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Big Little Lies – 1×05 Once Bitten

Por: em 28 de março de 2017

Big Little Lies – 1×05 Once Bitten

Por: em

As cenas do início e do final de Once Bitten, quinto episódio de Big Little Liestêm composições parecidas. As mulheres do drama dirigem até a escola para deixar seus filhos e demonstram seu carinho pelas crianças com gestos calorosos. Porém, o que realmente desperta curiosidade nesses dois momentos são as diferenças que preenchem os riffs de guitarra de Ball and Chain.

Uma coisa que chama atenção é a presença da detetive na montagem inicial. Afinal, se Big Little Lies dedica tão pouco tempo a investigação do crime que motiva a série – e isso não é diferente em Once Bitten – por que mostrar a detetive Adrienne Quinlan logo nos minutos iniciais? Despertar o interesse sobre uma investigação que não está caminhando diante dos nossos olhos pode ser um motivo por si só. Apesar de adorar acompanhar a trajetória de Madeline, Celeste, Jane, Bonnie e Renata (ah, Renata!) até o momento do crime, é impossível não desejar mais cenas com a detetive e informações mais precisas sobre o que aconteceu naquela noite.

É claro que isso não apresenta nenhum defeito para a série. Até porque o quinto episódio foi tão bem escrito quanto os outros episódios – sem falar na edição espetacular mostrada nesse capítulo. A pressa em desvendar o crime diz mais sobre minha ansiedade como espectadora do que sobre a própria narrativa. Mas a vida dessas mulheres é tão ingrigante que é fácil esquecer que um crime é um ponto final dessa história. Então – eu não posso deixar de perguntar isso constantemente, – qual é a participação dessas mulheres com o crime? A rixa entre Madeline e Renata pode ter alguma coisa a ver com isso? A obsessão de Nathan por armas deve me deixar preocupada? Mas mais importante: por que os investigadores trouxeram o nome do pai de Ziggy – Saxon Banks – aos entrevistados?

“Nós estamos planejando uma viagem para conhecer a pessoa que te atacou e você está praticando tiro ao alvo… Eu não estou nem um pouco suspeita”, Madeline comenta ironicamente. Jane garante que não está planejando matar o homem e que a prática a ajudou a sentir mais forte e empoderada, mas se nós avançarmos no episódio essa afirmação não parece tão segura. A mãe de Ziggy vai conhecer de fato o homem que Madeline acredita que pode ser o pai de seu filho, porém ela não leva nenhuma de suas amigas consigo. Dentro de sua bolsa, ela carrega a arma que fica debaixo de seu travesseiro todas as noites. Mas Jane não tem oportunidade para consumar o ato que ela foi lá para realizar. Ela não tem certeza se aquele é a mesma pessoa daquela noite. O porte físico é realmente parecido, mas ao tentar se aproximar para sentir o cheiro do arquiteto – o odor e a voz de do homem são as características que Jane guardou daquela noite -, ele estranha o ato, ela deixa a bolsa cair e sai correndo desesperadamente do escritório.

Aquele não é o pai de Ziggy, mas isso não dissolve o trauma, paranoia e o desejo de vingança que estão tão presentes na narrativa de Jane. A cada momento que olho para personagem – e a incrível e sensível atuação de Shailene Woodley é a grande responsável por essa noção – me parece que Jane está prestes a implodir. É verdade que ela frequentemente age para liberar todas as pressões que atuam em seu corpo. Mas a prática de tiro, as intensas sessões de exercício, o cigarro, a alta velocidade, o arremesso de celular são apenas formas pequenas de expressar toda sua frustração. No entanto, Jane tem suportado muito mais que ela pode carregar por muito tempo e me parece inevitável que isso exploda em algum momento.

Inevitável. Talvez essa seja a palavra que rege Once Bitten. Jane, Celeste e Madeline podem até tentar controlar os atos que são consequentes de suas mentiras, mas a verdade sempre vem à tona de alguma forma.

E se Jane tenta controlar a raiva que toma conta de seu corpo, Celeste tenta esconder as cicatrizes geradas pelos acessos de raiva de Perry. “Ele te machuca”, afirma a psicóloga em uma sessão de terapia em que só Celeste está presente. “Nós dois nos tornamos violentos às vezes. Eu assumo mimha parte de culpa”, ela tenta justificar, mas a psicóloga insiste: “Ele te machuca.” A observação da profissional deixa Celeste desconfortável e irritada porque ela não consegue notar que a violência que enfrenta cotidianamente em seu casamento não é um problema comum. Celeste não quer ser uma vítima. E mais importante, ela não quer que o homem que a trata como uma deusa e que é um pai maravilhoso seja um crimonoso. Mas é a aqui que mora a ironia. Perry pode realmente ser um pai incrível, um marido incrivelmente charmoso – e a beleza de Alexander Skarsgård não nos deixa esquecer disso em nenhum momento – e um homem violento e abusador. Essas realidades podem habitar o mesmo corpo e por mais que a atitude de Celeste seja totalmente compreensível, ainda é devastador ver que ela está em perigo e não tem noção disso.

Na vida de Madeline não são as mentiras que ela conta para si mesma que representam perigo. Madeline teve um caso com Joseph e apesar de ter encerrado o relacionamento, ela continua escondendo o affair do marido. Como o acaso sempre vem para agitar o que parece em não tão perfeita harmonia, Madeline e Joseph sofrem um acidente de carro e não há nada que possa explicar por que os dois estavam juntos naquele momento e por que Madeline estava sussurrando em sua visita ao diretor da peça no hospital. Então, além da ocasional falta de paixão, Ed também tem o acidente para desconfirar da atitude de Madeline. Sem contar os outros problemas extraconjudais que a esposa continua acumulando: a saída de Abby de casa, o descaso de Nathan com suas preocupações, a possível visita ao homem que poderia ser o abusador de Jane, o constante embate com Renata. Ufa! Mas Madeline nunca cansa e só estamos há dois episódios do fim de Big Little Lies. 

Sim, infelizmente só temos mais dois episódios da série e por isso, as cenas do início e do final de Once Bitten dizem muito do drama. Big Little Lies repete temas, situações e, muitas vezes, cenas em todos seus episódios sem tornar sua história cansativa ou reduntante porque há uma ideia muito clara de onde sua narrativa está e até onde eles querem chegar. A cada episódio, a série nos surpreende com um retrato profundo de cada personagem e com um roteiro incrivelmente detalhado e a medida que nos aproximamos do fim dessa história é inevitável nos depararmos com repetições, mas saber onde chegamos não é mais importante do que entender como Madeline, Celeste e Jane chegaram até a cena do assassinato.


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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