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Bates Motel – 5×06 Marion

Por: em 29 de março de 2017

Bates Motel – 5×06 Marion

Por: em

Mexer em qualquer clássico pressupõe, além de muito amor, bastante coragem. Primeiro porque estamos lidando com um projeto que está, de certa forma, intocável no imaginário de milhões de fãs. Segundo porque, ao tocar em algo nesse nível, as expectativas naturalmente atingem padrões altíssimos. Bates Motel ousou ao propor um prelúdio do filme Psicose, sob o ponto de vista da adolescência e juventude do seu protagonista. E acho que a série, apesar de algumas derrapadas, no geral vem cumprindo muito bem o que prometeu. Sempre enxerguei o seriado como uma história com vida própria e houve momentos em que não imaginei que eles fossem encerrar no mesmo ponto que o filme. Mas aí veio a quinta temporada, quando foram introduzidos personagens centrais da história, que tornaram impossível não concluir que o fim do seriado seria o mesmo do da obra de Hitchcock. Nos levar por essa linha de raciocínio foi  uma estratégia extremamente bem explorada pelos produtores da série, que nos entregaram até então, cenas quase que idênticas às do filme, fazendo com que inconscientemente, já esperássemos reviver de forma também bem similar, momentos antológicos de Psicose.

Reprodução/A&E

Dito isso, temos Marion. Encontramos Norman Bates  num dos momentos mais delicados da sua trajetória até aqui. Totalmente possuído pelos seus distúrbios, ele vivia até então, uma situação de certa forma confortável, à medida que sublimava seus blackouts e convivia com Mother, sem cobranças do seu lado “consciente”, que o envolvessem diretamente nos problemas advindos daí. A loucura capitaneava esse barco e nas poucas vezes que ele tentou tomar o controle foi, para ainda assim, inserir sua mãe na jogada como a única protagonista de tudo. Acontece que o encontro com Dr. Edwards e tudo que ele conseguiu relembrar depois disso, mudou totalmente essa perspectiva. Dizem que uma consciência que se expande jamais volta ao normal. E foi basicamente isso que Norman experimentou. Por mais que ele tenha detestado o período que passou internado, foi o psiquiatra que trouxe à luz, a natureza dos seus problemas. Foi ele quem fez o garoto ter percepção da própria condição e iniciou um processo de como ajudá-lo a lidar com isso. Esse contato mínimo com o profissional trouxe à tona a consciência que Norman tenta, a todo custo, enterrar, para conseguir conviver com sua doença. E essa visão da realidade, mesmo que embaçada pelos medos do que ele ainda não consegue enfrentar, veio ainda com mais dor e sofrimento.

Freddie Highmore carregou esse episódio no bolso, em mais uma atuação tocante, sensível e visceral. Vimos um Norman desesperado, implorando para Mother voltar e ao mesmo tempo nervoso, obrigando a mãe a sumir, recusando-se a interagir com alguém que ele agora sabe que só existe na sua cabeça. Teve briga, rancor, mágoa, ciúme, amor, medo, pânico, raiva, dor, entrega e desistência. O que dizer da cena (uma das mais tristes da temporada, na minha opinião) onde vemos o personagem (“abraçado à mãe”), chorando sozinho numa cozinha toda quebrada, que nada mais é que o retrato da sua luta interior? Norman está cansado, está só e agora, mais que nunca, despedaçado em mil partes que ele não vai mais conseguir juntar. Como se isso tudo não bastasse, ele ainda teve que lidar com Dylan, numa conversa urgente, que precisava sim ter existido, mas que naquele contexto, jamais poderia acontecer da forma que o irmão merecia. A rispidez de Norman acendeu o milésimo alerta em Dylan e acho que agora, finalmente, ele vai entender que precisa voltar para casa.

Reprodução/A&E

Se por um lado, o personagem desperta compaixão, como na sequência anterior, por outro provoca tensão e medo. Suas cenas com Marion, seguindo a linha dos episódios anteriores, foram muito parecidas com as do filme Psicose, com diálogos inclusive bastante semelhantes, elevando nossa ansiedade ao limite máximo. Foi literalmente uma montanha-russa de emoções, com direito a prender a respiração e depois soltar, ao perceber que Marion conseguiu terminar seu banho (aliás Rihanna, que bom que você canta, porque nossa, foi muito desproporcional o nível de atuação dos dois). Como imaginávamos, as coisas não deram muito certo para Sam Loomis, com as duas enganadas descobrindo ao mesmo tempo a traição e, cada uma a seu modo (#teamMadeleine), externando sua raiva. Curioso perceber que foi Norman Bates quem desmascarou o moço para ambas, né?  São exatamente esses momentos que nos fazem lembrar que o garoto tinha tudo pra ser um daqueles caras certinhos e fofos, super do bem. O desespero dele em mandar Marion embora, só nos dá mais uma prova que ali dentro bate sim um coração. Foi o seu instinto protetor, que o levou a desesperadamente, tentar salvar a mocinha de um destino que ele já previa trágico.

Em um episódio chamado Marion, nada mais óbvio que imaginar que assistiríamos à releitura de uma das cenas mais antológicas do cinema, um marco no gênero, que ficou pra sempre imortalizada no imaginário dos fãs. Certo? Mais ou menos, em se tratando de Bates Motel.  Depois que Marion Crane vai embora do motel e joga fora o seu celular, é claro que a gente pensa: “oh, o seriado vai seguir outro caminho”, misturado com: “nossa, não vai ter mesmo a cena do chuveiro!” Mas aí acontece o que? Um plot twist do capeta e muda tipo TUDO! Não que eu não desejasse isso. Acho maravilhoso a série tomar outro rumo, deixar sua marca e não acabar do jeito que está todo mundo esperando. Acho bacanérrimo eles se preocuparem em, de certa forma, empoderar as mulheres, deixando sozinho o babaca da história. Só penso que poderia ter acabado antes da cena final. Introduzir Sam Loomis naquele contexto, por mais que tenha tido lá sua coerência, foi meio que um pecado capital, na minha humilde opinião. E está sendo difícil superar. Não pelo personagem, claro. Sem carisma, sem noção e ainda de caráter duvidoso, seu final foi daquele tipo que não provoca nenhum sentimento. Mas justo nessa cena? Nãooooooo.

Divulgação/A&E

Polêmicas e opiniões pessoais a parte, acho que podemos dizer que Marion deixou escancarada a opção dos produtores em trilhar mesmo o seu próprio caminho. E isso quer dizer que desse momento em diante, o futuro de Norman voltou a ser uma página em branco, onde podemos escrever milhões de teorias. Será que eles deixarão Dylan e Emma vivos? Será que eles vão livrar somente Marion da morte e seguir com o seriado na linha do filme? Será que Marion volta? Cadê Romero? Será que Chick vai lançar o livro com Norman vivo e solto? São muitas suposições e quase nenhuma certeza. A única coisa definitiva aqui é a surpresa prazerosa que é assistir Bates Motel a cada episódio.

 


Renata Carneiro

Jornalista, amante de filmes e literalmente, apaixonada por séries. Não recusa: viagem, saidinha com amigos, um curso novo de atualização/aprendizado em qualquer coisa legal. Ama: família, amigos, a vida e seus desdobramentos muitas vezes tão loucos Tem preguiça: mimimi

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Breaking Bad

Não assiste de jeito nenhum: Two and a half Men

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