Não é preciso elogiar o trabalho de HUffman, por isso parto para as interpretações de Lili Taylor, Connor Jessup e Joey Pollari. A primeira é a mãe de Taylor, que expressa em seu olhar todo o desespero e agonia dessa situação. Os últimos, Taylor e Eric, segurando personagens difíceis em situações extremadas e oferecendo nuances aos seus personagens. Bom trabalho.
  • Peço desculpas no atraso das resenhas! Às vezes o computador dá uma de Barb e não colabora.

Daniel Matos

Ex-gordo, fã de televisão e da Palmirinha.

Belo Horizonte

Série Favorita: The Good Wife

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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