Uma das coisas que mais gosto em Breaking Bad e em Better Call Saul é a habilidade de apresentar metáforas visuais de forma orgânica. Na temporada anterior, por exemplo, vimos que a doença de Chuck, a fotofobia e a “alergia” de aparelhos eletrônicos e elétricos na verdade era uma metáfora do que estava por vir. Ele não estava apenas no escuro, ele estava nas sombras, agindo sorrateiramente para evitar o sucesso de Jimmy. Iniciamos este episódio observando o reflexo desfocado da figura obscura de Chuck, que toca piano tentando alinhar-se ao metrônomo mas é interrompido pela campainha. Era Howard, que veio pessoalmente alertar a Chuck que Jimmy agora trabalha para Davis & Maine. O desconforto de Chuck é evidente e é quase possível ver a maquinação dentro de sua cabeça, analisando como poderia atrapalhar o seu dedicado irmão.
As coisas vão bem para Jimmy, seu relacionamento com Kim parece estável, eles até fazem planos de brincadeira (mas com algum fundo de verdade). Entretanto, para nos lembrar do futuro que o aguarda, vem novamente a metáfora: Kim dá para Jimmy um copo, destes que servem para apoiar no porta-copos automotivo, mas que não encaixa no novo carro. Jimmy e o copo não se encaixam naquele bonito carro empresarial cedido pela Davis & Maine.
Price é chamado até a delegacia para prestar depoimento sobre o furto em sua residência, mas é avisado por Mike que os policiais suspeitam dele. Temendo ser delatado, Mike se propõe a recuperar os cartões de baseball que foram roubados de Price. É ótimo ver o velho Mike de volta em uma missão, ele rastreia Nacho e oferece duas opções: A punição, na qual ele contaria a Tuco Salamanca que Nacho estava traficando drogas “por fora”, ou o incentivo, no qual Nacho lucraria em devolver os cartões. É isso que torna Mike um sujeito temido, ele não precisa nem apontar uma arma ou usar força física, pois simplesmente entende muito bem os mecanismos da polícia e dos bandidos, investiga antes de se envolver e sabe como coagir as pessoas da forma correta.
Os cartões são devolvidos, mas este não é o fim da história, pois a polícia ainda suspeita de Price. Dando sequência a parceria que lá na frente veremos em Breaking Bad, Mike pede que Jimmy ajude Price. Mas quem aparece é o nosso querido Saul Goodman, inventando uma história hilária sobre Price não estar envolvido em atividades ilegais, mas em algo privado. Segundo ele, Price tem um amante rico para quem ele fazia vídeos artísticos envolvendo sentar em tortas, para estimular os sentidos. O grande problema é que os policiais querem ver o tal vídeo. E começamos a ver o advogado criminoso, em vez do advogado criminal, uma vez que ele precisou fabricar uma evidência (Sim, ele disse para o Price fazer o tal vídeo). Jimmy é um bom advogado, foi um irmão comprometido, e no geral é uma boa pessoa, mas nada disso impede que ele também seja, como Mike nos lembrou, moralmente flexível.
Notas:
– Será que ele perderá o emprego na Davis & Maine por causa desta falsa evidência? Ou pior, será que isso vai se tornar uma prática recorrente dele que colocará em risco o caso contra o asilo SandPiper?
– E Kim? será que vai conseguir conviver com a moral flexível de Jimmy?
– Meu Deus, eu queria muito ver vídeo artístico do Price!