A segunda metade de American Crime começou nesse episódio. Talvez esse possa ser um marco na mitologia da série, inserindo novos caminhos. Afastando-se da trama principal envolvendo a violência sexual, grande parte do episódio foi dedicada aos conflitos raciais em Marshall.
O confronto de três alunos latinos contra um aluno negro ainda reverbera na comunidade escolar e é uma daquelas situações onde o micro expõe o macro. A expulsão dos alunos latinos, suas reclamações não ouvidas a longa prazo mostraram a problemática racial presente na escola. A sequência onde o diretor Chris ouve pais, negros e latinos, é muito demonstrativa. Logo depois ele está só, em meio às cadeiras. O uso da expressão “seu povo”, “sua gente” tão comum na série (principalmente nessa trama), transparece uma lealdade acima de qualquer ato moral. Proteger os seus é dever de qualquer um. Ética e conceitos de certo e errado são irrelevantes.
De volta à Leeland, Eric é recebido como um sobrevivente e heroi, com boas doses de preconceito e segregação por parte do time. Leslie não deixa a oportunidade passar e transforma o acontecimento numa história de superação, contratando um escritor de aluguel para transformá-lo num exemplo de atleta e homossexual assumido. Eric, é claro, mostra-se arredio. Ele sabe que não é heroi. Além disso, demonstra uma clara diferente entre ser um homossexual (o que ele é) e uma bicha, afeminado (algo que ele não é).
Para Taylor, envolvido em outro relacionamento (com grandes indícios de ser abusivo) a recepção calorosa de seu agressor por parte da diretoria da antiga escola é de matar. Ele deve viver como se o crime nunca tivesse acontecido, se escondendo e fugindo da vergonha. Seu algoz, ao contrário, é recebido com grande agitação e euforia. Ele é o herói. Conviver com o acontecido, as consequências em sua vida e na de sua mãe, as sessões de terapia são um grande peso.
Anne permanece resoluta na tentativa de processar a escola, atingindo a fúria de grandes personagens, como Michael que precisa mostrar que com os Lacroix não se mexe e a apreensão de Leslie, percebendo os possíveis danos que uma ação civil possa causar à reputação já maculada do colégio. A tensão é completa na última cena, quando Taylor foge da armadilha orquestrada por Eric, uma tentativa de pressionar o garoto a mudar a ideia de sua mãe. Mais uma instância de crueldade, afinal, metade do time de basquete contra um garoto?
A cada semana é mais difícil gostar dos personagens de American Crime.
p.s.: Terri e seu barraco no restaurante de Anna. Uma cena perturbadora e realista. Uma mãe é capaz de crueldades para proteger suas crias.