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O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial

Por: em 21 de março de 2013

Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial

Por: em

Este post faz parte da Blogagem Coletiva: Dia Internacional Pela Eliminação da Discriminação Racial, organizada pelas Blogueiras Negras.

Em 21 de março de cada ano, a ONU relembra o triste episódio de 1960, quando dezenas de manifestantes pacíficos foram mortos a tiros pela polícia no município sul-africano de Sharpeville, quando eles protestavam contra o apartheid.
Fonte ONU

Em memória aos militantes negros que morreram lutando, essa data foi instituída pela ONU. Essa data, como outras lembradas pelo Movimento Negro não é mais uma data festiva, muito pelo contrário: com a instituição dessa data, temos no calendário um dia garantido, com a atenção voltada às lutas dos povos negros contra a opressão e a discriminação racial.”

T-Dog em The Walking Dead

O dia de hoje parece ser uma data nada relacionada com as nossas séries queridas, mas na verdade, elas nada mais são do que uma vitrine de um mundo em que muitas vezes parece que os negros não existem. Como um dos maiores produtos culturais da nossa época, as séries refletem a sociedade em que vivemos, a que os produtores vivem e, em outros momentos, a sociedade em que queremos viver.

Explicando melhor: quantas vezes nós olhamos para o elenco principal em uma série e percebemos que todos os personagens principais são brancos? Mais precisamente, atores que se encaixam no que chamamos de WASPs (White Anglo-Saxon Protestant ou branco, anglo-saxão e protestante, um reflexo do grupo mais poderoso e endinheirado dos Estados Unidos). Por experiência própria, posso dizer que quase nunca reparamos nisso, a não ser quando há algum representante de minoria ali, seja ele negro, latino, indiano ou asiático – e estes ficam somente em Japão, Coreia do Sul e China.

Embora quase nunca pensamos nisso, é problemático que aceitemos com tanta naturalidade que as séries só contem as histórias de uma parcela da população, a dominante e privilegiada, e esconda de suas obras a diversidade étnica que vive em um país como os EUA. Falei no Dia da Consciência Negra do ano passado a importância que foi a presença do T-Dog (The Walking Dead) [SPOILERS] até a terceira temporada e como as reações sobre a morte do personagem são significativas para mostrar que ainda existe muito racismo velado. [/fim dos SPOILERS]

A representatividade de etnias (e dos negros em especial, que compõem uma parcela significativa da população americana) é importante para retratar a sociedade em que estão inseridas – no caso, estou focando nos Estados Unidos porque é onde são produzidas a maioria das séries que assistimos – e para incluir as minorias e seus pontos de vista nestas tramas. Não basta colocar um personagem negro e ignorar os preconceitos e problemas que ele tem em seu cotidiano por não ser caucasiano; o nome disso é whitewashing, termo que tb é aplicado quando um personagem originalmente é de outra etnia e colocam um ator branco para interpretá-lo.

Elenco de Everybody Hates Chris

Deixo para o tumblr Stop Whitewashing explicar o porque disso ser importante (com grifos meus).

Por que isso é um problema?
O ato não somente é ofensivo e racista, mas é um grande desserviço aos espectadores de todas as etnias – etnias que nunca tiveram muita representação e muito menos uma representação de verdade em filmes, livros, quadrinhos, etc. Todo mundo gosta de ver alguém que parece com eles na mídia e não ver somente pessoas brancas o tempo todo. Também é injusto com atores não caucasianos porque nunca recebem o papel principal e seu talento é desperdiçado.

Mas se eles atuam bem, por que importa a etnia deles?
Leia “Por que isso é um problema?” de novo. Esse argumento funcionaria se todas as etnias fossem igualmente representadas na mídia, para começar; se o diretor de elenco considerasse todas as etnias para todos os papéis. Porém, a maioria dos castings terminam selecionando atores brancos para a maioria dos papéis e talvez um ator de cor de vez em quando. Então quando um caucasiano é selecionado para um papel escrito para uma pessoa de cor, é mais problemático.”

Por isso, as críticas feitas a Girls são significativas. Hannah fala no primeiro episódio que deseja ser “a voz de uma geração” e estes sentimentos se confundem e conversam com os de sua intérprete e criadora, Lena Dunham, frequentemente criticada pela falta de diversidade na série e por declarações racistas. Não é aceitável que a voz de uma geração jovem nos dias de hoje seja a mesma da geração dos nossos pais, mais uma vez expressando somente os desejos e angústias de uma pessoa de uma elite. Como resposta, Lena escalou Donald Glover (Community) para ser o namorado de Hannah em alguns episódios, mas as falas do personagem pareceram mais uma provocação a quem a criticou do que vontade de melhorar o próprio programa.

Não podemos esquecer que existem as black sitcoms, seriados de comédia com elenco afro-descendente nos papéis principais e voltados para este público. Porém, uma reclamação comum é que elas estão sofrendo de whitewashing por falarem somente de assuntos que qualquer família enfrenta, esquecendo dos problemas específicos de ser um negro nos dias de hoje. Isso porque estas séries estão adaptando seu conteúdo para o público branco e, assim, esperam expandir sua audiência. Se, por um lado, é sempre bom aumentar o seu público, ter mais visibilidade e espaço, por outro, não ganhamos nada adaptando as nossas tramas às dos dominantes. Não é escondendo o racismo existente que as coisas vão mudar.

Com mais histórias e outros pontos de vista a serem contados (seja na forma de drama ou de comédia), as séries só têm a ganhar. E quem sabe, a diminuição e eliminação do preconceito racial não começa aqui?


Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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