Embora importante para o desenvolvimento da trama, The Dream Team foi um episódio bem menos empolgante que os anteriores. A estratégia da defesa para inocentar OJ ainda precisava de peças e abordagens específicas que só foram encontradas neste ponto da história, enquanto a polícia se deixou esvaziar de provas e testemunhas fundamentais.
Juice sempre teve o apoio do público, mas a polícia dava como certa a sua condenação por causa das provas contundentes a respeito do caso. Eles, principalmente Marcia, tinham tanta certeza naquele ponto que o caso estava ganho, que ignoraram o peso da imprensa, dos ativistas e toda a população de LA que via em OJ um ídolo injustiçado. A certeza na vitória e até mesmo o excesso de zelo e de ética da promotoria começaram a dar à defesa de OJ alguma vantagem, que antes não existia. Quando eles se recusam a usar testemunhas que falam com a imprensa – ainda que elas sejam fundamentais – ou deixam vazar uma prova importante, dando tempo para que a defesa se blinde contra ela, eles perdem força, perdem consistência e abrem a guarda para um time que definitivamente não veio para perder.
O time dos sonhos de OJ precisava de duas frentes para virar o jogo contra a promotoria: uma de gente, a outra de inteligência. Era difícil manter a simpatia do público enquanto o advogado mais famoso da América afirmava que Juice era de fato culpado pela morte da ex em rede nacional. Contrata-lo resolveu dois problemas: calou uma voz contra eles e trouxe um sopro de ar fresco que abriu novas possibilidades além dos poucos que eles tinham antes. Colocar em dúvida as evidências de DNA e tornar o caso uma questão racial complica tudo para a promotoria, e finalmente levar Cochran para o centro da defesa deu à equipe a dose de paixão que faltava, ainda que a realidade seja bem diferente.
Apesar de todo o histórico de racismo da polícia de LA, inclusive do detetive, o caso de OJ não é um impasse racial. Ele é tratado como um rei dentro da cadeia e sua ascensão social deu a ele um status muito próximo dos brancos endinheirados que o cercavam. O que tem incomodado é a forma como a série aborda isso, tratando todas as críticas a um sistema racista que eventualmente respinga em OJ como “mimimi” politicamente correto ou ingenuidade. Negros ricos como OJ ainda sofrem racismo no mundo real, e ignorar essa realidade mostrando apenas o oportunismo da defesa ao se apropriar dessa causa chega a ser desonesto em algum nível.
O caso de OJ é um exemplo claro de violência contra a mulher, que é tragicamente democrática e se repete da mesma forma com pobres, ricos, brancos, negros, americanos e brasileiros. Juice se coloca como vítima com tanta veemência porque ele de fato se vê dessa forma. Assim como ele acha que agredir Nicole foi uma bobagem de marido e mulher, ele acha injusto que tirem a sua liberdade, seus filhos e sua fama “apenas” porque ela morreu.
Outro tema bastante evidenciado aqui foi a proporção que o caso tomou depois de se tornar um reality judiciário, e como todos os personagens envolvidos nessa trama tiveram suas vidas mudadas por ela. As pessoas podem nem saber ao certo o nome ou quem são eles, mas já tem suas torcidas, suas opiniões formadas e os tratam ora como celebridades, ora como criaturas cartunescas, atrações da Disney que você vê como heróis ou vilões sem nuances.
Algumas observações:
– Marcia é uma personagem central dessa história, mas ainda parece pouco aproveitada dentro da trama. Talvez no tribunal ela consiga se destacar mais
– Robert falhou miseravelmente tentando passar seus conceitos sobre a fama para a família, claro
– É impossível ter empatia com OJ. Ele é chato, em primeiro lugar. E isso é uma falha na série, porque não parece real que tanta gente defenda uma pessoa tão insuportável.
The Dream Team foi um episódio morno e que pode até mesmo afastar parte da audiência. Será que nos próximos episódios a série vai tomar fôlego ou vai se arrastar até o fim da temporada? Deixe seu comentário e até semana que vem!