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Maratona Friday Night Lights – 1ª temporada

Por: em 6 de outubro de 2015

Maratona Friday Night Lights – 1ª temporada

Por: em

Foram quase quatro anos de insistência para que eu finalmente pegasse essa série, decidindo que enfim era o momento de assistir (claro que não sem um belo empurrão de receber o box da primeira temporada por correio, né?). E agora que eu vejo quanto tempo perdi. Um drama simples, quase cru, e completamente convincente. Tudo que se passa nos arredores de Dillon é tão verossímil que a identificação é quase que instantânea: uma hora ou outra, você vai se ver vivendo os problemas daqueles personagens.

Maratona - FNL - Primeira Temporada

Nessa primeira temporada, vemos basicamente a construção de cada uma das figuras que vão dar forma para o drama nos próximos anos, todos eles liderados com maestria pela interpretação de Kyle Chandler e Connie Britton – os poucos adultos relevantes na série. Mas se engana quem pensa que essa é mais uma série adolescente, porque ela vai bem além disso, graças ao bom trabalho de Jason Katims na produção (também responsável por Parenthood). Claro que aqui não nos cabe citar episódio por episódio, mas o piloto da série merece um destaque especial.

Particularmente, tenho uma regra de tentar ser convencido a continuar na série por 3 episódios. FNL me ganhou em 40 minutos. As cenas são muito fortes desde o começo e não tem como você não se deixar levar pela história daquele time de futebol americano que acabou de perder a sua maior estrela. Um dos momentos mais bonitos vem logo depois da tragédia, quando após o jogo, o time inteiro se reúne no centro do campo e faz uma oração por Jason Street. O voiceover do Coach Taylor enquanto as cenas do hospital se constroem também é digno de destaque:

Que tudo de nós esteja aqui esta noite para nos lembrar o quão frágil é a vida. Nós somos muito vulneráveis, e todos nós vamos, em algum momento das nossas vidas… cair. Todos vamos desmoronar. Temos que ter isso em nossos corações… que temos algo especial em nossas vidas. E isso será tirado de nós em algum momento, e quando isso acontecer, estaremos sendo testados. Seremos testados até o mais íntimo de nossas almas. E quando isso acontece, é essa dor que nos permite que nos conheçamos melhor.

Sim. Tome essa porrada comigo e vamos dar uma olhada na trajetória geral dos personagens:

 

Quaterback por um minuto, seu novo mundo de descobertas e um relacionamento destruído

Maratona - FNL - Primeira Temporada

E já que falamos no acidente, trabalhemos com Jason Street, um dos mais interessantes até aqui. De quaterback a paraplégico, sua trajetória é uma verdadeira montanha russa. Street se joga em sonhos rasos e acaba dando de cara na areia ao descobrir que a vida continua, seja qual for o momento que você está passando. E olha que esse cara teve de aguentar maus bocados. Da traição da namorada a tentativa de se reerguer, passou por momentos decisivos. Passou a encarar sua situação de maneira digna e ter menos pena de si mesmo, mas levou outra porrada ao não entrar no time de rúgbi. Tudo o encaminhando para o que sempre fora a sua verdadeira missão: continuar como uma parte importante daquele time, que sempre fora sua casa.

Gosto também do dilema ético que colocam o personagem quando ele precisa processar o técnico para tentar tirar alguma coisa da sua desgraça. As cenas que Street e Taylor compartilham nesse momento são das sequências mais intensas na série, valendo bastante para os dois personagens. Quanto a Lyla, ela teve seus percalços também. Com a vida inteira planejada, a líder de torcida viu seu mundo cair com o acidente do namorado, fazendo com que repensasse se tudo que tinha planejado era ainda era realmente possível. Sua atitude impensada ao se jogar nos braços de Riggins não cabem a julgamentos – são momentos como esse que mostram como qualquer pessoa é capaz de demonstrar fraquezas – e foi um de seus momentos mais brilhantes na série, com um choro vazio nos braços daquele que perdera os sonhos junto com o melhor amigo.

Lyla também teve de lidar com a família se desmoronando, seguido de um divórcio traumático dos pais, situação que é potencializada em uma cidade onde todos parecem saber da vida dos outros. Tá que seu pai é um canalha sem precedentes, então não fica muito difícil saber que lado tomar. Ainda sobre a garota, vale citar que ela quase não se aproxima de outros núcleos da série, vivendo sozinha ou com Street por toda a temporada. Gostei muito quando o roteiro do season finale flerta uma possível amizade entre ela e Tyra (uma das minhas favoritas), o que pode ser muito bom para a segunda temporada.

 

Riggins: a representação do medo de ser bom

Maratona - FNL - Primeira Temporada

No contrapasso da evolução, chegamos a Tim Riggins, o personagem mais interessante da série. Riggins parece ter uma vontade absurda de fracassar, quando o seu potencial é exatamente para o contrário. Descobrimos que sua personalidade destruidora vem de problemas parentais mal resolvidos e quando visitados, não geram momentos bons. Seu envolvimento com Beau, o pequeno vizinho, é um dos grandes destaques da temporada, por demonstrar a maior pureza do personagem.

