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Dia da Consciência Negra: as black sitcoms

Por: em 20 de novembro de 2011

Dia da Consciência Negra: as black sitcoms

Por: em

O elenco da série Fresh Prince of Bel-Air

“Dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. Em 1971, o poeta, professor e pesquisador gaúcho Oliveira Silveira, um dos fundadores do Grupo Palmares, propôs uma data que comemorasse a tomada de consciência da comunidade negra sobre seu valor e sua contribuição no país. O dia 20 de novembro foi escolhido por ser o provável dia da morte de Zumbi dos Palmares, o último líder do Quilombo dos Palmares, assassinado em 1695.

A presidenta da República, Dilma Rousseff, sancionou este mês a Lei 12.519, que institui nacionalmente o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado, anualmente, no dia 20 de novembro.”

(Leia o restante da explicação e blogagem coletiva sobre o dia da Consciência Negra aqui)

Mas, quem caiu agora no Apaixonados por séries, pode estar se perguntando: e o que isso tem a ver com as séries? Bom, sabemos que o racismo é um problema mundial, que é exposto quando trabalhamos com a dicotomia branco X negro. O Brasil, mesmo sendo um país miscigenado e com grande parte da população de negros, pardos e mulatos, não tem essa realidade refletida em novelas, séries na TV e filmes. Basta assistir a alguns programas para perceber que a maioria dos atores são caucasianos.

Algo semelhante acontece nos Estados Unidos, o berço da maioria das séries que nós, seriadores, costumamos assistir. Mas lá, ao contrário daqui, poucas vezes temos personagens brancos e negros com a mesma importância para o enredo ou negros em posições de destaque, como diretores e presidentes (fizemos uma lista pequena no ano passado). A exceção, baseada somente em observações minhas (e ficaria muito feliz se os leitores apontassem outros seriados do tipo), são as séries de Shonda Rhimes (criadora de Grey’s Anatomy e Private Practice), onde os afro-descendentes são muito mais do que somente os casos da semana, com mais de um negro como personagem fixo.

O elenco principal no começo de Grey’s Anatomy

Nos Estados Unidos também tem as black sitcoms, que são séries de comédia que duram 20 minutos com um elenco afro-descendente ou um afro-americano como protagonista. Elas existem desde os anos 1950, no início da televisão, mas teve o seu auge nos anos 1990, com a série Fresh Prince of Bel-Air (Um Maluco no Pedaço, como nomeou o SBT) como um dos maiores sucessos do gênero no Brasil.

Segundo a Wikipedia, as redes de televisão americanas são criticadas pela National Association for the Advancement of Colored People (NAACP) por não retratarem a diversidade étnica do mundo real nas séries dramáticas. É um assunto complicado, pois as pesquisas mostram que dramas com temas e elenco não-caucasianos não têm retorno suficiente para permanecerem no horário nobre das redes. Porém, a os negros representam mais de 20% dos telespectadores.

Enquanto isso, as black sitcoms frequentemente estão entre os 10 programas de maior audiência dos canais, mas têm pouco sucesso entre o público branco, que alegam que não entendem o tipo de humor afro-americanos. As sitcoms do ator Bill Cosby foram as que abriram as portas para um humor facilmente transitável entre estes dois públicos, embora também tenha contribuído para a formação do estereótipo de personagens negros (aqueles que falam meio cantado, meio malandro, em uma linguagem menos formal, sempre pontuando as frases com a mão na cintura e balançando a cabeça ao estilo Fat Family).

Os críticos dizem que os negros não são bem retratados nas black sitcoms, sendo somente uma “família negra com valores caucasianos” e falhando ao não retratar a cultura negra. Podemos ver este exemplo em séries como My Wife and Kids (Eu, a patroa e as crianças, no Brasil). Convenhamos, não faz diferença a etnia da família, os Kyle nunca (ou muito raramente) sofriam discriminação por serem negros – algo que é recorrente na vida de um afro-americano – e todos os seus problemas podiam ser comuns a qualquer família, como brigas entre irmãos, gravidez na adolescência, etc. Não que isso em si seja ruim; só que estão retratando uma família de classe média como qualquer outra e falta essa crítica social tão presente na vida de quem é discriminado.

A família Kyle, de My Wife and Kids

Em outra série mais recente, State of Georgia (confira as nossas primeiras impressões da série), temos uma garota (a Georgia do título) tentando ser atriz na cidade grande, enquanto vive no luxuoso duplex da tia, também negra. Em nenhum momento da primeira temporada ela sofreu algum tipo de discriminação por ser negra e só não consegue o papel dos sonhos porque o Universo conspira contra ela. Mas em uma televisão (e cinema) onde personagens negros são escassos, os roteiristas tinham a responsabilidade colocar uma crítica ao seu próprio ambiente e mostrar que não é a cor da pele que determina a qualidade de um ator.

O exemplo menos controverso é a já citada Fresh Prince of Bel-Air. A família do Will (Will Smith) era rica, mas eles constantemente eram lembrados que eram negros e mostrava o racismo que sofriam, mesmo estando no topo da pirâmide social. O Tio Phil (James Avery) era um advogado de sucesso que às vezes tinha seus valores e ética questionados por não ser caucasiano; em outro episódio, Will e o primo Carlton (Alfonso Ribeiro) sofreram discriminação por parte de policiais por serem negros e estarem dirigindo muito devagar um carro de luxo.

Saindo do mundo dos ricos e luxuosos, temos a ótima Everybody Hates Chris, que mostra como foi a pobre infância do comediante Chris Rock vivendo em Brooklyn, os perrengues que os pais passavam para criar os filhos e a constante discriminação por ser o único negro da escola. Enquanto Fresh Prince apelava para o drama para conscientizar o telespectador do racismo, Everybody Hates Chris faz piada de todas estas situações e chega a colocar uma professora que “privilegia” o personagem principal por achar que a família dele é paupérrima só porque ele é negro.

Acerola e Laranjinha, protagonistas da série brasileira Cidade dos Homens

Para ser justa, o Brasil recente também deu destaque aos negros em suas séries, mesmo que não sejam no formato sitcom. Entre 2002 e 2005, tivemos a exibição do seriado Cidade dos Homens, que contava a vida dos adolescentes Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha) que, além de passarem pelos problemas típicos da idade, também conviviam com os problemas de favelas no Rio de Janeiro, como o tráfico de drogas, violência e dificuldades financeiras. Cidade dos Homens pode ser considerado uma extensão do ótimo filme Cidade de Deus, por ter sido baseado no mesmo livro de Paulo Lins (homônimo à produção cinematográfica), e por terem uma estrutura narrativa bem parecida.

Pessoalmente acredito que ter séries com vários personagens negros (e hispânicos e asiáticos, só para constar) ou com o elenco principal afro-descendente é algo positivo. Pelo menos, não estão tentando esconder que o país não é feito somente de caucasianos, ignorando a diversidade de etnias que convivemos no dia a dia e pode ajudar a diminuir o preconceito que sofrem só porque são de uma cor diferente. Para as minorias, é importante se ver e se sentir representado na telinha (e telona do cinema), ser incluso na sociedade como o cidadão que é.


Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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