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Dia de combate à violência contra a mulher: assédio sexual em Pan Am

Por: em 25 de novembro de 2011

Dia de combate à violência contra a mulher: assédio sexual em Pan Am

Por: em

Em um dos episódios de Pan Am, a comissária de bordo Maggie passa por uma situação constrangedora (para dizer o mínimo) com um dos passageiros da companhia aérea. A descrição da cena eu retirei da review do Caio (que pode ser lida na íntegra aqui):

“Christina Ricci recebeu um pouco mais de atenção nesse episódio, mas a série ainda mantém Maggie no escuro e espero que isso seja por um motivo. O fato é que não se mexe com Maggie Ryan. Cedo ou tarde a série teria que mostrar um plot com um passageiro dando em cima de uma aeromoça de forma mais agressiva. E escolheu a pior. A comissária de bordo é forte e sabe se impor. Maggie é uma leoa indomável e Christina Ricci sabe passar isso. Aliás, a cena em que ela espeta o garfo no passageiro foi uma das minhas preferidas. “I am not included in the price of your ticket”, disse Maggie. E não posso mentir, amo ver Ricci em cena e qualquer momento dela consegue chamar atenção. Ela tem presença. Mas foi com essa pequena parte que Pan Am trabalhou rapidamente com algo importante.

A companhia diz que as aeromoças estão lá para servi-los como bem quiserem. Elas devem sorrir, ter menos de 32 anos, um peso ideal – outra cena que Ricci brilhou, ao confrontar a mulher da checagem das aeromoças –. Elas precisam ser perfeitas. E Maggie sabe fazer isso. Mas com certos passageiros, passa-se uma imagem errada. Ele era homem, dono das mulheres, dono de si, cliente que pagou pelo serviço. O abuso está claro, mas claro para quem? Reportar o acidente que foi apenas em defesa de sua própria integridade, custaria o emprego de Maggie. Então o co-piloto Ted precisou usar a verdade dos negócios:o cliente tem sempre razão. Com isso, ele estragou a amizade de Maggie. A verdade é: Pan Am mostra as mulheres ganhando espaço, mas nunca da forma mais fácil.”

Hoje, dia internacional do combate à violência contra a mulher, percebemos que nem tudo mudou dos anos 1960 para cá. Mas primeiro, preciso esclarecer um conceito: a violência contra a mulher não é somente a violência física, como os casos em que maridos espancam as esposas ou estupro (tratei desse tema no ano passado). A violência também se dá em humilhar as mulheres somente por serem mulheres. No caso de Pan Am, por achar que, como as comissárias têm que passar a imagem de “perfeitas”, se possa fazer o que bem entender com elas, esquecendo que elas são seres humanos e merecem respeito.

Infelizmente, o que aconteceu com a Maggie continua acontecendo com milhares de mulheres em todo o mundo, sendo algo até comum de se ver em profissões em que é preciso lidar com o público. Por terem que lidar com clientes homens (por “clientes” entenda qualquer um que vá contratar o seu serviço, como acontece em agências de publicidade, por exemplo), ainda tem muitas mulheres que se submetem ao abuso de poder e autoridade para não perder aquele trabalho fantástico que é bom para a empresa. A maioria não chega a se transformar em uma prostituta, mas tolera charminhos, insinuações e outros tipos de assédios somente para não se indispôr com o cliente.

O elenco principal de Pan Am

Embora muitos pensem que isso faz parte do trabalho, saibam que não faz. Prestadores de serviço têm que ser educados e respeitar o cliente e o mesmo tem que ser feito da parte dele. Qualquer avanço não solicitado é considerado assédio (moral ou sexual) e a mulher pode e deve se defender e denunciar.

Casos mais recentes e com maior divulgação da imprensa e que mostram o quanto o pensamento do passageiro do avião permanece até hoje foram as denúncias de assédio sexual nos metrôs de São Paulo. Com qual direito os homens acham que têm para “encoxarem” e passarem a mão nas passageiras do metrô, que só querem ir ou voltar para a casa/trabalho sem serem incomodadas? É o mesmo tipo de direito e abuso que o cliente do exemplo acima acha que tem para com a funcionária: só porque é uma mulher que está ali, acha que ela tem o dever de servi-lo como ele bem entender. Isso é violência contra a mulher.

Voltando a Pan Am, a atitude do Ted não foi nada louvável e, de novo, engana-se quem pensa que isto ficou no passado. “O cliente sempre tem razão” às custas da integridade de uma mulher, que se irritou com as cantadas baratas ou investidas do mesmo, é mais frequente do que a gente imagina. Dizem que não vale a pena denunciar ou se estressar por ter sido “elogiada”, mesmo quando você não gostou do tal do “elogio” e ele passou dos limites do que você considera respeito.

Por estas razões, a atitude da Maggie é extremamente admirável. O nosso mundo é um pouco mais justo do que o dela, mas ainda estamos conquistando o nosso espaço e também não é da forma mais fácil. Nós (como humanidade) precisamos denunciar quando abusos acontecem no ambiente de trabalho e familiar, precisamos nos impôr e intervir quando presenciarmos cenas de assédio no transporte (em casa, na rua…), precisamos aprender e ensinar que a nossa liberdade termina onde começa a do outro e temos que respeitar as pessoas como seres humanos. Que não é certo um homem passar a mão em uma mulher só porque ela está de roupa curta ou só porque é uma mulher sozinha (ou seja, sem um homem/namorado por perto para bater no assediador). Que a roupa curta ou mulher bêbada não é um convite para o estupro. Que precisamos defender a nossa integridade e denunciar quando sofremos abuso, que não podemos nos esconder e nos humilhar somente para o “bem da empresa” (que, convenhamos, não vai pensar duas vezes antes de te demitir em uma fase de corte de custos).

E não podemos esquecer que, embora as mulheres já tenham conquistado muitos direitos, ainda temos um longo caminho para a igualdade de gêneros.

Este post faz parte da blogagem coletiva do fim da violência contra a mulher. Participem!


Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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