Claro que tudo isso acabou com o envolvimento com a mãe do garoto, mas ainda assim é válido citar os sentimentos verdadeiros que estavam aflorando no garoto. Gosto também de sua restrita interação com Tyra, um flerte de relacionamento que pode dar muito certo ou acabar com os dois. Mas o que mais me fez falta foi de ver sua amizade com Street voltar ao que era antes (se ainda for possível). Por isso um dos meus momentos favoritos é quando Riggins, Saracen, Smash e Street se reúnem no campo antes das finais e curtem alguns momentos juntos – esse é o verdadeiro símbolo da união do Panthers e definitivamente precisa ser mais explorado.

 

Smash e o excesso de confiança

Maratona - FNL - Primeira Temporada

E já que estamos falando de Smash, vale citar que seu maior momento chega quando a série trata do preconceito racial de uma forma bem mais bruta do que eu poderia imaginar ver em tela. Apesar de eu não gostar da maneira que as coisas são resolvidas sem diálogos problemáticos e intensos, vale apontar a participação do personagem na discussão tão polêmica. Depois disso, são poucos os seus momentos de destaque, talvez passando pelo debate no uso de esteroides na alavancagem de performance e o seu relacionamento com uma garota bipolar, esta pouquíssimo explorada.

 

Saracen: a sombra daquele que substituiu o herói

Maratona - FNL - Primeira Temporada

Matt é um dos destaques da série por ter uma personalidade facilmente identificável. Quando conhecemos o garoto, ele está em seu momento mais decisivo. Aquele que tinha como herói cai diante do público. Substituir àquele que todos amam era seu maior desafio e o começo foi, no mínimo, tortuoso. As habilidades não eram natas do garoto, tiveram que ser desenvolvidas. Mas não podemos falar que faltou vontade em algum momento – ele se levou aos limites, mesmo com tudo que existia na sua vida. Chego a ficar um pouco inconformado com a maneira que o pai o trata, tendo uma dependência maior de estar perto da guerra do que da família.

A situação também não é fácil quando falamos da sua única parente: a avó. Já não mais nos seus melhores dias, ela exige uma dedicação quase que impossível de um garoto de 16 anos – que mesmo assim abre mão de sua juventude para ajudar aquela que o criou. Gosto muito dos momentos ternos entre os dois e de como ela, mesmo que esquisitamente, se faz presente nas ocasiões importantes da vida do neto. E é por tudo isso que, quando sucede, todos ficamos com aquele sorriso no rosto e a certeza de que estavamos torcendo pela pessoa certa. Nosso QB conseguiu mostrar seu valor.

A única dúvida que não tenho é que Julie e Saracen vão terminar juntos. Um casal bem morno que mostra as descobertas de um relacionamento jovem, trazendo debates que soam até meio estranhos aos ouvidos dos mais modernos. Curto muito a maneira cuidadosa que os dois se aproximaram e o estranhamento íntimo do QB com o pai da garota – que o vê como filho e inimigo ao mesmo tempo.

 

A estrutura familiar fundamentada dos Taylors

Maratona - FNL - Primeira Temporada

E nessa mistura de elenco jovem, dois grandes âncoras seguram o drama como ninguém: Kyle Chandler e Connie Britton. As fundações da série se estabelecem nessa família quase impassível de problemas e, quando estes teimam em aparecer, uma conversa parece ser o suficiente para resolver tudo. É impossível não se deixar levar pela paixão que o técnico tem pelo futebol ou o amor com que sua mulher trata os alunos da escola. De verdade, você se apega assim, fácil. São tantos os momentos marcantes, mas aponto o mais recente deles na minha mente, quando Tami conta que está grávida – uma incredulidade seguida de felicidade, que faz com que você acredite que aquele casal é capaz de sustentar qualquer situação de fato.

Sendo o líder do elenco, o técnico participa ativamente da vida de seus meninos – sendo extremamente requisitado pelas famílias (o que eu achei bem estranho). E apesar de assumir esse papel paterno na vida de tanta gente, Taylor não falha com sua filha – apesar de ela ser extremamente mimada e difícil de engolir (talvez pelo pouco carisma da atriz). Tami também faz isso com os alunos, em especial com Tyra, que tem pouco destaque na temporada (um ponto alto com o ataque sexual que sofre, ainda pouco desenvolvido). E agora a vida dessa família muda toda de novo, com o novo trabalho do técnico, a permanência da família em Dillon e a chegada do novo bebê.

 


Basicamente, uma temporada quase impecável, que fundamenta bem seus personagens e conta uma história simples e crível – vale destacar o estilo de filmagem, quase caseiro, que pode parecer um pouco estranho a primeira vista, mas que se torna mais normal ao passar dos episódios. Que venha o segundo ano, que já começa com minhas expectativas baixíssimas, visto que é temporada de greve dos roteiristas. Olhos abertos, corações cheios, não podemos perder. Até o próximo encontro no dia 27 de outubro!


Leandro Lemella

Caiçara, viciado em cultura pop e uns papo bobo. No mundo das séries, vai do fútil ao complicado, passando por comédias com risada de fundo e dramas heroicos mal compreendidos.

Santos/SP

Série Favorita: Arrow

Não assiste de jeito nenhum: The Walking Dead

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