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Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Capitu

Por: em 29 de junho de 2016

Capitu

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers leves,

nada que estrague a série ou a sua experiência.

Dizem por aí, mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza.  

Dom Casmurro

Quem nunca estudou sobre o livro Dom Casmurro, do Machado de Assis, na escola, seja para fazer o Enem, seja para ganhar alguns pontinhos em Literatura? Considerado um clássico da literatura brasileira e conhecido internacionalmente, o livro traz aquele questionamento: será que todo narrador é confiável?

Na semana passada (mais precisamente no dia 21/06) comemoramos o 177º aniversário desse escritor maravilhoso e como uma homenagem (só um pouquinho atrasada), irei falar sobre a adaptação do seu livro de maior sucesso!

Capitu

Capitu foi uma minissérie brasileira exibida pelo canal Globo lá no finalzinho de 2008 e é composta por 5 capítulos. Escrita por Euclydes Marinho, Daniel Piza, Luís Alberto de Abreu e Edna Palatnik, a obra foi uma homenagem ao Machado de Assis pelo centenário de sua morte. O mais legal é que a minissérie fazia parte do Projeto Quadrante, que adaptava os livros brasileiros para as telonas. Infelizmente o projeto foi interrompido pela baixa audiência.

A história é dividida em duas fases (passado e presente) e segue a vida de Bento Santiago, que após perder um irmão, sua mãe Dona Glória, promete que o tornará um padre. Mesmo odiando a ideia, o jovem vai para o seminário estudar e lá conhece o seu mais novo amigo, Ezequiel Escobar. Um dos motivos, quer dizer, o motivo mais válido para Bentinho não querer ir estudar, é porque ele estava apaixonado pela sua vizinha e melhor amiga, Capitolina Pádua, mais conhecida como Capitu, a dona dos olhos de cigana oblíqua e dissimulada.

Eu amava Capitu! Capitu amava-me! E as minhas pernas andavam, desandavam, estacavam, trêmulas e crentes de abarcar o mundo.

Capitu

Após deixar o seminário, Bento vai estudar fora, se formando em Direito e consegue satisfazer o seu maior desejo: se casar com a dona dos olhos de ressaca, sendo interpretada pela belíssima Maria Fernanda Cândido. Já Escobar se torna um comerciante e se casa com uma amiga de infância de Capitu, Sancha Gurgel, com quem tem uma filha chamada Capituzinha. Todos viviam felizes em suas respectivas famílias, até que dois anos depois, o protagonista e sua mulher tiveram um filho, o qual levou o nome de Ezequiel.

A amizade entre Capitu e Escobar vai crescendo e gerando uma grande desconfiança em Bentinho, que aumenta ainda mais quando descobre que Escobar morreu afogado em um mar revolto. É a partir disso que toda a sanidade dele vai por água abaixo.

Capitu

No enterro de Escobar, o protagonista nota que Capitu chora muito e olha para o defunto de um jeito diferente. Toda aquela tristeza que ela estava sentindo era estranha para ele. Ele também começou a enxergar uma certa semelhança na aparência de seu filho com a de seu melhor amigo. Tudo isso criou um grande ciúmes, fazendo com que sua relação com Capitu acabasse, afinal ele estava acusando sua esposa de traição. Capitu e Ezequiel, cansados de serem ignorados, se mudam para a Suíça e anos mais tarde, ela morre e seu filho volta para o Rio de Janeiro para ficar por seis meses. Porém, durante uma viagem ao Egito, Ezequiel acaba morrendo por febre tifoide.

O apelido Dom Casmurro começou a fazer todo sentido, já que conforme os anos vão passando, Santiago vira um velho ranzinza, solitário e melancólico. Ele, agora, vivia sozinho em uma casa idêntica a casa de sua infância, sem manter contato com parentes próximos.

Foi aí que surge a principal pergunta: Capitu realmente traiu Bentinho? Ou tudo não passou de peças pregadas por sua imaginação?

Capitu

Na minha humilde opinião não houve traição. Primeiro de tudo é que nunca de fato saberíamos o que teria acontecido, já que D. Casmurro é quem conta toda a história e não dá espaço para nenhum outro personagem demonstrar seu ponto de vista. Todo lugar é visto sobre os olhos dele e, talvez, os personagens teriam outras características, se a história fosse imparcial. E segundo, todas as provas que ele dá para o público são duvidosas, seu filho, segundo outros personagens, era apenas parecido com Escobar na personalidade, mas fisicamente só ele enxergava e mesmo assim, Capitu sempre foi comparada com a mãe de Sancha, mesmo sem haver parentesco. Eu também tenho uma teoria meio maluca: eu realmente acho que Dom Casmurro era apaixonado por Escobar!!!

A minissérie, que mais se parece com uma encenação, é contada por Bento já adulto, que recorda os fatos de seu passado e mostra como tudo isso afetou a sua vida. E para você que gosta da quebra da quarta parede, tal como Mr. Robot, Capitu não fica para trás.

Apesar de a história se passar no século XIX, o cenário – que por acaso é igual a um teatro e foi encenado no Automóvel Club do Brasil, um palácio abandonado – e figurino são contemporâneos que se misturam com alguns detalhes mais antigos, como por exemplo a abertura, na qual é um conjunto de imagens do século XIX e XXI.

Já a ambientação fica localizada no Rio de Janeiro e os muros pichados dão um complemento a mais nas cenas. A narração de Michel Melamed – que teve que emagrecer 20 quilos para dar viva ao Bento adulto! – é maravilhosa e são citadas diversas frases do livro, tornando tudo melhor ainda.

Capitu

Não posso esquecer de elogiar todo o elenco. Ainda tento descobrir como puderam escolher duas atrizes que conseguiram captar tão bem a essência da Capitolina. Parabéns a Letícia Persiles (interpretando a Capitu mais jovem) e a Maria Fernanda Cândido, dá para perceber que elas nasceram para interpretar a personagem quando seus olhares diziam mais que muitas palavras.

Capitu é uma prova que nosso país é capaz de criar adaptações espetaculares e que saem da zona de conforto ao qual os telespectadores estão acostumados a assistir. Tanto o cenário, figurino e trilha sonora são modernos e mostram que a obra de Machado de Assis é atemporal e pode ser entendida por todos, além de trazerem uma metáfora da vida, que o autor sempre colocava em seus livros.

A minissérie não tenta ser melhor que o livro, ao contrário, é mantido o texto original. Ela é apenas uma forma de dialogar com o público de uma forma mais divertida e contemporânea e posso dizer sem medo, foi a melhor adaptação da Globo.

Confira abaixo um vídeo lindo ao som da música tema Elephant Gun, do Beirut, com imagens da série:

E sabe o que é melhor disso tudo? Alguns capítulos estão disponíveis no Youtube!

 


Karine Medeiros

Futura jornalista. Mora em uma cidade desconhecida. Apaixonada por séries. Cinéfila e bookaholic. Sonha em um dia morar em Nova Iorque. O que ama mais do que tudo isso? Comer e dormir.

Votorantim / SP

Série Favorita: Friends

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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