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Big Little Lies – 1×04 Push Comes to Shove

Por: em 15 de março de 2017

Big Little Lies – 1×04 Push Comes to Shove

Por: em

A cena mais eletrizante de Push Comes to Shove, quarto episódio de Big Little Lies, é aquela em que Madeline e Celeste conversam minutos depois da reunião na prefeitura sobre o futuro de Avenue Q. As duas amigas estão dentro do carro, e Madeline sente que deve expressar quão incrível a amiga foi durante a reunião (Você foi fucking brilhante!). No entanto, o clima de celebração muda quando Celeste lembra que mesmo que ela se sinta viva ao exercer sua profissão, ela não pode trabalhar porque tem responsabilidades como mãe e um marido abusivo que quer garantir que ela permaneça em casa.

“Eu me sinto tão envergonhada ao dizer isso, mas ser mãe não é o sufiente para mim, Celeste afirma acreditando que isso faz dela uma pessoa perversa. Mas Madeline tem uma história parecida para contar. Ela também se sentia sobrecarregada com suas filhas, e o trabalho voluntário no teatro a fez lembrar que ela também tinha uma vida. “Eu quero mais”, ela diz; e a seguir repete as mesmas palavras em um tom muito mais alto e apertando a buzina do carro.

Não há nada particularmente novo revelado nessa conversa, mas é exatamente isso que impressiona na cena – além das atuações espetaculares de Nicole Kidman e Resse Whitherspoon, obviamente. Big Little Lies tem uma forma muito peculiar de mostrar fatos novos sobre seus personagens e o quarto episódio tem outros momentos em que faz exatamente isso, porém a série tem sucesso ao fazer seus personagens notarem coisas que já é conhecimento do público. Nós já sabíamos que Celeste estava infeliz com seu papel dentro de sua família e que sua postura passiva diante da opressão de Perry a incomoda, mas o seu comportamento é sempre treinado para que as pessoas ao redor dela não note seu descontentamento. Mas o mais preocupa em relação a falta de transparência com sua insatisfação é que a própria Celeste não quer reconhecer o que está de errado em sua vida. A primeira reação ao seu choro é engolir as lágrimas, pedir desculpas e dizer que ela não sabe de onde isso está vindo.

E é perfeitamente compreensível que Celeste tenha dificuldades em admitir que ela é infeliz. Assim como Madeline, Renata ou Bonnie, ela tem tudo que uma pessoa pode pedir na vida: uma casa com vista para o oceano Pacífico, vinho caro para afogar as mágoas, filhos saudáveis, uma escola pública de qualidade e, inclusive, a chance de ficar em casa cuidando dos filhos – o que é impossível para muitas mães nesse mundão. Então, é claro que essas reclamações vêm de uma posição de privilégio e Big Little Lies não quer esconder isso. Aliás, é recorrente que a série posicione suas personagens reclamando de problemas fúteis olhando para o mar para nos lembrar quão pequenas elas são e quão mesquinhos são seus aborrecimentos. No entanto, isso não impede que elas se sintam incompletas ou infelizes de alguma forma. Todas elas têm problemas que podem ser o possível fracasso do aniversário da filha ou a falta de paixão pelo marido, e o de Celeste é que o seu trabalho significa mais do que ela imaginava e que Perry não vai deixá-la sair de casa.

“Para mim o problema não é como melhor conversar com seu marido, mas por que você está com medo”, a psicóloga de Celeste nota sobre a forma que ela fala sobre isso. Celeste até diz que ela não está com medo de Perry, mas sua afirmação não é crível. Como o casal começou a fazer terapia, a violência física do marido diminuiu, mas suas agressões tomaram outra forma. Ao invés de bater na esposa para impor sua vontade, Perry faz isso mostrando que se importa com o bem estar da companheira. Ela não pode trabalhar porque ele está preocupado com seu nível de estresse ou porque acrescentar um outro filho nessa fase do relacionamento parece uma ótima ideia. É claro que a agressividade surge em alguns momentos porque o instinto é sempre mais forte, mas é importante lembrarmos que a violência sempre pode tomar outras formas.

Se para a história de Celeste e Perry, Big Little Lies decide não adionar nenhuma novidade e desenvolve diferentes possibilidades, a série compensa com os outros plots. Madeline diz ter encontrado o pai de Ziggy e ao ver a imagem do moço, Jane diz que pode ser ele, mas que ainda precisa de mais informações, como sua voz e cheiro, para ter total certeza. Jane também pensa em se mudar de Monterrey e leva Ziggy à terapia para se certificar que ele não está fazendo bullying. E Madeline aparentemente teve um caso com o diretor da peça de teatro.

Bem, o possível romance com Joseph é apresentado pela perspectiva de Madeline como um avanço da parte do funcionário e que suas atitudes aos carinhos dele eram reações impulsivas. Sua versão da história é comparada com as verdadeiras imagens do beijo e é engraçado como a descrição não acompanha o que estamos vendo. Mas uma conversa entre os dois prova que esse relacionamento não é algo repentino e que outros encontros aconteceram previamente.

Esse novo fato para a vida de Madeline vem acrescentar um pouco mais de conflito para seu casamento com o amável Ed, que se veste de Elvis Presley para dublar uma música para sua esposa e que também faz comentários esquisitos sobre o suor no corpo de mulheres e não evita olhar para a bunda das alunas de Bonnie. É irônico que vendo algumas atitudes de Ed, ele ainda pareça com a voz da razão do relacionamento e que se sinta confortável em ir até Bonnie para se apresentar como um intermediador da paz durante o jantar.

Há dois episódios, o comportamento de Ed era perfeitamente normal e com pequenas ações, a série muda a imagem de um personagem. E é isso que é instigante em Big Little Lies, o drama não apresenta tudo o que devemos saber sobre a identidade de alguém logo de cara. Ele vai abrindo diferentes camadas a cada episódio para termos gradativamente uma perspectiva geral do que cada personagem é e o que ele pode fazer. “Todo mundo tem bagagem”, Bonnie aponta e como espectadora de Big Little Lies, quero ter acesso até às menores malas que esses personagens estão carregando.

Outros comentários: 

– A psicóloga de Ziggy elimina todas as possibilidades dele estar fazendo bullying, mas a série não descarta as chances do menino ser violento. Uma das cenas que intriga é quando vemos ele tentando sufocar Jane, mas essa pode ser apenas uma projeção da imaginação da mãe.

– Por sua vez, Jane também tem várias referências a violência em sua narrativa. Então, quando ela diz que não considera assassinar o homem que a estuprou, é difícil que seja inteiramente verdade. Afinal, aquela arma não está de baixo do travesseiro a toa.

– Nathan também mostrou uma nova faceta nesse episódio. Ele nunca foi alguém muito agradável, mas o tom da conversa com Madeline estava mais ácido do que o normal.

– Ed: “Qual o pseudônimo?” / Madeline: “Deus.” Ah Madeline, me ensina a não te amar. <3

E você? Gostou do episódio? Deixe seu comentário e até a próxima review!


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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