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Bloodline – Vale Cada Minuto!

Por: em 7 de abril de 2015

Bloodline – Vale Cada Minuto!

Por: em

Nós não somos pessoas más. Mas fizemos algo mal.

bloodline-netflix

Das mentes por trás de Damages, a Netflix lançou, há algumas semanas, Bloodline, um drama familiar melancólico, carregado e sombrio. No centro da história, estão os Rayburn, uma tradicional família americana. Robert e Sally, patriaca e matriarca, dirigem uma pousada bem sucedida no condado de Monroe, na Flórida. Possuem quatro filhos: John (narrador da história), Meg, Kevin e Danny, este último sendo a chamada “ovelha negra”, que passou anos fora e agora está de volta. A presença de Danny na vida dos Rayburn traz a tona sentimentos conflitantes entre a outrora inseparável família, bem como segredos de um passado que eles preferem fingir que não existiu.

De cara, o que se pode dizer de Bloodline é que ela não é uma série viva. Explico: Tudo na série passa a impressão de algo gasto. Quase sem cor, filmada toda em tons de cinza, a atmosfera é sufocante. Angustiante. Dark. Se você prefere programas solares, engraçados, felizes e onde tudo parece caminhar bem, não, essa série não é pra você. Mas se você gosta de um mergulho psicológico em personagens profundamente complexos e em uma família danificada por um segredo do passado, uma trama gradual que cresce a passos lentos (até atingir um clímax de tirar o fôlego), sim: Bloodline é pra você.

A fotografia sem vida combina com o clima que o roteiro impõe a produção.

kyle chander bloodline

Bloodline é pessimista e ao mesmo tempo realista. Mostra o que há de nocivo em guardar segredos por muito tempo e como a vida de uma pessoa pode ser afetada drasticamente por isso. A mensagem clara é a de que construir uma vida inteira em cima de mentiras não é seguro, porque cedo ou tarde, o castelo de cartas desaba. E assim como é quando isso ocorre na vida real, tudo importa. Alguns episódios do meio da temporada são mais lentos do que o costume e podem até “espantar” aqueles ávidos por um ritmo mais frenético, mas acredite: Nada está fora do lugar. O texto da série é como um grande quebra-cabeça, que vai se montando episódio por episódio, culminando numa sequência de tirar o fôlego nos 3 capítulos finais.

Uma coisa que funciona muito bem também é sua estrutura. Em praticamente todo episódios, temos a narração de John (em um trabalho de voz impecável de Kyle Chandler) em meio a flashsforwards de um futuro que sabemos que não está distante, flashbacks de um passado nebuloso e a fatos da trama presente. No começo, a arrumação até pode soar confusa, mas a partir do momento em que a série te acostuma a isso, os forwards contribuem para aumentar a empolgação com a trama que está sendo construída, além de te permitir já saber para onde a série está caminhando e promover um estímulo caso o ritmo mais devagar de alguns episódios desanime.

A construção de seus personagens também é impecável. Bloodline renega qualquer maniqueísmo que possa existir e transforma seus personagens em figuras cheias de acertos e erros. Tem virado clichê usar este argumento, mas é a melhor forma de definir: Não existem mocinhos ou vilões. Claro que, eventualmente, os papéis começam a se delinear melhor (especialmente perto da reta final), mas todos passam por momentos de glória e condenação durante os 13 episódios da temporada.

ben-mendelsohn

O elenco também está afiadíssimo. Kyle Chandler e Ben Mendelsohn são os grandes nomes. Representando praticamente os dois pólos opostos da família, os atores conseguem transformar todas as cenas de John e Danny em um espetáculo a parte e eu vou me surpreender se ao menos Chandler não aparecer na lista de indicações ao Emmy (nos 3 episódios finais, sua atuação é arrebatadora). Na ala feminina, Linda Cardellini constrói a personagem mais carismática da história e Chloe Sevigny, no pouco que aparece, também rouba a cena.

Claro, existem falhas. Alguns personagens e tramas não funcionam e outros poderiam ser melhor explorados, mas no saldo final, são pequenos detalhes perto do que Bloodline apresenta. O season finale poderia muito bem ter sido um ótimo series finale para uma minissérie, se excluídos os minutos finais, onde a série criou um gancho para uma segunda temporada (já confirmada pela Netflix para ir ao ar em 2016).

Ter sido lançada no esquema clássico do serviço de streaming (toda os 13 episódios da temporada disponibilizados de vez) mostrou-se uma ótima escolha, mais uma vez. Sem pressão de audiência por respostas imediatas, os roteiristas tiveram tempo e espaço para construir os grandes acontecimentos e mistérios da história com calma e a despeito de qualquer episódio lento, a espera vale muito a pena.

Apaixone-se você também pelos Rayburn. Mas atenção: Antes de dar o play, prepara-se para um forte mergulho no que a alma humana tem de mais fundo – e, às vezes, mais sujo.

PS. A trilha sonora também é um espetáculo, especialmente a abertura:


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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